Opinião

Open Finance em 2022 e o que esperar de 2023

Bruno Loiola*

O ano de 2022 foi marcado pela consolidação do Open Finance. Segundo o Relatório Semestral do Open Finance, são mais de 2,7 bilhões de chamadas de API, 6,7 milhões de consentimentos ativos, 150 conglomerados participantes e 600 pessoas contribuindo diariamente com o ecossistema aberto

O Open Finance torna possível o desenvolvimento de ferramentas digitais acessíveis e desburocratizadoras. Isso, somado à digitalização do mercado financeiro e ao fato de que a maior parte da população brasileira está passando a administrar seu dinheiro de forma online, levou e continuará a levar a inovação financeira a limites que não imaginamos, com foco em solucionar dores reais enfrentadas pelos usuários.

Retrospectiva 2022

Na mentalidade do mercado, principalmente de instituições financeiras já consolidadas, o Open Finance transitou de apenas um projeto regulatório ou de uma tecnologia para uma questão estratégica. Isso se deve principalmente à efetivação de algo que costumava antes ser apenas uma possibilidade: para os incumbentes, reter os clientes atuais. Para as fintechs, abre-se uma janela de oportunidades para aumentar a base de clientes.

O regulador foi primordial para que esse novo projeto decolasse. No entanto, ainda há muita resistência, principalmente das grandes instituições financeiras, em fazer com que o projeto proporcione todos os benefícios que é capaz de prover. Ainda, para o consumidor final, ainda não estão claros os benefícios do compartilhamento de dados, nem mesmo a segurança deste projeto. Mesmo assim, muitos são os exemplos de sucesso, como o aplicativo de gestão financeira pessoal do Banco do Brasil, que é integrado ao Open Finance, o qual já conta com mais de 1 milhão de contas na plataforma ou o caso do Nubank, que utiliza os dados do ecossistema aberto para aumentar o limite de crédito.

Mas avançamos muito além do próprio criador do ecossistema aberto. O Reino Unido, apesar de ter desenvolvido e avançado com o projeto primeiro, não teve a mesma ambição do projeto brasileiro.

Estamos à frente dos ingleses, por exemplo, em escopo de dados e número de instituições participantes. Ainda assim, um dos grandes aprendizados que podemos levar do projeto europeu para 2023 é a iniciação de pagamentos. Um exemplo é a autoridade fiscal, de pagamentos e alfandegária do Reino Unido, que já movimentou mais de 1 bilhão de libras em pagamentos de impostos por meio do Open Banking. O consumidor viu claramente as vantagens de pagar suas obrigações com a iniciação de pagamentos, enquanto o governo economizou bastante em taxas para meios de pagamentos.

Além disso, hoje já existem diversas iniciativas que substituem os métodos tradicionais de pagamentos, como o Pix, que já superou o TED e o DOC, e está aos poucos criando novos modelos que podem vir a ultrapassar o uso dos cartões de crédito.

Open Banking, Open Finance… Vamos chegar ao Open Data?

O Open Data é sem dúvida o futuro que estamos aos poucos traçando. Cada pessoa produz uma quantidade imensa de dados que são usados para benefício somente de empresas como big techs, bureaus de crédito e outros data brokers. A sua “pegada” digital, toda informação que você deixa online, está sendo comercializada por aí. Os dados financeiros são somente a ponta do iceberg de dados que valem muito dinheiro.

Devemos evoluir para que as pessoas tenham mais consciência e controle sobre seus dados. A Lei Geral de Proteção de Dados (LGPD) construiu as bases legais para essa troca de informações e o próximo passo é colocá-la em prática. Ou seja, permitir que cada pessoa possa controlar suas informações e privacidade.

Setores que prometem uma revolução de dados

O setor de crédito é sem dúvida onde já vemos melhoras significativas com base no Open Finance. Conceder ou não crédito, desde os tempos dos sumérios, depende somente da confiança. O que muda é como essa é validada. Hoje, ela é construída com dados e informações. O comportamento financeiro de uma pessoa, extraído dos dados do Open finance, dizem muito mais sobre as pessoas do que informações de um bureau de crédito, por exemplo. A assimetria informacional que hoje existe está diminuindo graças a projetos como o Open Finance.

Alguns clientes da Pluggy já demonstraram ótimos resultados utilizando esses dados de Open Finance, como o um aumento de 50% na concessão de crédito, aumento de 15% no KS e aumento do limite de crédito para 70% da base.

Outros setores que vão mudar com o Open Finance são o mercado de gestão financeira pessoal e empresarial, permitindo que alguns processos antes manuais como conciliação bancária e análise de fluxo de caixa já sejam automatizados, o que já está acontecendo.

E para a Pluggy?

Na Pluggy tivemos um crescimento expressivo em 2022. São mais de 100 clientes que hoje conseguimos destravar o poder dos dados para criar uma nova geração de serviços financeiros. Temos um desafio como líderes do setor de dados em mostrar aos consumidores finais os benefícios e riscos do compartilhamento deles.

Para nós, os dados servem para: i) entender e ii) automatizar. E cada vez estamos criando mais soluções para que o entendimento e automatização dos processos e dados sejam feitos de forma fácil e rápida. Eliminando barreiras para que qualquer inovador possa criar soluções incríveis.

*cofundador e CGO da Pluggy