O Banco Central (BC) acendeu um sinal de alerta sobre o aumento dos riscos tecnológicos no Sistema Financeiro Nacional (SFN), com a “crescente complexidade dos ataques cibernéticos”. O tema está presente na ata da 62ª reunião do Comitê de Estabilidade Financeira (Comef), realizada em 19/8 e 20/8. O comitê ressaltou que a transformação digital e a inovação financeira continuam sendo cruciais para ampliar a eficiência e a inclusão, mas vêm acompanhadas de riscos que não podem ser ignorados.
De acordo com o texto, divulgado nesta quarta-feira (27/8) pelo regulador, os ataques cibernéticos vêm explorando “vulnerabilidades operacionais e tecnológicas”. O comitê destacou o que chama de “crescente dependência de serviços prestados por terceiros e o uso disseminado de APIs, em muitos casos sem a devida avaliação periódica dos riscos e sem monitoramento operacional adequado”. Isso torna a gestão de riscos mais desafiadora, apontou o documento.
API é a sigla em inglês para Interface de Programação de Aplicação. Na prática, é um conjunto de regras e protocolos que permite que diferentes softwares e sistemas se comuniquem e interajam entre si. Esse tipo de tecnologia não só ganhou força no setor financeiro de maneira geral, como também é a base para o Banking as a Service (BaaS). Esse modelo de negócio, inclusive, terá uma regulamentação específica do BC, provavelmente ainda em 2025.
Para o Comef, as instituições autorizadas (bancos, fintechs e demais reguladas) devem aprimorar continuamente seus sistemas de gerenciamento de riscos. Conforme o texto, isso contempla o “adequado tratamento do risco tecnológico – o que inclui processos robustos de resposta a incidentes cibernéticos”.
O comitê apontou, ainda, a importância do desenvolvimento de “ecossistemas resilientes”. Eles envolvem mecanismos dedicados à gestão de incidentes, crises e prevenção a fraudes, “considerando os requisitos operacionais específicos”.
Mais pontos de atenção
Além do risco cibernético, o comitê do BC chamou atenção para outros temas. O documento ressaltou que, “mesmo em desaceleração, o crédito amplo mantém ritmo de crescimento historicamente elevado, em um ambiente marcado por taxa básica de juros contracionista e elevado endividamento de famílias e empresas”. O texto acrescentou que a “materialização de risco para micro, pequenas e médias empresas tem aumentado”. Já no caso das famílias, “as modalidades de maior risco continuam crescendo em ritmo superior ao das modalidades de menor risco, enquanto os ativos problemáticos estão em alta, principalmente no crédito rural”.
O comitê também apontou riscos no cenário externo. Segundo a ata, “o cenário global prospectivo ainda apresenta riscos que podem levar à materialização de cenários de reprecificação de ativos financeiros globais”. Entre os fatores, estão “as incertezas acerca do reposicionamento das políticas comerciais, dos eventos geopolíticos e de seus impactos sobre os ritmos da atividade e da inflação”. Além disso, há dúvidas sobre “os níveis de equilíbrio das taxas de juros no longo prazo e a sustentabilidade fiscal de economias centrais”.