Denis Piovezan*
Os últimos anos foram, sem dúvida, marcantes para o mercado financeiro. Grandes movimentações, novos entrantes, M&As e muita inovação. Analisando as particularidades do cenário, observamos uma crescente do número de fintechs. O “Fintech Report 2022”, elaborado pelo Distrito, aponta que 1.289 fintechs operam no mercado brasileiro; e, desse ecossistema, 17,5% são focadas apenas em crédito (cerca de 225) — dados de 2021 até o primeiro trimestre de 2022.
Outro dado que também chama a atenção é o crescimento dos bancos digitais. Um estudo feito pela Akamai Technologies em parceria com a Cantarino Brasileiro em 2022 revela que 70% dos brasileiros entrevistados têm conta tanto em bancos tradicionais, quanto em bancos digitais. O número se torna “impactante” quando observamos que em 2020, apenas dois anos antes, esse dado era de 37%.
Os números são altos e mostram o quanto o setor financeiro vive uma transformação e passa por uma expansão de sua atuação. Em paralelo, os brasileiros estão mais abertos a adotarem serviços financeiros digitais. Em um cenário em plena ebulição, seguiremos acompanhando agora em 2023 a entrada de novos players no mercado e o aumento da concorrência entre as instituições financeiras, a partir de iniciativas como open banking, open finance, mudanças regulatórias e a criação de novos produtos e serviços.
Novos parâmetros
Se o PIX foi absorvido rapidamente pela população e revolucionou o setor, o open finance deve trilhar o mesmo caminho, trazendo mais competitividade para o mercado. Diferente do open banking, que se restringe ao compartilhamento de informações entre instituições bancárias, o open finance permite que as instituições financeiras expandam o leque de informações para corretoras, seguradoras, previdência, câmbio etc. e com isso amplie as ofertas de produtos e serviços.
A partir de um sistema econômico mais aberto e com oportunidades para atingir clientes pessoa física (PF) e pessoa jurídica (PJ), o open finance atrai a entrada de terceiros confiáveis e empresas de tecnologia que figuram no meio financeiro, que podem oferecer os aparatos necessários para as empresas se adaptarem e operarem de forma completa e segura.
Dentre os diversos desafios desse processo, que ainda está em andamento, está a obrigatoriedade na utilização dos critérios e regras definidos pela Lei Geral de Proteção de Dados (LGPD). O open finance rege um mecanismo seguro para compartilhar dados no mercado financeiro, mas a LGPD se sobrepõe aos regulamentos do BACEN.
Por isso é fundamental que todos os agentes invistam em tecnologia tanto para a gestão, quanto para o core business, a fim de garantir o cumprimento das diretrizes legais e manter uma operação em compliance em geral. Sabemos que o mercado financeiro tem muitas regras para cumprir, e sem dúvida a tecnologia é uma grande aliada nessa missão.
Mais recursos
A concessão de crédito para micro e pequenas empresas também deve ganhar espaço em 2023. Uma pesquisa do Sebrae, realizada em 2022, apontou que existem 869 ESCs (Empresa Simples de Crédito) constituídas, totalizando algo como R$ 663 milhões em capital para empréstimos. O cenário de expectativas positivas se dá pelo crescimento das atividades, às medidas de estímulo à concessão de crédito e outras políticas monetárias.
Vejo espaço para o incremento desse número, mas será crucial para essas instituições o investimento em tecnologia para trazer mais governança e profissionalização às operações. O mercado já disponibiliza tecnologias de Big Data e Inteligência Artificial combinadas para a análise e verificação de grandes volumes de dados para a concessão de crédito, com processos metrificados que potencializam a cobertura e a eliminação de riscos, assim como realizam o processo de checagem pós-crédito, garantindo maior rapidez, segurança e aumentando a produtividade e a competitividade entre os players que atuam no mercado de crédito.
Novo marco regulatório
O novo marco regulatório dos Fundos de Investimento também é assunto para ficar de olho em 2023. Entre as mudanças previstas, o grande destaque é a possível distribuição de cotas de Fundos de Investimento em Direitos Creditórios (Fidcs) ao público em geral (investidor comum, não apenas qualificado), democratizando o acesso aos fundos e, consequentemente, trazendo ainda mais competitividade.
Essas são apenas algumas das movimentações que podemos aguardar para o próximo ano. De modo geral, vemos um setor cada vez mais alinhado às necessidades do cliente final. Grande parte dessas inovações vieram para ampliar o acesso a serviços financeiros e, quanto mais gente chega, mais cuidado é preciso ter, tanto para garantir a segurança dos provedores quanto dos clientes finais. Além de apostar em tecnologia, é fundamental contar com um verdadeiro parceiro para dar escala às operações, com segurança e eficiência.
*CEO da Dimensa