O Pix Internacional está longe de ter regras definidas pelo Banco Central. Não há nenhuma previsão de lançamento do sistema que possibilitará o pagamento instantâneo de forma ampla em outros países. Apesar disso, instituições avançam na implementação de soluções privadas que permitem que brasileiros paguem compras com o Pix em comércios de alguns países.
“Vários players perceberam que poderiam fazer conexão ponto a ponto sem a necessidade de fazer através do BC, diz Gastão Mattos, CEO da consultoria GMattos.
É o caso de PagBrasil e Fiserv, que oferecem soluções semelhantes. Em alguns comércios com os quais fecharam parcerias, os turistas têm a opção de usar o pagamento instantâneo para efetuar compras pagando via QR Code.
As soluções visam expandir a experiência do brasileiro que, acostumado com o Pix amplamente aceito em território nacional, se vê sem acesso ao seu principal meio de pagamento quando viaja para outros países.
Câmbio local
“Para os turistas brasileiros, que estão acostumados com o Pix, pagar em dinheiro é como voltar ao passado”, diz Ralf Germer, cofundador da PagBrasil.
O câmbio para a moeda local (que pode ou não ser o dólar) é no momento em que a compra é transacionada. O recebedor, porém, não se beneficia do sistema de pagamento instantâneo, e recebe de acordo com o contrato firmado com a adquirente.
A PagBrasil tem parceiros que disponibilizam a solução a lojistas no Uruguai, Argentina, Chile, Peru, Portugal, Espanha, França, Holanda, México e Estados Unidos, com planos de expansão para a Ásia em breve. “A ideia é ter poucos parceiros, como um ou dois por país, e eles oferecem a solução para os lojistas”, diz Alex Hoffmann, cofundador da PagBrasil.
A expansão leva em consideração o fluxo de turistas brasileiros nessas regiões. “O que a gente busca é cobrir esses destinos onde os brasileiros mais vão e mais gastam. Isso é mais importante do que a quantidade de parceiros e de maquininhas habilitadas”, complementa Ralf.
Todos os valores
Com a PagBrasil, a transação para a outra ponta é feita como uma eFX (Electronic Foreign Exchange), através de bancos de câmbio parceiros.
“Vemos que é um produto em constante crescimento, à medida que o brasileiro o conhece. São feitas transações de todos os valores, desde US$ 10, em todos os tipos de comércio: táxis, restaurantes, hotéis, lojas”, diz Ralf, da PagBrasil.
Na Fiserv, o recebedor da transação é a própria instituição e o processo de conversão cambial ocorre por meio de instituições parceiras. Essas instituições são “integradas de forma a prestar o serviço de conversão com as melhores condições para o usuário pagador”, diz Murillo Restier, diretor de Desenvolvimento de Negócios da Fiserv no Brasil. Os valores são enviados para o país destino sempre em D+1.
“Para o consumidor, esta é mais uma transação de Pix como ele realizaria no Brasil”, diz Murillo. Eles já estão presentes em estabelecimentos comerciais da Argentina e Uruguai desde 2023. Murillo não revela volume de transação, mas diz que na Argentina a operação já está madura, com mais de 250 estabelecimentos comerciais parceiros. E no Uruguai o processo está em fase de expansão.
Turista e lojistas
“Os motivos que levaram as duas a oferecerem são bem diferentes”, afirma Gastão. De acordo com a análise do consultor, a Fiserv oferece o produto pensando em seus clientes lojistas no exterior, que conseguem disponibilizar mais uma forma de pagamento para os turistas brasileiros e se diferenciar de seus concorrentes locais.
Com a PagBrasil, Gastão aponta que a proposta parece ser outra. “Quer gerar valor para quem paga em Pix. A PagBrasil não é um grande emissor de Pix no Brasil, mas está dizendo que, através dela, o cliente poderá pagar em algumas lojas que ela tem convênio. Ela está mais interessada nessa geração de valor para o cliente brasileiro”, diz.
Projeto Nexus
O BC diz que a evolução do Pix para transações transfronteiriças depende não só do Brasil, mas “também exige um esforço de diversas jurisdições, ainda sem previsão de lançamento”. A autarquia faz referência ao Projeto Nexus, do Bank for International Settlements (BIS, o banco central dos bancos centrais), que tem como objetivo viabilizar pagamentos internacionais instantâneos.
O projeto é um grande esquema multilateral que interliga diferentes sistemas de pagamentos instantâneos existentes internacionalmente. Hoje, existem sistemas semelhantes ao Pix em mais de 70 países — mas dentro de suas fronteiras.
Quando o Nexus for lançado, por exemplo, erá possível que um brasileiro faça um pagamento em real via Pix nos Estados Unidos para um norte-americano. Esse, por sua vez, receberá em dólar via FedNow, o sistema de lá. Tudo isso em até 60 segundos.
“O Nexus foi projetado para padronizar a maneira como os sistemas de pagamentos instantâneos se conectam entre si. Em vez de uma operadora criar conexões personalizadas para cada novo país ao qual se conecta, a operadora pode fazer uma conexão com a plataforma Nexus. Essa conexão única permite que um sistema de pagamentos rápidos alcance todos os outros países na rede”, diz a página oficial do Projeto Nexus.
O desenvolvimento de tal tecnologia, porém, não é tão rápido quanto o crescimento da popularidade do Pix aqui no Brasil. O projeto entrou na última fase, com os bancos centrais da Indonésia, Malásia, Filipinas, Cingapura e Tailândia, parceiros do BIS no Nexus, estabelecendo uma entidade gestora para tocar os estágios de implementação ativa e em tempo real da funcionalidade.
Esta é a quinta e última reportagem de uma série que o Finsiders Brasil publicou ao longo das últimas semanas sobre a evolução do Pix.