O Pix revolucionou as transferências e os pagamentos no Brasil. Mas segundo Henrique Videira, auditor do Banco Central (BC), o sistema de pagamentos instantâneos é “apenas a ‘ponta do iceberg‘” do que está por vir com a evolução da tokenização da economia e a criação do Drex. A expectativa é que se crie, com o tempo, um novo ecossistema financeiro tokenizado, com garantias mais eficientes, menos intermediários nas operações e crédito mais barato na ponta.
“O Drex é muito mais do que um sistema de liquidação financeira. Ele ambiciona trazer revoluções para a indústria, para pequenos e médios produtores rurais e, claro, para os cidadãos que sofrem com taxas que deveriam ser mais baixas”, disse Henrique, em palestra na “Rio Innovation Week 2025“, nesta quarta-feira (13/8).
“Estamos apenas arranhando a ponta da superfície do iceberg“, afirmou o porta-voz do BC. Na visão dele, esse novo universo abrangerá depósitos tokenizados, ativos reais tokenizados, ativos offline, internet das coisas (IoT, na sigla em inglês), stablecoins, trocas atômicas e marketplaces. “Não é teoria, é fato. As coisas podem acontecer”, disse.
Hoje e futuro
O projeto do Drex, atualmente em fase de piloto, endereça alguns desses temas. Os casos de uso testados no Drex seguem a lógica das “trocas atômicas”. Na prática, a transação entre duas partes só é concretizada se ambas cumprirem suas obrigações no “acordo”, explicou Henrique. Ele citou um exemplo de compra e venda de imóvel: o bem e o pagamento são alocados em um “cofre” digital; a transferência só liquida se as duas pernas forem cumpridas. O objetivo, assim, é reduzir desconfianças e atritos típicos de operações entre pessoas.
Espera-se que, no futuro, haja agregadores de serviços financeiros, disse Henrique. Nele, o usuário poderá concentrar, num só aplicativo, todos os seus ativos e bens – da casa às aplicações em títulos do Tesouro Nacional. Poderá, inclusive, utilizar esses itens como garantia em crédito de forma mais fluida, rápida e barata. “Quanto melhor a informação, menor o risco e menores as taxas de empréstimos. Esse é o grande objetivo do ecossistema do Drex: trazer benefícios para o cidadão e a sociedade”, afirmou.
O piloto do Drex passou recentemente pela fase 2 e caminha para a fase 3. Nesta nova etapa, não usará blockchain, como informou o site parceiro Blocknews. Em sua palestra, o auditor do BC apenas comentou que a segunda fase do piloto contou com 13 casos de uso. Eles incluíram tokenização de ativos físicos (imóveis e veículos, por exemplo) e financeiros (entre eles, CCBs e títulos do Tesouro), entre outros. “Independentemente da tecnologia, os algoritmos se mostraram eficientes do ponto de vista negocial e técnico”, disse ele.
Henrique traçou, ainda, um cenário sobre as moedas digitais de banco central, conhecidas pela sigla em inglês de CBDCs. Segundo ele, 98% da economia global já experimenta esse tipo de inovação, em caráter de teste. “Do G20, todos os países têm iniciativa em curso — inclusive os EUA, por meio do Projeto Agorá, do BIS”.
*O jornalista viajou ao Rio de Janeiro a convite da RecargaPay.