ANÁLISE

Por que o ecossistema de fintechs não para de crescer

Nichos mal atendidos, preços elevados, significativa massa de desbancarizados são desafios estimulantes para as fintechs

Carlos Oliveira/ABFintechs - Imagem: Divulgação
Carlos Oliveira/ABFintechs - Imagem: Divulgação

As fintechs são empresas que desenvolvem soluções financeiras inovadoras e tecnológicas para os clientes em um mercado rodeado de gigantes financeiras. Mas isso por si só não explica o enorme potencial, assim como o sucessivo crescimento que se tem verificado ano após ano.

A concentração do setor bancário, aliada a estruturas pesadas com enormes e antigos legados, são um convite para que estes desafiantes possam explorar e resolver os gaps existentes. As fintechs exploram brechas em um mercado ocupado por grandes e tradicionais instituições financeiras.

Nichos mal atendidos, preços elevados, significativa massa de desbancarizados, queixas do atendimento, conservadorismo e lentidão de algumas instituições são desafios estimulantes que as fintechs podem superar e aproveitar.

Agenda regulatória

A agenda incessante de transformação da indústria financeira, coordenada pelo Banco Central (BC) — que procura endereçar os problemas acima, além de envolver flexibilização regulatória — encontra nas iniciativas de modernização e digitalização uma grande oportunidade para introdução de novos modelos de negócio. Isso por si só é uma fonte de estímulo e espaço para o setor.

Iniciativas como Pix, Open Finance e o projeto Drex são exemplos claros destas novas e inesgotáveis oportunidades que se abrem cada vez mais para as fintechs desenvolverem e oferecerem soluções inovadoras.

Na verdade, em certa perspectiva, podemos afirmar que todo o sistema financeiro está sendo redesenhado, por meio de uma agenda permanente de ajustes e reformas. Assim, torna-se um ecossistema cada vez mais aberto, inclusivo, eficiente e transparente, totalmente aberto à competição. A cada mudança, surgem novos desafios. Nada melhor para inovação e mais propicio ou fértil para as fintechs.

Dessa forma, não é surpreendente o crescimento exponencial deste segmento de inovação que triplicou nos últimos cinco anos e continua a crescer. Por meio de diversas modalidades, as empresas buscam resolver fricções e entregar experiências diferenciadas aos cada vez mais exigentes clientes.

Passamos por uma restrição de alocação de capital para investimento em startups por motivos conjunturais que impôs mudanças repentinas e radicais de comportamentos dos VCs (fundos de venture capital).

Cautela

Neste cenário os fundadores de fintechs ficaram mais cautelosos. Conforme a pesquisa “Fintech Deep Dive 2023”, organizada pela PwC em parceria com a Associação Brasileira de Fintechs (ABFintechs), aumentou em 27% o percentual de empresas que pretendem preservar sua estrutura sem depender de novos investimentos de fundos. Com isso, atualmente mais da metade das empresas estão optando a se manter apenas com capital próprio.

De qualquer forma, o segmento de fintechs parece ter sido menos afetado que as startups de modo geral pela escassez de investimentos. Houve pouca redução no recebimento de recursos, especialmente para quem se encontra no early-stage.

A explicação para o fenômeno pode estar no fato de que as fintechs são vistas como mais resilientes a crises econômicas do que outros tipos de startups. Isso porque podem contar com um mercado muito amplo a ser explorado, estratégico para o desenvolvimento econômico. Além disso, têm um ambiente favorável para alcançar economias de escala.

Devido a esse porte, quase metade de todos os recursos são canalizados para setores relacionados às fintechs. Por sua vez, elas impulsionam outras indústrias de inovação por se conectar e beneficiar todos os mercados. Também pudera: de acordo com a ABFintechs, já são mais de 1,6 mil fintechs que geram mais de 100 mil empregos. São elas que já administram cerca de 250 milhões de contas digitais no país.

Ao simplificar e automatizar processos, operar de forma exclusivamente digital e eliminar intermediários, essas startups têm custos operacionais bem menores do que o da indústria financeira de maneira geral. Isso resulta em um enorme ganho de eficiência, aumento da velocidade de entrega de produtos e, claro, preços reduzidos para os consumidores. Trata-se, então, de um círculo virtuoso, que atrai mais clientes, aumentando o seu ganho de escala e sua vantagem competitiva.

Investimentos, o retorno

E a boa notícia é que o fluxo de investimentos para o setor voltou a crescer em 2024. O primeiro semestre deste ano indicou uma retomada do otimismo no venture capital. Dessa forma, houve o retorno de vários exemplos de captações relevantes para as fintechs brasileiras e latino-americanas.

Claro que os investidores estão mais cautelosos e as condições para novos aportes ficaram mais exigentes, buscando-se conciliar o potencial de growth com a capacidade de geração de caixa. Além disso, exige-se dos fundadores teses e visão de negócio mais objetivas e realistas, com uma governança compatível com o estágio da startup. Nada muito preocupante para quem tem um business plan (BP) sólido.

Com as demandas de conveniência e personalização crescente, os consumidores de todos os segmentos e idades cada vez mais buscam soluções digitais eficientes. Já as empresas encontram nas fintechs uma alavanca para gerar eficiência e desenvolver os seus negócios.

Relações transparentes, processos simples e ágeis, demandas de hiperpersonalização e plataformas com soluções inovadoras são requisitos cada vez mais atrativos por trazerem muitos benefícios para aqueles que optam por utilizar as fintechs.

Por isso, elas não param de crescer…

*Diretor-executivo da ABFintechs e CEO da Certdox