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Cresce interesse de fintechs por licença de financeira

De acordo com análise da Fitch Ratings, movimento tem como principais objetivos diversificar, estender prazos e reduzir custos de captação

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Bancos e fintechs | Imagem: Adobe Stock

Em busca de novas fontes de financiamento (funding), as fintechs no Brasil estão migrando de Sociedade de Crédito Direto (SCD) para financeira. O movimento é crescente e tem como principais objetivos diversificar, estender prazos e reduzir custos de captação. A análise é da agência de classificação de risco Fitch Ratings, publicada nesta terça-feira (10/6).

De acordo com a Fitch, as estratégias para se transformar em financeira (Sociedade de Crédito, Financiamento e Investimento, ou SCFI, conforme a nomenclatura técnica do Banco Central) incluem fusões e aquisições, mudança de natureza jurídica ou solicitação de novas licenças junto ao regulador.

No último um ano e meio, sete fintechs reguladas alteraram a natureza jurídica de SCD para financeira. Entre elas estão, por exemplo, Cora, RecargaPay e Kanastra. A análise da Fitch cita, ainda, a criação de novas instituições desse tipo, como as financeiras do Magalu e da Stone. Na semana passada, o BC também aprovou a compra da SF3 (antiga Santana Financeira) pela CloudWalk, dona da InfinitePay.

Diferentemente de outros mercados na América Latina, onde fintechs vêm obtendo licenças bancárias com o objetivo de ampliar acesso a funding, no Brasil o movimento é menos evidente. Segundo a Fitch, o motivo está na baixa diferença entre financeiras e bancos em termos de produtos permitidos. Além de um arcabouço regulatório mais rígido e maior carga tributária para instituições bancárias.

A análise da Fitch não menciona, mas esse último caiu por terra agora que o governo equiparou as alíquotas de Contribuição Social sobre o Lucro Líquido (CSLL) pagas por fintechs e bancos. Além disso, o aumento do Imposto sobre Operações Financeiras (IOF) e o fim da isenção do imposto em instrumentos de captação de recursos é outro ponto de atenção para as fintechs. A cobrança dos tributos é uma tentativa do governo de atingir as metas fiscais, mas que vem sendo amplamente criticada pelo mercado.

Ganhos e riscos

Na visão da Fitch, tornar-se financeira representa um passo relevante para as instituições financeiras não bancárias (IFNBs). Isso porque amplia o portfólio de produtos, aumenta as vendas cruzadas (cross-sell) e facilita a expansão da marca. Outro ponto-chave, segundo a agência, é a capacidade de alavancagem, já que as SCDs não podem emitir dívidas — fator que pode impulsionar a rentabilidade das operações.

“Esse movimento representa um passo crucial para as fintechs. A maioria delas tradicionalmente depende de captação via empréstimos interbancários, debêntures e, principalmente, Fundos de Investimento em Direitos Creditórios (FIDCs)”, disse a Fitch. Conforme a análise da agência, esses fundos de recebíveis cresceram significativamente nos últimos anos “devido ao apetite crescente dos investidores por crédito privado, embora estejam sujeitos às condições de mercado e demandem mais capital por conta dos requisitos de subordinação.”

Na prática, ao obter o “status” de financeira, as fintechs passam a acessar novas fontes de funding, como Recibos de Depósitos Bancários (RDBs), Certificados de Depósitos Bancários (CDBs), Letras de Câmbio (LCs), entre outros instrumentos de captação. Recentemente, o BC também autorizou a emissão de Letras de Crédito Imobiliário (LCIs) pelas financeiras.

“O acesso a uma gama mais ampla de investidores, tanto de varejo quanto institucionais, pode aumentar a liquidez, reduzir os custos de captação e ajudar a mitigar os riscos de refinanciamento e de concentração”, disse a Fitch.

Entretanto, a mudança de atuação para financeira pode elevar os riscos de crédito e operacionais, ponderou a Fitch. “Uma expansão agressiva exigirá maiores investimentos em controles e políticas de risco, o que pode elevar os custos”, afirmou. A agência também alerta para o desafio regulatório e o risco de capitalização inadequada, considerando o porte ainda limitado da maioria das fintechs envolvidas.