OPINIÃO

O boleto vai acabar?

Com o avanço do acesso aos bancos e das tecnologias, é normal vislumbrar um futuro sem o boleto. Será?

Boleto
Boleto | Imagem: Adobe Photoshop

Existe certo gosto no mercado em profetizar o fim das coisas. O fim dos jornais impressos, o fim do rádio, e desde a criação do Pix já se fala no fim do boleto. Criado na década de 1980, o boleto se popularizou como meio de pagamento sobretudo por atender as pessoas desbancarizadas. Virou, então, quase sinônimo de sobrevivência na linguagem popular (o famoso “pagar meus boletos”). Com o avanço do acesso aos bancos e das tecnologias, é normal vislumbrar um futuro sem o boleto. Mas um instrumento tão eficiente não será superado da noite para o dia.

O bom e velho boleto tem se atualizado, o que mostra que o Banco Central (BC) ainda vê grande importância no sistema. Com a compensação via Pix oficializada pelo BC, ganha ainda a velocidade e praticidade da tecnologia, eliminando a restrição de horário e a demora na confirmação do pagamento. A união dos dois meios não é nova – desde 2021 já existem iniciativas nessa linha. E vimos uma grande e rápida adesão da população. Considerando que o Pix é de novembro de 2020, é notável também a velocidade com que as instituições perceberam o potencial e agiram.

Quando olhamos o Brasil, encontramos uma realidade ainda distante dos grandes centros urbanos. Há uma grande parcela de sub-bancarizados, ou seja, consumidores e empreendedores que até têm contas em bancos, mas não utilizam ferramentas ou serviços financeiros. Ao trazer o Pix para o boleto, conseguimos trazer essa confiança já estabelecida para as novas tecnologias, e incentivar a construção de soluções com menor custo e mais adaptadas a esse público. Cresce o Pix, já queridinho e responsável por boa parte da bancarização nacional dos últimos anos, e cresce o boleto, que já tem o conhecimento e a confiança da população.

Denis Silva/Efí Bank
Denis Silva/Efí Bank | Imagem: divulgação

Já na perspectiva empresarial, o boleto documenta uma cobrança. É um registro importante de comprovação do serviço prestado ou produto vendido, trazendo segurança para os empreendedores. Além disso, oferece uma vantagem de negócios ao funcionar como garantia para operações de crédito, também com novidades.

Boleto dinâmico

O boleto dinâmico, anunciado recentemente pelo BC, permitirá alterar tanto a instituição destinatária quanto o beneficiário, tornando-o titular dos direitos sobre aquele recebimento. Essa inovação é mais uma revolução no uso do boleto e traz mais participantes para o sistema. Assim, aumenta a governança e possibilita sua vinculação direta à duplicata escritural.

Com isso, o boleto se torna um instrumento ainda mais relevante para operações de desconto, ampliando o acesso ao crédito e permitindo que as empresas antecipem seus recebíveis, seja em fundos de direitos creditórios (FIDCs), seja diretamente com seu banco. Gerar caixa é incentivar as empresas brasileiras, uma alternativa viável e potencialmente transformadora mesmo para pequenos e médios empreendedores.

Provavelmente, viveremos um longo período de conjunção de boletos e Pix antes da extinção de qualquer meio. Afinal, ainda são mais de 4 bilhões de transações realizadas via boleto (dados de 2023 da Febraban) e mais de 63 bilhões realizadas via Pix (dados de 2024 do BC). Olhar para o futuro nem sempre significa esquecer o passado. Podemos (e devemos) transformá-lo para que essa evolução não deixe ninguém para trás, e tenhamos um País de finanças verdadeiramente democratizadas.

*CEO do Efí Bank