Alessandro Raposo*
Nos últimos 30 anos, observamos um amplo processo de digitalização no Brasil e no mundo todo, no qual a tecnologia e a conectividade permitiram avanços nos mais diversos campos da atividade humana. E não é diferente para a indústria financeira e os meios de pagamentos, que vem se transformando e mudando a forma como enviamos e recebemos dinheiro. Os volumes de pagamentos feitos de maneira online deverão aumentar em mais de 80% até 2025, com as transações passando de cerca de um trilhão para quase 1,9 trilhão por ano, sendo que até 2030, o montante deverá triplicar, conforme a PwC Brasil.
Neste panorama, diferentes tecnologias aparecem como catalisadoras dessas mudanças. Os smartphones, por exemplo, amplamente utilizados nos dias atuais, oferecem diferentes possibilidades de interação e conexão – seja entre pessoas ou de indivíduos com empresas, produtos e serviços; seja com quem está próximo ou, ainda, com quem está do outro lado do planeta. Estas tecnologias incluem ainda smartwatch entre outros dispositivos, que permitem a realização de pagamentos e operações econômicas via QRCode, criptomoedas, cartões de crédito virtuais, entre outros.
Todas estas formas de transacionar valores de maneira digital resultam em mudanças de comportamento no que diz respeito à monetização da sociedade. Hoje, já temos tecnologia e segurança suficientes, como blockchain, para adotar o que é conhecido por “cashless economy” (economia sem dinheiro, em português), ou seja, para ter uma economia com pouco uso de dinheiro em espécie.
A economia sem circulação de papel moeda oferece diversos benefícios como maior controle sobre as transações, redução do custo operacional da moeda, segurança e uma jornada financeira mais fluida. Nesse cenário temos uma economia mais dinâmica, com a circulação mais rápida do dinheiro e um ambiente mais favorável ao desenvolvimento e crescimento do país.
Cashless economy é uma economia na qual para pagamentos de produtos e serviços são usados meios digitais, e não dinheiro em espécie. Essa inovação favorece principalmente os não bancarizados a terem acesso aos pagamentos digitais, sendo que no Brasil este é um universo relevante. De acordo com o Instituto Locomotiva, no país existem 34 milhões de pessoas sem acesso aos bancos.
Na esteira desta inovação, temos várias aplicações, inclusive o Pix, queridinho de todos os brasileiros e um verdadeiro case de sucesso do Banco Central.
O Pix e o brasileiro
É verdade que o dinheiro vivo ainda é bastante utilizado pelos brasileiros, mas ele tem perdido espaço. Novos hábitos de consumo – potencializados pela pandemia do Covid-19 – que incluem principalmente as compras online e a necessidade de interação aliada ao distanciamento social, impulsionaram a diversificação dos meios de pagamentos nos últimos dois anos.
Assim, alternativas como as carteiras digitais e o Pix ganharam espaço e são importantes para atender às demandas do público, já que facilitam as transações financeiras e são soluções mais seguras, eficientes e econômicas do que a moeda em espécie.
Para se ter uma ideia da importância das soluções cashless para o brasileiro, segundo a Confederação Nacional de Dirigentes Lojistas (CNDL) e o Serviço de Proteção ao Crédito (SPC Brasil), 71% dos brasileiros ainda utilizaram o dinheiro em espécie como modalidade de pagamento durante a pandemia, entretanto já vemos um espaço significativo sendo ocupado por modalidades cashless: Pix (70%), cartão de débito (66%) e cartão de crédito (57%).
O Pix, que completará dois anos em novembro deste ano, já acumula 469 milhões de chaves cadastradas, segundo o Banco Central (BC), representando um dos principais meios de pagamento utilizados pelos consumidores. Segundo o BC, foi o modelo de pagamento instantâneo com adesão mais rápida no mundo.
Carteiras Digitais
Mas não foi só o Pix que conquistou o brasileiro, as carteiras digitais também ganharam destaque em 2021, uma vez que, em um curto espaço de tempo, devido às restrições da pandemia, muitas pessoas passaram a usar carteiras digitais para pagamentos e transferências. Nessa modalidade, o usuário consegue fazer diferentes tipos de transações apenas com o smartphone, computadores, entre outros dispositivos de pagamento, sem precisar da sua carteira física. A principal vantagem das carteiras digitais é serem aceitas em transações on e offline, além de permitirem a integração de múltiplos meios de pagamento. Segundo pesquisa da OpinioBox (2022), 35% dos brasileiros utilizam as carteiras digitais mais do que os serviços de bancos, sendo que 16% usam diariamente o recurso e 62% passaram a usá-lo com recorrência no último ano.
Pagamento sem contato
Outra tendência que veio para ficar no dia a dia do brasileiro são as tecnologias de pagamento por aproximação. Além dos cartões de crédito e débito, elas são encontradas em smartphones, pulseiras, smartwatches e adesivos que possuem esta tecnologia para realizar transações financeiras sem a necessidade do contato físico. Segundo a Associação Brasileira de Empresas de Cartões de Crédito e Serviços (ABECS), a modalidade de pagamento sem contato cresceu 469,9% no Brasil, em 2020. Foram realizados 35 milhões de pagamentos mensais por aproximação, por meio da tecnologia NFC. Número cinco vezes maior do que na comparação com 2019. A entidade projeta uma movimentação de R $3 trilhões em 2022, 21% acima de 2021.
Pagamentos via QR Code
Reafirmando a tendência de transações cashless & contactless (sem contato, em português), o número de pessoas que regularmente paga contas e compras com QR Codes deve crescer, globalmente, dos atuais 1,5 bilhão para mais de 2,2 bilhões até 2025, conforme a consultoria britânica Juniper Research, com alta liderada por alguns países, entre eles o Brasil.
De acordo com a Federação Brasileira de Bancos – FEBRABAN, ocorreu um incremento de 35% para 48% no uso dos pagamentos e transferências via QR Code no Brasil durante o segundo e terceiro trimestre de 2020. Um dos principais fatores para esse crescimento é que os pagamentos por esta modalidade têm custos baixos de viabilização em comparação com alternativas de pagamentos remotos, sem contato. Além disso, a tecnologia pode ser utilizada dentro das carteiras digitais e em outros aplicativos.
Evolução dos meios de pagamento
Todas estas tecnologias citadas são apenas alguns exemplos para a digitalização do dinheiro. Neste cenário, ainda temos outros grandes destaques, como as criptomoedas. A realidade é que novos métodos de pagamento são mais um exemplo de tendência acelerada com a pandemia, assim como o anywhere office ou o varejo digital.
E se tudo isso vai mudar o jeito como lidamos com o dinheiro (ou melhor, já está mudando), o cenário também é repleto de oportunidades para as empresas explorarem novas tecnologias para aprimorar mais e mais a jornada de compra dos seus consumidores. Mudar e facilitar a forma como os brasileiros pagam e recebem dinheiro está se tornando um diferencial competitivo para fornecer aos clientes uma experiência excepcional, envolvente, segura, contínua e sem atrito.
*Alessandro Raposo é Head de Pagamentos da Zoop