
A partir desta segunda-feira (3/11), entra em vigor o novo trilho do voucher, sistema obrigatório para transações ligadas aos benefícios do Programa de Alimentação do Trabalhador (PAT). A mudança marca uma nova etapa na modernização do setor e deve ampliar a concorrência entre emissores, credenciadoras e bandeiras.
De acordo com Alessandro Rabelo, diretor executivo de Soluções da Visa do Brasil e coordenador do grupo de trabalho de benefícios de arranjos abertos da Abecs, entidade que representa o setor, o trilho é um produto disponível para todas as credenciadoras implementarem. Segundo ele, isso “traz um ganha-ganha para todos e coloca esse produto em um patamar semelhante ao crédito e ao débito”.
Alessandro lembra que as transações com benefícios já vinham ocorrendo de forma transitória desde 2023, dentro dos trilhos de crédito e débito. Mas o movimento de transição se intensificou a partir de abril de 2025, com algumas credenciadoras já aptos a processar operações no novo arranjo. O modelo envolve benefícios como alimentação e cultura, com aceitação restrita a estabelecimentos elegíveis, como padarias, restaurantes, supermercados, livrarias, cinemas e teatros.
Segundo ele, o novo sistema garante aderência total à legislação aplicável e amplia a transparência nas relações comerciais. Agora, o estabelecimento escolhe a credenciadora de sua preferência e negocia taxas de forma direta, com liberdade e clareza nas condições.
Marco de modernização
Para Douglas Barrochelo, CEO da Biz, a interoperabilidade inaugurada pelo novo trilho é comparável à transformação que o Pix trouxe para os pagamentos. “O novo trilho do voucher representa um marco de modernização no mercado de benefícios no Brasil. Assim como o Pix revolucionou os pagamentos, a interoperabilidade dos benefícios traz um salto de eficiência, inclusão e liberdade para empresas e trabalhadores”, diz.
Segundo ele, o setor está migrando de um modelo fechado, dominado por poucas operadoras, para um ambiente aberto e padronizado que conecta bandeiras, adquirentes e emissores. “Esse novo desenho estimula a concorrência, reduz custos e acelera a inovação, sem abrir mão da essência do PAT”, afirma.
Douglas reforça que o propósito do programa — garantir segurança alimentar — é preservado. “O novo trilho mantém essa essência, agora com mais tecnologia e rastreabilidade, fortalecendo a segurança do sistema e ampliando o impacto social do programa”.
Impactos
Na visão de Doug Storf, CEO da Swap, o novo trilho consolida uma mudança estrutural e valida a tese que inspirou a criação da empresa. “O futuro dos benefícios corporativos exige uma infraestrutura capaz de lidar com múltiplas naturezas de saldo, regras regulatórias distintas e arranjos de pagamento com fluxos próprios de liquidação. Foi para isso que criamos o modelo de Benefits as a Service”, explica.
A Swap foi uma das primeiras a implementar o novo sistema e a primeira emissora habilitada na Mastercard, após um processo técnico que envolveu integração com bandeiras e credenciadoras. “Atuamos em conjunto com adquirentes e credenciadoras durante toda a fase de certificação, contribuindo para definir padrões que agora estão sendo adotados por todo o mercado”, diz Doug.
Segundo ele, o impacto para os emissores parceiros é mínimo, já que a adequação técnica e regulatória é feita pela própria plataforma. “O trilho voucher não é um obstáculo, mas um catalisador de sofisticação para o setor. Ele eleva a régua técnica e regulatória, separando quem opera tecnologia de verdade de quem apenas distribui cartões”.
Concorrência, integração e ganhos
A abertura de mercado prevista pela Lei 14.442/2022 é vista como oportunidade tanto pela Swap quanto pela Abecs. Para Doug, o novo cenário favorece inovação e foco na experiência do trabalhador. “A concorrência força a inovação e foca no que realmente importa: o trabalhador e o RH”.
Alessandro, da Abecs, aponta que o modelo aberto favorece também o consumidor, permitindo o uso de múltiplos benefícios em um único cartão. “Hoje, em um único plástico, o trabalhador pode ter benefícios como alimentação, auxílio e cultura. E, ainda, usar o mesmo cartão como crédito, débito ou pré-pago”, afirma. Ele acrescenta que o novo trilho “traz ganhos também para o usuário final”, ao permitir o uso do cartão em qualquer estabelecimento elegível, sem ruptura de aceitação.
Embora não projete aumento imediato de volume nas transações, Alessandro destaca que a concorrência tende a gerar eficiência e melhores condições de negociação entre credenciadores e estabelecimentos, o que pode se refletir no trabalhador a longo prazo.
Para Douglas, a interoperabilidade inaugura uma fase de maior autonomia para empresas e trabalhadores. “As companhias passam a ter o poder de escolher soluções que traduzem sua cultura e propósito, e o trabalhador ganha autonomia real sobre o uso dos seus benefícios. É o fim de um modelo engessado e o início de uma nova era”.