Rodrigo Cury/Visa | Imagem: divulgação
Rodrigo Cury/Visa | Imagem: divulgação

O avanço da Inteligência Artificial (IA) agêntica, em que sistemas de IA têm autonomia para tomar decisões, é uma das principais tendências para 2026. Na avaliação de Rodrigo Cury, presidente da Visa do Brasil, está em curso uma verdadeira revolução. “A maneira como vamos comprar, gastar e pagar terá uma mudança muito grande com a IA agêntica”, projetou o executivo, em evento com jornalistas na quinta-feira (28/11).

Stablecoins, Pequenas e Médias Empresas (PMEs), assim como o Pix, também abrem avenidas de crescimento para a empresa, que há alguns anos já não se define mais apenas como uma bandeira de cartões. “Somos uma empresa de tecnologia com mais de 230 produtos e serviços”, afirmou Rodrigo, que assumiu a presidência da operação brasileira em outubro.

Em maio deste ano, num evento global, a Visa lançou o “Visa Intelligent Commerce“, um leque de produtos e ferramentas para viabilizar os pagamentos dentro das plataformas de IA Generativa (GenAI). Ou seja, além de buscar produtos, comparar preços e condições, a IA terá capacidade de executar o pagamento. Tudo com tokenização e autenticação biométrica para garantir a segurança das transações, explicou Leandro Garcia, diretor-executivo de Soluções para Pagamentos Digitais da Visa do Brasil.

O executivo explicou que a IA pode até receber comandos recorrentes. “Imagina que você fala para o seu agente: quero que todo último dia do mês você compre um pacote de um quilo de ração para o cachorro. E paga”, disse. Nesse caso, por exemplo, a IA pergunta uma vez, coleta a validação facial do usuário, e a Visa armazena a permissão para realizar essa compra mensalmente, disse Leandro.

IA: centro das decisões

Um dos principais desafios da IA agêntica é garantir que o agente não execute compras indevidas. “A IA, obviamente, precisa ter os controles devidos para não alucinar [cometer erros]. Para não sair comprando. Se eu quero que ela compre um computador de R$ 1 mil, ela não pode comprar um de R$ 10 mil”, exemplificou o executivo. De acordo com ele, o lançamento da solução Visa Intelligent Commerce será primeiro nos EUA em 2026. Em seguida, chegará a outros mercados, entre eles o Brasil.

Conforme Tiago Moherdaui, vice-presidente da Visa Consulting & Analytics Brasil, em 2026 a IA passará a ser o centro das decisões e dos projetos. Nos negócios de consultoria e analytics da companhia, a IA será aplicada principalmente em três frentes: segurança, crédito e personalização. De acordo com o executivo, hoje há mais de 20 pilotos com clientes, incluindo resultados significativos de redução de custos e aumento na aprovação de crédito.

Apesar das oportunidades promissoras em torno da evolução da IA, a tecnologia também está por trás de golpes e fraudes. “Esse foi um ano em que nós vimos um aumento muito grande no uso de Inteligência Artificial e agentes, também por conta dos fraudadores”, afirmou Gustavo Carvalho, vice-presidente de Serviços de Valor Agregado da Visa do Brasil. Globalmente, a empresa consegue detectar e bloquear mais de 500 transações fraudulentas por minuto, informou ele.

Fraudes e Pix

Segundo o executivo, houve aumento de 450% nas menções a IA e agentes na ‘dark web’ entre janeiro e junho de 2025. Além disso, as transações iniciadas por bots cresceram 25% globalmente, com liderança dos Estados Unidos, que registrou 40% de alta. “Ataques de enumeração são os mais comuns aqui no Brasil. Na América Latina, 11% desses ataques acontecem na nossa região”, afirmou.

Ainda no combate a golpes e fraudes, a Visa avançou neste ano em uma solução de antifraude para transações via Pix, que vinha sendo testada desde 2024. De acordo com Gustavo, o piloto contou com quatro bancos e somou 5 bilhões de transações de Pix. Ao todo, foram identificados 317 golpes ou fraudes no valor de quase R$ 600 milhões. “O resultado que obtivemos foi muito bom: a solução conseguiu detectar 82% dessa fraude.”

O sucesso do sistema de pagamento instantâneo criado pelo Banco Central também levou a empresa a investir em uma nova empresa, a Visa Conecta. Lançada em junho deste ano, nasceu para atuar no ecossistema de Open Finance. O foco inicial está na oferta de pagamentos via Pix integrados à jornada do usuário, sem redirecionamento para aplicativos bancários. Isso é possível por meio da chamada Jornada Sem Redirecionamento (JSR), implementada neste ano.

“O Brasil tem um dos melhores sistemas de pagamento instantâneo do mundo, que é o Pix. Também traz para a gente outras oportunidades”, afirmou Rodrigo Cury, citando a Visa Conecta e a solução de antifraude.

Stablecoins, PMEs e alta renda

No próximo ano, a Visa também planeja acelerar em soluções ligadas a stablecoins e finanças programáveis. “No Brasil, a gente passou 2025 muito entendendo e também ajudando o mercado a entender o que é stablecoin. Para 2026, a gente vai ver muito mais produtos na rua, apontou Antônia Souza, diretora de Blockchain e Criptomoedas da Visa para a América Latina. “Temos conversas com várias instituições neste momento”, disse ela, sem abrir detalhes.

Há cerca de um mês, a empresa lançou uma solução do Visa Direct com stablecoin, que permite pagamentos transfronteiriços (cross-border) usando esse tipo de moeda. “O que a gente está desbloqueando com essa solução? A possibilidade de que empresas façam pagamentos com stablecoin. Para que, de uma conta em moeda fiduciária, em real ou em dólar, eu consiga receber do outro lado numa carteira”, explicou. Além disso, a Visa prevê avançar com sua plataforma de tokenização de ativos, a Visa Tokenized Asset Platform (VTAP).

Para o segmento de PMEs, uma das novidades da Visa é uma conta global white-label (com a marca do parceiro) que permite a pequenos negócios movimentarem recursos em até 31 moedas diferentes, com conversão automática. “Efetivamente, a gente está conectando o que ele já recebe aqui do lado doméstico com o internacional, pensando em uma solução única no canal”, explicou Marcela Pinori, vice-presidente de Soluções Comerciais da Visa do Brasil. A executiva destacou que a principal vantagem é que o emissor precisa fazer apenas uma conexão com a Visa, que faz todo o trabalho de integração com as 31 moedas.

Marcela ressaltou, ainda, o potencial do segmento de PMEs, que representa uma das principais alavancas estratégicas de crescimento da companhia no mundo. A executiva revelou que, de um volume de US$ 35 trilhões em pagamentos B2B, cartões representam apenas 2% do total. As PMEs respondem por dois terços desse montante.