Depois de se consolidar como o principal meio de pagamento no Brasil, o Pix caminha para entrar em uma nova fase com o Pix Parcelado. Para especialistas e executivos do setor, a modalidade prestes a ser lançada pelo Banco Central (BC) será a maior transformação e inovação desde 2020, quando o sistema de pagamento instantâneo foi criado.
Atualmente, diversos bancos e fintechs já disponibilizam soluções de Pix Parcelado com esse nome mesmo ou outros. A ideia do BC agora é publicar regras para padronizar a experiência e a oferta dessa modalidade. A medida vai estabelecer quais informações devem estar presentes no momento da contratação do produto, incluindo juros e IOF, além de definir procedimentos para cobrança.
Na prática, o produto permitirá que as instituições participantes do arranjo Pix ofereçam crédito de maneira mais direta, sem os intermediários tradicionais dos cartões. Hoje, no parcelado sem juros via cartão, o emissor assume todo o risco sem receber juros em contrapartida – apenas no caso de inadimplência -, o que compromete a economia do produto. Já no Pix Parcelado, as instituições poderão cobrar taxas, enquanto os comerciantes recebem o valor integral da venda imediatamente, sem exposição a riscos de crédito ou problemas de capital de giro.
Acesso a crédito
“O Pix Parcelado permitirá que cerca de 60 milhões de brasileiros que não têm acesso a cartão de crédito possam finalmente acessar crédito com menos fricção, em um modelo mais direto e eficiente”, afirmou Pedro Carvalho, diretor de Instituições Financeiras Não Bancárias da Fitch Ratings, no evento “Fitch on Brazil 2025”, realizado nesta terça-feira (9/9) pela agência de classificação de risco.
Na visão da Fitch, a criação do Pix Parcelado representará uma verdadeira reconfiguração do mercado de pagamentos. Em relatório divulgado na segunda-feira (8/9), a agência lembra que em 2024, as compras parceladas sem juros representaram 13% das transações com cartão, mas quase metade do volume financeiro movimentado. Com a novidade, parte relevante desse mercado pode migrar para o Pix, reduzindo a fatia dos cartões, sobretudo no modelo sem juros.
A mudança pressiona não apenas bancos emissores, mas também adquirentes e bandeiras como Visa e Mastercard, que terão de repensar produtos e serviços para manter a relevância. A inspiração vem de modelos de “Buy Now, Pay Later” (BNPL) já difundidos nos Estados Unidos – e conhecido dos brasileiros há décadas como crediário. Mas a diferença é que o Pix Parcelado nasce digital, ancorado em uma infraestrutura robusta do BC, hoje utilizada por mais de 90% da população bancarizada.
Redução de custos
Para Elias Sfeir, presidente da Associação Nacional dos Bureaus de Crédito (ANBC), o Pix Parcelado permitirá a pequenos e médios varejistas retomar a concessão de crédito diretamente aos consumidores, em vez de deixar uma porcentagem nas mãos das empresas de cartão de crédito. “E em princípio, a taxa de juros deveria ser mais barata [no Pix Parcelado] porque não tem o custo da maquininha. Isso é uma vantagem competitiva enorme”, disse ele, no evento “Digital Privacy Summit 2025”, realizado pela Opice Blum Academy na segunda-feira (8/9).
Na avaliação da Associação Brasileira de Bancos (ABBC), que reúne mais de 120 instituições financeiras no País, o novo modelo tem potencial para consolidar o Pix como principal meio de pagamento na aquisição de bens de maior financeiro. “Esse tipo de inovação tende a aumentar a concorrência no setor”, disse em nota Leandro Vilain, CEO da ABBC. Isso se traduziria, segundo ele, “em maior conveniência e menores custos do crédito para o cliente final”.
O Pix Parcelado não apenas será uma nova ferramenta de crédito, como também ajudará as Pequenas e Médias Empresas (PMEs) a abrir um canal de relacionamento com seus clientes, apontou Elias, da ANBC. “É uma transformação para além do crédito; é uma transformação econômica.”