Apesar do crescimento dos métodos digitais de pagamento, modalidades como dinheiro físico e cheque não vão desaparecer. É o que defenderam executivos de grandes instituições financeiras durante painel no “Futurecom”, evento realizado em São Paulo nesta semana. A visão é de que os diferentes meios vão conviver entre si, e cada um vai atender a um perfil de consumidor ou nicho de mercado.
“É um sonho muito distante acreditar que os pagamentos digitais vão substituir o dinheiro. Somos um país gigantesco e muito desigual”, disse Luciana Bassani, superintendente de estratégia de cartões da Caixa Econômica Federal. “Existem pessoas que não têm acesso a nada do que temos. Não possuem smartphone e internet, por exemplo. Isso é uma realidade.”
Conforme a executiva, é preciso conhecer as necessidades da população e, assim, oferecer as alternativas de pagamento que tragam comodidade e segurança. Na prática, isso significa pensar nos múltiplos contextos existentes nos rincões do Brasil. Ou seja, ir além das ruas e avenidas da Faria Lima ou do Leblon. “Por exemplo, [precisamos pensar] como melhorar a distribuição do Bolsa Família para os povos originários do Vale do Javari. São pessoas que estão inseridas no mercado consumidor e precisam de recursos.”
Segundo José Henrique Simões Camargo, superintendente executivo de cash management e conta corrente do Bradesco, se o dinheiro acabar, será “ótimo” por causa do custo do numerário. Em 2022, por exemplo, o Brasil gastou R$ 702 milhões com a fabricação de moedas e cédulas, de acordo com informações divulgadas pelo Banco Central (BC).
Cheque será um nicho
“Algumas atividades ainda demandam cheque, e é bom para o recebedor. Porque se torna um recebível, e você pode fazer alavancagem e conceder crédito”, diz o executivo do Bradesco. “Na minha opinião, o cheque vai ser um nicho, não vai morrer, a não ser que venha uma determinação do fim, como aconteceu com o DOC”, aponta José Henrique. Alguns dos maiores bancos, inclusive, já deixaram de oferecer a modalidade. Segundo a Federação Brasileira de Bancos (Febraban), as instituições associadas têm até janeiro de 2024 para acabar com esse recurso.
Ana Paula Cerchiari, superintendente de digital cash management e Open Banking do Itaú Unibanco, lembra que, apesar do avanço do Pix, as empresas ainda têm dificuldades de integração para adotar o sistema de pagamento instantâneo em seu dia a dia. “Aos poucos vamos ver o Pix entrando nas transações de TED das PJs, por exemplo. No caso do cheque, tem o pré-datado, a segurança de que está com o físico na mão, e uma série de pontos que o outro trilho precisa evoluir para ter capacidade de dominar.”
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