TECNOLOGIA

Banco Central quer entender como as instituições financeiras usam IA

Segundo Otávio Damaso, diretor de Regulação do BC, o órgão se preocupa com a governança e os riscos no uso da tecnologia

Otávio Damaso, diretor de Regulação do Banco Central, em evento da PwC
Otávio Damaso, diretor de Regulação do Banco Central, em evento da PwC | Imagem: Reprodução/vídeo

O Banco Central (BC) vai apresentar em breve uma pesquisa para entender como as instituições financeiras estão usando Inteligência Artificial (IA). Nos últimos meses, o órgão regulador já vem colhendo informações e percepções a respeito desse tema junto a bancos, fintechs, empresas de tecnologia e outros atores. Com o levantamento, o BC pretende mapear a utilização da IA no setor, assim como identificar os riscos e as tendências, na visão das instituições.

“Esse questionário com a indústria financeira nos permitirá saber como [as instituições] estão aplicando IA, como se organizam em termos de dados, quais riscos enxergam e o que elas veem em termos de aplicações de IA para daqui a cinco ou 10 anos”, disse Otávio Damaso, diretor de Regulação do BC. O porta-voz participou nesta quarta-feira (23/10) do Digital Week 2024, evento online da consultoria PwC.

De acordo com o porta-voz, o BC está em uma fase de aprendizado em relação à IA. Isso significa, por exemplo, conduzir essas conversas com o mercado, mas também testar a tecnologia internamente e, ainda, acompanhar a evolução da regulamentação. Neste momento, o órgão não tem nenhum projeto para construir uma regulação específica para IA, disse Damaso.

Arcabouço regulatório

Segundo ele, o sistema financeiro no Brasil já conta com regras que, em muitos casos, se aplicam ao desenvolvimento da IA. Entre as normas, citou Damaso, estão a lei do sigilo bancário e a resolução que exige das instituições reguladas a chamada Política de Responsabilidade Social, Ambiental e Climática. “Os principais pilares já estão presentes nesse arcabouço. Naturalmente, agora vamos ter que repensar essas questões dentro de tudo que temos visto de evolução.”

O diretor do BC lembrou que há atualmente no Congresso um projeto de lei para regulamentar o uso da IA no País. Além disso, segundo ele, vêm acontecendo discussões com organismos internacionais a respeito de temas como ética e privacidade na utilização da tecnologia. “Tem também a questão do consentimento do cliente para uso dos dados, que é inclusive um princípio que faz parte do Open Finance“, afirmou.

Damaso destacou que as principais preocupações do BC são em relação à governança e aos riscos no uso da IA no setor financeiro. “Não vamos entrar na tecnologia, no que pode e no que não pode”, disse. “Se a gente precisasse colocar de pé em seis meses uma regulação de IA, eu diria que a gente iria focar em governança em todos os seus aspectos. Faça com que seu conselho de administração, a diretoria executiva e todo o quadro de funcionários conheçam sua política, os instrumentos e saibam usar [IA] dentro daquela norma.”

Oportunidades

Sobre o potencial da IA no setor financeiro, Damaso enxerga três grandes áreas que podem ganhar com a utilização da tecnologia em suas mais diversas manifestações, como IA generativa (GenAI), machine learning (aprendizado de máquina) e agentes de IA. O primeiro exemplo é a aplicação de IA no backoffice das instituições financeiras para automatizar processos, melhorar eficiência e gerar inteligência.

A área de crédito é outra que tende a se beneficiar com a tecnologia, na visão de Damaso. “Isso inclui a leitura de dados estruturados ou não estruturados, a velocidade para a aprovação de um crédito. Se voltarmos 20 ou 30 anos no tempo, por exemplo, uma operação de CDC [crédito direto ao consumidor] demorava três a cinco dias para sair. Hoje acontece em segundos, com tudo mapeado”, disse. Ainda na parte de crédito, combinando IA com dados do Open Finance, o diretor do BC prevê uma “revolução” na experiência para os clientes e na mitigação de risco para as instituições.

Damaso enxerga, ainda, um “oceano de oportunidades” no uso de IA com a finalidade de educação financeira. “Hoje a grande dificuldade do brasileiro é olhar para sua vida financeira e entender onde e como está gastando dinheiro, ou mesmo em qual momento do mês vai faltar recurso”, afirmou.