Por Raul F. Moreira*, exclusivo para o Finsiders
As transformações que vêm impactando o sistema financeiro se caracterizam por ondas evolutivas e sobrepostas, cada vez mais rápidas e profundas. Hoje, diversas forças têm atuado de forma simultânea e combinada nesse processo.
O que temos observado é uma aceleração inédita e baseada em pilares muito importantes, como uma robusta regulação financeira e de proteção de dados, uma nova dinâmica competitiva no setor e a significativa evolução do uso da tecnologia e do provimento de novas experiências junto aos consumidores.
Novas tecnologias também impulsionam essa transformação, com destaque para as redes 5G e o uso intensivo da inteligência artificial, além das plataformas financeiras baseadas em blockchain. Assim, o mercado evoluiu tecnologicamente, o arcabouço regulatório também se ampliou sensivelmente e os consumidores mudaram a forma de acessar serviços financeiros. Mas ainda resta uma pergunta: o que falta para solucionar o desafio de ampliação dos níveis de proteção de dados e de segurança final dos nossos clientes?
Não é segredo que o Brasil ainda tem muito a avançar no no combate ao crime organizado e à segurança das pessoas. No entanto, sabemos que, diante da ampla digitalização da nossa economia, o mecanismo mais utilizado para fraudar e acessar os dados dos consumidores é ainda uma velha conhecida: a engenharia social.
E esse mecanismo sempre irá encontrar um campo fértil numa economia cada vez mais digitalizada e inclusiva, principalmente enquanto não estabelecermos uma ampla agenda de educação financeira do consumidor, com ênfase especial nos aspectos relacionados à proteção de seus dados e acesso a informações sensíveis.
Várias iniciativas — muito boas por sinal — já são conhecidas, dentre elas as ações do Banco Central, da Febraban, Abecs, ABBC, Anbima, CVM e Procons de todo o país, além de outras instituições, apenas para citar alguns desses exemplos.
Contudo, para movermos realmente o ponteiro da educação financeira em benefício do consumidor, será preciso algo ainda maior, sistêmico, sincronizado e contínuo, que possa alcançar a população economicamente ativa como um todo e de uma forma muito mais ampla do que estamos fazendo hoje.
Sabemos que a educação financeira possui diversas dimensões. Não é, portanto, algo trivial e de resultados imediatos. Mas podemos melhorar sensivelmente o cenário atual apenas colocando algumas novas peças nesse quebra-cabeças. A principal delas, é claro, seria um maior nível de engajamento e investimentos na educação do consumidor de serviços financeiros.
Nesse cenário, temos que nos sentir engajados a incluir, nas nossas pautas de comunicação diária, temas relativamente simples, como a relação do consumidor com os princípios básicos de proteção dos seus dados, dos seus dispositivos de acesso, da sua forma de consumir produtos financeiros, de compartilhar informações e inclusive na forma de se relacionar com outras pessoas no ambiente virtual.
Se o novo valor monetário da sociedade moderna está nos dados gerados e na forma de monetizarmos isso por meio de novas experiências, produtos e serviços, bem como no consequente uso de uma moeda cada vez mais digital, é preciso e urgente educar o consumidor a proteger cada vez mais os seus valores no ambiente digital. Só assim estaremos realmente preparados para entrar em um novo momento de uma economia cada vez mais digitalizada e segura.
*Raul F Moreira é conselheiro do Banco Original, do PicPay e da Crednovo, membro das diretorias da Abecs e ABBC, membro do comitê de Inovação e Tecnologia da Febraban e diretor do Instituto J&F.
As opiniões neste espaço refletem a visão dos especialistas e executivos de mercado. O Finsiders não se responsabiliza pelas informações apresentadas pelo(a) autor(a) do texto.
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