João Gustavo Pompeo*
O crescimento da concorrência entre os meios de pagamento nos últimos anos ficou tão conhecido que recebeu até mesmo um termo próprio: a chamada “guerra das maquininhas” tem obrigado as adquirentes a realizar parcerias e aquisições e implantar novidades para gerar valor entre seus clientes. As movimentações do setor indicam que a ideia principal é complementar a estrutura e oferecer soluções mais completas ao usuário, incluindo recursos como antecipação de recebíveis, pagamento por aproximação ou por QR Code, ferramentas de gestão e assim por diante.
A conclusão é que, em meio a tantas inovações no sistema financeiro, as adquirentes já entenderam que precisam correr para se manter à frente no mercado. Agora, com a implantação do Open Banking em andamento, os próximos a entrarem nesse enredo são os bancos, que também começam a se movimentar para não perder espaço.
O Open Banking é um sistema financeiro aberto: seu funcionamento implica a possibilidade de os consumidores de produtos e serviços financeiros compartilharem suas informações entre diferentes instituições autorizadas pelo Banco Central do Brasil. Dessa maneira, ao contrário do que acontece atualmente (cenário em que as instituições detém os dados dos seus clientes), haverá total autonomia dos usuários com relação às suas próprias informações. Caso eles desejem, poderão compartilhá-las com outras organizações, que, sabendo do seu histórico e relacionamento bancário, poderão fazer ofertas personalizadas — o que deve refletir em competitividade e serviços mais baratos.
Podemos afirmar, por conta disso, que o Open Banking vem para democratizar o sistema financeiro para toda a sociedade. Por outro lado, ele pode ser enfrentado como um grande desafio para os bancos, que precisarão encontrar novas formas de reter clientes e rentabilizar. Até hoje, as linhas de receita dessas corporações estavam muito atreladas ao histórico e à manutenção dos seus relacionamentos. No novo cenário, elas terão que abrir as bases de informações para seus concorrentes, correndo o risco de perder os clientes para quem tem a melhor oferta ou atendimento.
Esse movimento vai ao encontro de um panorama que vem se instalando nos últimos anos, com o nascimento de um consumidor cada vez mais alerta e ciente, aberto a novidades e não mais tão conectado a uma única instituição.
Diante disso, acredito que quem nasce digital, como as fintechs, têm mais possibilidade de sair à frente nesse mercado novo e, por enquanto, sem respostas prontas. Com suas características de startup, essas empresas são mais abertas à inovação, trabalham com agilidade e estão dispostas a errar para encontrar uma solução — flexibilidade que faz com que elas possam voar mais rápido.
No entanto, os grandes bancos também estão firmando suas estratégias para se manter na briga. A seu favor, têm o fato de serem bem capitalizados e consolidados, o que permite a aposta em boas aquisições e parcerias para agregar novos serviços e se preparar para uma oferta qualificada de acordo com dados. Não podemos dispensar essa capacidade, afinal, eles conseguiram se adaptar rapidamente ao Pix e já estão rentabilizando em cima dessa novidade, que na prática substituiu uma das suas fontes de renda, a transferência bancária.
Mas é claro que temos um caminho muito longo para que todas as novidades e seus benefícios para a sociedade efetivamente se concretizem. A realidade é que o mercado brasileiro ainda não está preparado para lidar com essas mudanças — como podemos confirmar pelo exemplo recente da Lei Geral de Proteção de Dados Pessoais (LGPD). Apesar de estar válida desde 2020, diversos prazos não foram cumpridos e as empresas estão correndo para se adaptar até hoje. No Open Banking não deve ser diferente. Esse atraso, porém, pode se transformar em uma excelente oportunidade para quem conseguir sair à frente e tomar a vanguarda nesse novo cenário — e pressão não falta, porque o tempo está correndo.
*Fundador e CEO da Eyemobile, empresa de tecnologia para vendas adquirida pela Getnet.