OPINIÃO

Pix Automático vem para enterrar o débito automático, e não o boleto

Levantamentos indicam que apenas 11% dos consumidores de concessionárias utilizam débito automático; números são ainda menores entre o público de baixa renda

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Pix | Imagem: Freepik

O Banco Central (BC) confirmou o que já vínhamos antecipando: o Pix Automático foi criado para ocupar o espaço do débito automático — e não para acabar com o boleto. Três meses após o lançamento oficial, o BC anunciou que o Pix Automático será obrigatório para pagamentos recorrentes. Com isso, decretou o fim de uma era em que o débito automático prometia comodidade, mas nunca se consolidou como meio de pagamento de massa.

A resistência histórica dos consumidores ao débito automático sempre esteve ligada à baixa confiança nas empresas cobradoras. Muitos usuários acumularam experiências negativas com cobranças indevidas, valores não explicados e dificuldade para ativar e cancelar autorizações. Esse histórico gerou um efeito de desconfiança generalizada: quem já enfrentou problemas em um setor, como telefonia, tende a evitar o débito automático no pagamento da energia. Além disso, grande parte da população brasileira vive em um cenário de consumo no qual tudo o que entra no mês é gasto no próprio mês, exigindo autonomia para decidir o que pagar a cada ciclo. Ou seja, o débito automático nunca foi compatível com esse comportamento.

Nossos levantamentos mostram que apenas 11% dos consumidores de concessionárias utilizam débito automático. Os números são ainda menores entre os públicos de baixa renda. O boleto, ao contrário, permanece como principal meio de pagamento recorrente em utilities, justamente por oferecer previsibilidade e maior controle ao pagador.

Nova solução de pagamentos recorrentes

O Pix Automático se apresenta como uma solução mais alinhada ao comportamento do consumidor. Ele permite o agendamento de cobranças recorrentes mediante autorização prévia. Elimina, assim, a dependência de acordos bilaterais entre empresas e bancos que historicamente limitavam a expansão do débito automático. Com isso, abre espaço para alcançar novos entrantes no ecossistema e acelera a digitalização de setores ainda presos à infraestrutura analógica.

Vinicius Santos/Conta Comigo Digital | Imagem: divulgação

O avanço do Pix Automático já se mostra liderado por empresas de e-commerce, por exemplo, Globoplay, Amazon, OLX e Mercado Pago, que veem na ferramenta uma oportunidade de simplificar a experiência de pagamento para seus clientes. Nas utilities, a expectativa é de crescimento moderado, estimado em cerca de 5% no curto prazo. Dessa forma, reforça que o boleto seguirá relevante como principal mecanismo de controle de gastos para milhões de brasileiros.

Mais do que uma inovação funcional, o Pix Automático representa a evolução natural do sistema de pagamentos, substituindo uma solução que nunca entregou a experiência prometida. Mas o boleto, com sua característica de autonomia no pagamento e com o papel de lembrete e de gestão do orçamento, continua sendo peça central na vida financeira do consumidor brasileiro. Portanto, deve coexistir com o Pix Automático nos próximos anos.

*Fundador e CEO da Conta Comigo Digital