O mercado global de pagamentos entre empresas, o chamado B2B, está em plena ebulição. Estima-se que movimentará US$ 135 trilhões até 2025, segundo a Discover Global Network, uma cifra que mostra o tamanho da transformação em curso nas finanças corporativas. Mais do que uma tendência, a digitalização dos pagamentos B2B está se tornando um fator crítico de competitividade, impulsionada pela busca por eficiência, segurança e controle financeiro.
Se no passado as inovações em pagamentos se concentraram no varejo e no consumidor final, atualmente é o mundo corporativo que se encontra no centro da disrupção. E esse movimento traz não apenas ganhos operacionais, mas efeitos macroeconômicos relevantes, como aumento da produtividade nos serviços, combate à informalidade e maior controle fiscal.
Dor é real
Apesar do avanço das tecnologias de pagamento no setor de consumo, a realidade dentro das empresas ainda é, em grande parte, manual e fragmentada. De acordo com uma pesquisa da Euromonitor e Discover Global Network (de março de 2023), 51% das companhias ainda não utilizam cartões corporativos como meio de pagamento. Isso evidencia um oceano azul de oportunidades para soluções digitais no B2B.
Ao mesmo tempo, 85% dos consumidores empresariais afirmam que não voltariam a fazer negócios com uma empresa após uma experiência ruim com pagamento, conforme a Discover (2024). No mundo B2B, onde a cadeia de valor é longa, multilateral e altamente dependente de confiança, a experiência no processo financeiro é tão importante quanto o produto ou serviço em si.
Digitalização exige profundidade, não superficialidade
Não se trata apenas de trocar o boleto por um cartão ou automatizar um fluxo de pagamento. O desafio do B2B está na complexidade das regras de negócio, nos múltiplos centros de custo, na prestação de contas a diferentes áreas e no atendimento a políticas internas que variam conforme setor, tamanho e grau de governança da empresa.
Por isso, as soluções financeiras mais bem-sucedidas nesse mercado são aquelas que se especializam em um determinado nicho. Dessa forma, entendem profundamente as dores do segmento, oferecendo mais do que apenas uma interface de pagamento. Mas entregando inteligência, segurança e conformidade.
É o que se observa, por exemplo, no setor de eventos corporativos, onde é comum a necessidade de adiantamentos emergenciais, pagamentos descentralizados e prestação de contas sob pressão de tempo e compliance. Soluções especializadas nesse nicho têm permitido aos clientes automatizar toda a jornada financeira, do planejamento à reconciliação, com economia de tempo e redução de riscos.
Tecnologia: a nova fronteira da eficiência corporativa
O mercado brasileiro segue a tendência global. A Infracommerce, em seu IPO de 2021, levantou aproximadamente R$ 870 milhões com a proposta de investir fortemente em tecnologia para digitalização do B2B. Em seu prospecto preliminar, a empresa estimou o mercado nacional de pagamentos corporativos em cerca de R$ 1 trilhão. Assim, reforçou o potencial de crescimento para soluções integradas de pagamentos digitais.
O movimento observado na Infracommerce é apenas um sinal de algo maior: empresas estão cada vez mais conscientes de que o back office financeiro precisa deixar de ser um centro de custo e se tornar um vetor estratégico de produtividade. Investir em plataformas que conectem ERPs, bancos, bandeiras e fluxos de pagamento em um só ecossistema não é mais um diferencial, é uma necessidade competitiva.
Cartões virtuais: agilidade com controle
Dentro do conjunto de soluções que estão ganhando espaço, os cartões virtuais corporativos (VCNs, na sigla em inglês) vêm se destacando. Segundo estudo da Aite Novarica, encomendado pela Discover, os principais benefícios percebidos por empresas americanas que adotaram esse modelo foram:
- Velocidade nas transações (41%)
- Prevenção de fraudes (33%)
- Melhor capacidade de gerenciamento das contas (28%)
No Brasil, esses números refletem uma crescente adoção de cartões corporativos para adiantamentos sob controle, gastos em viagens, compras pontuais e pagamentos emergenciais. Mais do que substituir o reembolso, o VCN permite orquestrar toda a jornada de pagamento com rastreabilidade e governança.
De retaguarda a protagonista
De acordo com o mesmo estudo da Discover e Euromonitor, aproximadamente dois terços das companhias pretendem investir em soluções B2B digitais nos próximos 12 a 24 meses. O cenário indica uma janela decisiva para modernizar o setor, especialmente entre médias e grandes empresas que lidam com múltiplos fornecedores, equipes descentralizadas e desafios de compliance cada vez maiores.
Portanto, a área financeira corporativa vive um momento decisivo. Deixando para trás a imagem de retaguarda, passa a assumir papel central na geração de valor, com tecnologia, inteligência e integração. A transformação dos pagamentos B2B é um dos pilares desse novo protagonismo.
A boa notícia é que o mercado já começou a se mover. A má, para quem ainda não acordou, é que o tempo está curto. A diferença entre empresas que prosperarão e as que ficarão para trás será definida, em grande parte, por sua capacidade de se digitalizar com profundidade e com especialização setorial.
*CEO da Montanari Tecnologia