Wagner Martin
Estamos vivendo uma fase muito importante, pois marca o início da abertura da interoperabilidade do Open Banking no Brasil, sistema que promete revolucionar o setor financeiro por ser um modelo aberto e muito competitivo. É nessa fase, a terceira, que o Banco Central regulamenta o serviço de iniciação de transação de pagamento e quando tudo o que está relacionado ao Pix e à iniciação de pagamentos dará suporte a essas aberturas de dados.
Com um sistema de pagamento instantâneo P2P (pessoa para pessoa) já implantado nas fases anteriores, agora é a vez da terceira fase: a de iniciação de pagamento por instituições não financeiras. Um grande exemplo é o WhatsApp Pay. Para realizar um pagamento no aplicativo, o WhatsApp divulgou no Brasil que uma operadora de cartão de crédito daria o suporte para a transação. A autorização para essa operação foi suspensa pelo Banco Central por meses a fim de “preservar um adequado ambiente competitivo, que assegure o funcionamento de um sistema de pagamentos interoperável, rápido, seguro, transparente, aberto e barato”, até finalmente ser liberada devido à implementação da terceira fase.
Outro exemplo de iniciador de pagamentos são instituições autorizadas a prestar esse serviço, como por exemplo, uma grande loja de departamento que ofereça seu próprio cartão de crédito ou carteira virtual. Para isso, necessita do suporte de um banco ou uma operadora de cartão de crédito, ou do o próprio Pix. Atualmente é possível fazer pagamentos de diversas formas além da transferência, como por QR Code.
Na última semana de novembro foram lançados o Pix Saque e Pix Troco – em que o consumidor não precisa mais buscar um caixa eletrônico para sacar dinheiro. Ele pode fazer essa transação em qualquer comércio, basta fazer uma transferência via Pix para o estabelecimento, ou pagar com um valor maior do que o total da conta, para receber um valor em espécie. Essa novidade gera mobilidade, flexibilidade e milhares de soluções para o sistema financeiro.
Os iniciadores de pagamentos já estão fazendo homologações perante o Banco Central e vão poder operar nesse formato.
Conforme cronograma atual do Banco Central, está prevista para iniciar em 15 de dezembro a quarta fase do Open Banking, que pode ser considerada a que realmente dará início ao Open Finance no país, uma vez que os iniciadores de pagamento podem começar a ofertar serviços como empréstimo, aplicações e, em um ambiente ainda mais fora da caixa, a contratação de seguros e previdência. Tudo será realizado por meio da lei de proteção e de compartilhamento de dados, duas grandes ferramentas de caminho de flexibilização, geração de transações e de novas experiências em transferência de dinheiro.
Ao atrair empresas de outros segmentos, os iniciadores de pagamentos poderão ofertar os mais variados serviços e terão as portas abertas para soluções que vão além de assuntos financeiros e não necessariamente transferência de recursos. Isso será o divisor de águas quando o Banco Central inicializar a quarta fase do Open Banking, que inicia em dezembro o compartilhamento de um conjunto de informação além de produtos e serviços bancários tradicionais, o que marca o início de sua migração para Open Finance.
Velocidade de implantação é o grande desafio
As empresas que implementarem esses sistemas com mais rapidez e compreenderem o mercado que as cercam o quanto antes, vão gerar mais engajamento com seus clientes. Esse é o primeiro desafio, que terá como sequência a usabilidade. Da mesma forma em que todas as suas operações são realizadas on-line, não haverá algo físico para realizar a autenticação em dois fatores, além de decorar senhas com letras e números. A solução serão as biometrias, principalmente facial, de íris e touch do dispositivo móvel.
Os principais desafios dos bancos são prover rapidamente serviços com baixo atrito e muita utilidade. No meio dessas transações estão as fintechs, buscando homologação, pois o mercado demanda tecnologia, inovação e soluções. Essas empresas estão se adaptando a essa nova fase e o seu caminho está sendo aberto pela realidade do comércio versus o momento atual do Open Banking, o que atrai diversas instituições a buscarem um canal direto com as mais diversas empresas para a próxima fase. Neste momento do mercado, as startups financeiras têm a vantagem, pois oferecem velocidade, flexibilidade e versatilidade no atendimento. Além disso, foram desenvolvidas para ofertar tudo isso com baixo custo, uma grande vantagem para o regulador brasileiro.
Nessa terceira fase, o papel dos bancos é fazer a tradução de toda a mobilidade que o Banco Central promoveu em oportunidades de negócios. Por mais que as instituições financeiras estejam se mobilizando, são atropeladas pela rapidez das fintechs, que não têm todo o processo de compliance exigidas pelas entidades regulatórias. Como elas são autorizadas, ocorre uma disparidade e falta de isonomia de mercado. Um exemplo é o Nubank, que era apenas uma instituição autorizada em plena expansão para a Argentina e México, e que agora, por determinação do Banco Central, terá de cumprir as mesmas obrigações que uma entidade regulamentada.
Estamos na antessala do Open Finance e ansiosos para todas as possibilidades e oportunidade que se apresentarão nos próximos meses. Este ciclo virtuoso de inclusão, rapidez, segurança, transparência e flexibilidade é que tornará o sistema financeiro brasileiro um dos mais completos e modernos do mundo. E nós mal podemos esperar para contribuir para o sucesso dele.
*Diretor de Desenvolvimento de Negócios da Veritran