O Pix por Aproximação e por biometria começam a ser oferecidos nesta sexta-feira (28/2), após cerca de três meses de testes. Os novos serviços rodam por meio da Jornada Sem Redirecionamento (JSR) no Open Finance. Ao todo, 13 instituições detentoras de conta responsáveis por 99% das transações de pagamento no sistema são obrigadas a disponibilizar o recurso a seus clientes a partir de hoje. A oferta da funcionalidade pelas carteiras digitais – que atuam como Iniciador de Transação de Pagamento (ITP) – é facultativa. Além disso, alguns bancos já começaram a oferecer essa nova funcionalidade em seus próprios aplicativos.
O Pix por Aproximação permite que os brasileiros façam pagamentos encostando o celular ou outros dispositivos com a tecnologia NFC, como já ocorre com transações por meio de cartões. O cliente precisa estar conectado à internet.
O Google Pay é a única carteira digital que tem autorização como ITP, e o Android representa a maioria dos celulares no Brasil. Apple Pay e Samsung Wallet não são (ainda) instituições autorizadas pelo BC. Mas segundo Albert Morales, diretor geral da Belvo no Brasil, qualquer ITP pode oferecer a solução para o iOS, sistema operacional da Apple para o iPhone.
Encostou, pagou
De acordo com as regras do BC, os pagamentos via Pix por aproximação utilizando uma carteira digital estão limitados, inicialmente, a R$ 500 por operação. Não há limite diário, mas o cliente pode personalizá-lo em seu banco. “Além disso, serão respeitados os limites Pix estabelecidos na instituição em que a conta do cliente está registrada. E não haverá cobrança para o pagador”, disse o regulador.
A expectativa do BC e do mercado como um todo é que o Pix por Aproximação ajude a impulsionar o uso do pagamento instantâneo no comércio físico. Pagar por aproximação é algo que caiu no gosto dos brasileiros, mas o hábito é mais comum com cartão. A maioria das pessoas (74%) recorre ao plástico, enquanto 33% optam por encostar o celular, de acordo com pesquisa da Abecs com o Datafolha.
Quem oferece
O Google Pay largou na frente para oferecer o Pix por Aproximação em novembro de 2024 junto com C6 Bank, PicPay e Itaú. De lá pra cá, aumentou a lista de instituições conectadas à carteira da big tech. Atualmente, há 13 instituições já integradas ou em fase de implementação para todos os seus usuários. Além do trio que deu a largada no ano passado, a lista inclui os maiores bancos e neobancos do País, como Banco do Brasil, Bradesco, Caixa, Santander, Nubank e Inter.
Segundo o Google, as principais adquirentes (credenciadoras) já têm disponíveis em seus terminais de pagamento a integração para poder receber transações via Pix por Aproximação. Entre os players de maquininhas que já aceitam a modalidade estão, por exemplo, Cielo, Getnet (do Santander), Rede (do Itaú), Mercado Pago, Stone, SumUp e Fiserv. As fintechs Entrepay e Acqio, do grupo Entre, também informaram que disponibilizam a tecnologia desde o último dia 26/2.
Além do Google Pay, outros seis ITPs participaram do piloto da JSR nos últimos meses: Belvo, Celcoin, Cumbuca, Iniciador, Lina e U4C (da Okto). Daqui pra frente, a tendência é que outros players que têm essa licença decidam implementar a funcionalidade. Hoje, são 50 ITPs aptos a operar o Pix via Open Finance. A partir de 2 de janeiro de 2026, a implementação da JSR será obrigatória para todas as instituições detentoras de conta que são obrigadas a participar do arranjo Pix.
De acordo com Matheus Rauber, assessor sênior do departamento de Regulação do BC, o piloto da JSR foi bem-sucedido. “A JSR representa a consolidação de dois grandes projetos do BC, que são o Pix e o Open Finance”, disse, em evento realizado por Init e ABFintechs na semana passada.
Conveniência
Para as empresas, o Pix por Aproximação é uma opção “rápida e eficiente” e que contribui para a redução da inadimplência, disse Gadner Vieira, vice-presidente de utilities e educação da Bemobi, em nota. A empresa, de soluções de pagamentos e jornadas digitais para indústrias de serviços recorrentes, anunciou em 12/2 que está implementando o serviço nas distribuidoras de energia Light e Equatorial e no Grupo Salto, de educação.
Além da modalidade de aproximação no comércio físico, a JSR facilita o pagamento via Pix em compras nos e-commerces e marketplaces. Hoje essa transação depende de QR Code ou Pix “copia e cola”. Para Albert, da Belvo, o Pix por biometria representa a “tangibilização” dos pagamentos no Open Finance e vai a melhorar a experiência nas compras online.
“O usuário quer conveniência. Hoje, de 30% a 40% dos QR Codes gerados para pagamento com Pix no comércio online não são pagos. Existe um churn rate [taxa de cancelamento]”, disse o executivo, em evento na semana passada. “A corrida do Pix já é muito forte; agora terá a corrida do Pix por Biometria”, complementou Marcelo Martins, CEO da fintech Iniciador, no mesmo evento.
Segurança
O mecanismo brasileiro da JSR para pagamentos no Open Finance é inédito no mundo e servirá de exemplo para outros países, conforme os especialistas. Mesmo com o pioneirismo, as instituições precisaram se adaptar aos requisitos de segurança. Foi necessário aprimorar tecnologias para aplicar o protocolo de segurança global Fast IDentity Online (FIDO), usado por big techs e grandes bancos no mundo todo.
Em nota, o BC diz que o processo de vinculação da conta e o de pagamento contam com mecanismos robustos de segurança. “Será necessário o cadastramento de biometria ou senha de desbloqueio do celular, para garantir que apenas o aparelho cadastrado seja usado. Haverá verificação de segurança e autenticação em todas as transações”, afirmou.