OPINIÃO

Participação feminina no mercado financeiro muda paradigmas 

Os desafios e conquistas das mulheres no mercado financeiro para equilibrar carreira e maternidade com qualidade de vida.

Imagem gerada por IA/Adobe
Imagem gerada por IA/Adobe

“Não é fácil ser mulher”. Quantas vezes já ouvimos essa frase de muitas mulheres – ou nós mesmas não nos falamos isso em alguns momentos? Agora imagina ser mulher no mercado financeiro e, agora, como empreendedora. Realmente… fácil não é. Mas você pode escolher agir e virar a mesa. Mudar o jogo para ser um dos principais agentes de transformação da sociedade e não somente apenas se incomodar com o que acontece ao seu redor.

Quando decidi empreender, logo no início do negócio, minha sócia engravidou e pôde viver sua maternidade de uma forma completamente diferente da que vivi. Durante os primeiros meses do bebê, foi até o escritório pouquíssimas vezes. A flexibilidade para trabalhar de casa a ajudou a equilibrar seu papel de mãe e profissional e, ao contrário, não a fez trabalhar menos, a fez trabalhar melhor. Isso porque ambas sempre tivemos em mente que valorizar a qualidade de vida é o que nós, como profissionais, precisamos. E não digo somente sobre o nosso bem-estar, mas de toda a equipe. 

O mercado financeiro é visto como uma área bem tradicional e rígida. Mas, nós sempre acreditamos que é possível ser um profissional de excelência sem estar preso ao escritório até altas horas. Essa mudança não é apenas desejável: é imperativa para um setor que precisa se renovar. Falamos bastante sobre os impactos da tecnologia para o setor, mas discutir sobre a humanização da área também é uma urgência.

Investidoras

Nos últimos cinco anos, mais de um milhão de mulheres passaram a investir em renda variável, uma alta de 658% de acordo com uma pesquisa da B3, aplicando em ações e outros ativos de risco. É hora de virar a mesa e reconhecer que a presença das mulheres é um catalisador para um ambiente mais inclusivo, inovador e equilibrado. Precisamos abraçar essa mudança. A diversidade de gênero não é apenas uma questão de justiça, mas uma estratégia inteligente para o sucesso e a sustentabilidade das empresas.

Ao fundar a VERT Capital ao lado das minhas sócias, minha missão era clara: construir uma cultura corporativa que valoriza a qualidade de vida e oferece flexibilidade. Nossa equipe tem a liberdade de cuidar de seus filhos e participar ativamente de suas vidas, o que contribui não só para um ambiente de trabalho mais saudável e motivador, mas também reflete na maneira como a sociedade é construída, visto que a vida familiar e a participação dos pais, mães e responsáveis na vida de uma criança impacta diretamente na formação de sua personalidade e em sua maneira de ver o mundo.

Fernanda Melo/Vert Capital - Imagem: divulgação
Fernanda Melo/Vert Capital – Imagem: divulgação

Acredito que muito dessa prática venha da minha própria experiência. Iniciei minha carreira na mesa de operações, onde era a única mulher. Rapidamente percebi que, para ser aceita, deveria adotar uma postura semelhante à dos homens. Esse comportamento era tão enraizado que brincadeiras sexistas, como deixar uma Revista Cláudia na minha mesa como forma de provocação, eram consideradas normais. No entanto, essas situações evidenciam como a falta de diversidade cria um ambiente pouco inclusivo e, por vezes, hostil.

Maternidade

A maternidade é um capítulo à parte quando penso em minha trajetória profissional. Durante minha primeira licença, temi bastante pela minha posição. Precisei adaptar minha rotina para amamentar meus filhos. Sabia que o mercado financeiro, assim como outros mercados, não estava preparado para acolher mulheres que desejam equilibrar carreira e maternidade. Quando tive meu primeiro filho, amamentava em casa durante o almoço e voltava para o trabalho. Depois que o caçula nasceu, meu irmão o levava até o banco para que eu pudesse amamentar. Tudo isso para não correr o risco de que meu desempenho fosse questionado.

Ampliar a participação feminina no mercado financeiro não só é possível como é essencial para humanizar e tornar este ambiente mais saudável. A diversidade de gênero traz perspectivas diferentes, promove a inovação e cria um ambiente de trabalho mais equilibrado. Minha trajetória como profissional e empreendedora é um testemunho de que, com determinação e apoio, podemos superar barreiras e transformar qualquer lugar em um espaço mais inclusivo

*CEO da VERT Capital