O início de 2025 trouxe com ele as novas regras contábeis para instrumentos financeiros com a entrada em vigor da Resolução 4.966 do Banco Central (BC). Após anos de preparo, a mudança de modelo representa a convergência do Plano Contábil das Instituições do Sistema Financeiro Nacional (Cosif) ao padrão internacional IFRS9.
A transição marca o fim do ciclo da Resolução 2.682. Ela foi a base para o cálculo de provisão e risco por parte das instituições financeiras brasileiras por mais de 20 anos. A nova resolução apresenta uma mudança significativa no tratamento dos ativos financeiros e no gerenciamento de risco de crédito, o que pode ser visto como novas oportunidades para as instituições financeiras.
De forma geral, a partir de agora, haverá mais flexibilidade, permitindo que as organizações escolham entre a adoção de modelos próprios ou a utilização de modelos simplificados para a classificação de seus ativos e cálculo de perdas esperadas, o chamado impairment.
Por outro lado, a nova norma traz uma maior carga de provisão para atrasos de curto prazo. No entanto, há uma abordagem mais favorável para atrasos de longo prazo – o que pode contribuir para uma recuperação mais eficiente dos créditos e uma gestão mais robusta do risco. Também vale destacar a possibilidade do uso de curvas de atualização próprias permitindo, assim um tratamento diferenciado para carteiras destinadas a operações de trading. Isso amplia o potencial de assertividade nas análises.
De acordo com levantamento do BC realizado com as entidades responsáveis por cerca de 84% das exposições de crédito, elas projetam um aumento agregado de R$ 37,8 bilhões em provisões. Esse montante equivale a 10,7% das provisões atuais.
Padrão internacional
A transição entre resoluções ainda representa o fim de um ciclo marcado pela classificação tradicional de ratings de A a H, abrindo mais opções. Agora, inicia-se uma nova era, com mais oportunidades e um modelo mais aderente às normas internacionais, reforçando a competitividade e a solidez do sistema financeiro do Brasil.
Passamos a lidar com uma maior qualidade de crédito e colaterais, alinhado às melhores práticas contábeis internacionais. Por se tratar de um padrão internacional, o IFRS9 posiciona o mercado brasileiro em competitividade no cenário global. Com mais transparência, previsibilidade e sofisticação na gestão de riscos, os investidores internacionais tendem a serem atraídos para o mercado brasileiro, o que tem como consequência mais crescimento econômico e impulso à inovação.
Desafios
Como toda mudança, o novo padrão terá impacto no dia a dia das instituições. Tendo isso em mente, o BC e o Conselho Monetário Nacional (CMN) estabeleceram, em dezembro de 2024, um cronograma de transição que irá de 2025 a 2028.
Independentemente das mudanças apresentadas, o fato é que o impacto será sentido proporcionalmente inverso a como cada instituição está preparada para as adaptações. Ou seja: quanto mais adaptada, menos impacto, e vice-versa. Os bancos, por exemplo, precisam ajustar suas políticas de crédito, precificação e cobrança, personalizadas a cada estratégia de negócios dos clientes.
Outro desafio enfrentado pelos bancos será os novos critérios de mensuração e reconhecimento das perdas de crédito. Ao contrário do modelo anterior baseado em perdas já incorridas, o IFRS9 exige que as instituições antecipem perdas futuras por meio de preditivos complexos. Tal adaptação, como muitas outras, requer investimento em tecnologia para desenvolver modelos eficazes. Nesse ponto, é fundamental que as instituições contem com parceiros especializados na implementação de novos modelos e que ofereçam suporte completo.
O que 2025 inaugura não são apenas mudanças regulatórias: são oportunidades para transformar desafios em vantagens competitivas nos negócios.
*Marcelo Rosa é diretor da unidade de negócios de ‘core banking’ da Dimensa.