
O aumento da carga tributária para as fintechs, anunciado nesta semana pelo Governo Federal, pode pressionar a rentabilidade e a competitividade dessas empresas. A análise é da agência de classificação de risco Fitch Ratings, que enxerga impacto também para os bancos, mas em menor escala.
Por meio da Medida Provisória nº 1.303/2025, o governo aumentou de 9% para 15% a Contribuição Social sobre o Lucro Líquido (CSLL) para bancos digitais e fintechs em geral. No caso das financeiras, a alíquota subiu de 15% para 20%, mesmo patamar pago pelos bancos. Além disso, com o Decreto nº 12.499/2025, o governo Lula introduziu Imposto sobre Operações Financeiras (IOF) de 0,38% sobre a subscrição primária de cotas de Fundos de Investimento em Direitos Creditórios (FIDCs), afetando uma fonte comum de recursos das fintechs.
“As fintechs que ainda não atingiram maturidade devem enfrentar um adiamento na trajetória de crescimento e rentabilidade projetados. Ou seja, vai postergar a chegada ao breakeven (equilíbrio financeiro) para diversas instituições. E para as fintechs já maduras, de maior porte, o impacto é mais na questão da rentabilidade”, analisa Pedro Carvalho, diretor responsável pela área de Instituições Financeiras Não Bancárias no Brasil da Fitch, em conversa com o Finsiders Brasil.
Para esse tipo de player, a alta dos impostos traz implicações relevantes para os modelos de negócio, sobretudo em relação à necessidade de capital. “Pode ser que essas empresas tenham que fazer mais rodadas de captação do que haviam planejado, justamente para suprir um capital que não esperavam precisar”, afirma Pedro. “Mas será que é o momento para levantar capital, diante do cenário de incertezas globais?”
O especialista ressalta que as fintechs, em sua maioria, não têm a escala dos bancos. “O custo de captação das fintechs já é maior, e agora será ainda mais pressionado”, diz. Consequentemente, essas empresas podem ter mais dificuldade para competir com os bancos. “Então, as fintechs provavelmente vão repassar esse custo maior para os clientes”, aponta ele. Ainda assim, o desafio não será trivial, o que pode levar muitas fintechs a ficarem pelo caminho. “Não diria que [elas] vão morrer, mas vai acontecer uma ‘seleção natural’, uma consolidação. Isso já acontece, e pode ser acelerado.”
Mudanças inesperadas
Para os bancos, de maneira geral, os impactos potenciais das novas medidas tributárias devem ser menos intensos. Isso porque essas instituições são de maior porte, têm uma atuação diversificada e menores custos de captação em comparação às fintechs reguladas. “O principal impacto para os bancos talvez seja uma menor concorrência das fintechs. Mas é algo que ainda precisamos analisar”, diz Claudio Gallina, diretor sênior da área de Instituições Financeiras da Fitch.
O especialista destaca que, nos últimos anos, alguns bancos sofreram com o crédito porque entraram em mercados que normalmente não atuavam com tanta intensidade, como o crédito no segmento de varejo. Tudo isso aconteceu por uma estratégia de defesa diante do avanço das fintechs, que vieram com apetite grande, incluindo produtos como empréstimos com juros mais baixos. “Com isso, vimos diversos bancos terem problema na carteira de crédito.”
Pedro aponta o caráter inesperado das mudanças tributárias. Ao contrário de iniciativas capitaneadas pelo Banco Central (BC), que normalmente passam por consultas públicas ao mercado, a MP e o decreto do governo foram publicadas sem debate prévio. “Esse tipo de alteração regulatória inesperada pode invibializar modelos de negócio das fintechs ou mesmo fazer algumas delas desaparecerem por não conseguir competir”, diz Pedro. “Eu gosto de dizer que o Brasil é um país onde o longo prazo é 24 horas. O negócio muda tão rápido”, complementa Claudio.