Opinião

O uso do cartão corporativo não precisa ser um “bicho papão” - Fernando Nery/Portão 3

Fernando Nery*

           Apesar das comprovadas facilidades que podem agregar para a área financeira das empresas na gestão de pagamentos e para os colaboradores em seus trabalhos externos, o uso dos cartões corporativos no Brasil ainda é extremamente baixo. E o que é pior, segue fortemente relacionado à facilidade de fraudes e, portanto, visto dentro das corporações como uma alternativa prática, mas ainda não segura.

           Fiz um breve levantamento que me mostrou que o primeiro cartão corporativo foi emitido no Brasil em 1987. Desde então, nestas mais de três décadas, só fomos capazes de emitir 12 milhões de cartões desse tipo. Colocando isso em perspectiva, o ChapGPT chegou a essa mesma base de usuários em apenas 40 dias!

           Após analisarmos a questão com diversas empresas de pequeno e grande portes, percebemos que o problema não é com o plástico. O plástico funciona muito bem. O calcanhar de Aquiles está no software. E essa questão tem crescido e se tornado um grande problema, especialmente aqui no Brasil, que, infelizmente, aparece entre os primeiros colocados na lista dos maiores fraudadores de cartões corporativos do mundo.

           Para ilustrar bem o problema, basta citar um exemplo extremamente comum não apenas aqui como em vários países: o ‘combinado’ entre passageiro e motorista de táxi na hora da emissão do recibo da corrida. Acostumados a emitir comprovantes ‘a maior’, os motoristas, quando lhes é solicitado o recibo, geralmente perguntam: “de quanto?”, deixando o passageiro à vontade para pedir o valor que quiser. Sobre tal prática há, inclusive, um levantamento realizado no Reino Unido em 2012 que aponta que um terço dos funcionários mentia sobre seus recibos para reembolso de despesas com táxi.

           E essa é somente a constatação de um ‘pequeno deslize’ comumente praticado por colaboradores que usam cartões corporativos. Eu tive acesso a casos bem mais graves, como o de um funcionário que usou o cartão para abastecer o caminhão de outra pessoa; outro que utilizou para pagar as férias em família; e um, ainda, que pagou parte das despesas de seu casamento com o cartão corporativo!

           Para evitar o desvio de recursos, os CFOs das empresas precisam rastrear todas essas operações, o que é um trabalho quase impossível de se fazer quando se tem de administrar uma carteira grande. Pensa, imagina uma empresa que opera no segmento de indústria, que tem mais em média 7.000 funcionários em todo país, é inviável contar que as pessoas seguem uma política de viagens e despesas a risca e mais ainda em um financeiro dessa empresa capaz de identificar pequenos desvios desses mais de 7 mil funcionários.

Na outra ponta, temos os colaboradores que também têm problemas com a prestação de contas, vivendo preocupados achando que podem entrar em dívida com o cartão de crédito antes de serem reembolsados. Pela minha experiência, a maioria dos funcionários é honesta, mas não confiam neles mesmos para fazer esse tipo de processo.

            De que forma, então, podemos resolver essas duas situações? A resposta está em acoplar o uso dos cartões corporativos a uma ferramenta digital robusta, capaz de administrar, de forma completa, todo o processo de gestão desses gastos, despesas e pagamentos corporativos, oferecendo maior controle e autonomia às empresas e seus colaboradores.

Como vimos, ter em mãos o total de uma fatura de cartão não evita os problemas de conciliação e fraudes da forma que os CFOs precisam e que são importantes também para que o RH consiga manter um bom ambiente de trabalho. Sendo assim, a tecnologia aparece como aliada, permitindo um processo que gera maior confiança e, ainda, é capaz de reduzir custos para as empresas. Através dela, vamos conseguir facilitar o trabalho do financeiro e, finalmente, possibilitar que o país avance no uso dos cartões corporativos de forma correta e com a lisura necessária.

*Cofundador da Portão 3