CINCO ANOS

Open Finance já conecta 65 milhões de contas e movimenta R$ 1,2 bi por mês, diz BC

Em 'live' nesta segunda-feira (11/8), Mardilson Queiroz destacou avanços, desafios e planos de integração internacional e portabilidade digital de salário

Imagem: print de tela
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O Open Finance já conecta 65 milhões de contas e movimenta cerca de R$ 1,2 bilhão por mês em pagamentos no Brasil. As informações foram apresentadas nesta segunda-feira (11/8) por Mardilson Queiroz, chefe do Departamento de Regulação do Sistema Financeiro do Banco Central (BC). Ele falou durante a live especial que marcou os cinco anos de funcionamento do sistema. “Já são 100 milhões de autorizações de compartilhamento de dados e de pagamentos, e cerca de 4 bilhões de chamadas de API por semana entre instituições”, afirmou. API é a sigla em inglês para interface de programação de aplicações.

Criado em 2020, o Open Finance padroniza a comunicação entre instituições financeiras, permitindo que o cliente autorize a transferência segura de seus dados para acessar produtos e serviços mais adequados. Essa integração possibilita, por exemplo, visualizar contas de diferentes bancos em um único aplicativo. E, também, gerenciar investimentos de forma centralizada, comprovar renda — inclusive no trabalho informal — e receber ofertas de crédito mais ajustadas ao perfil.

Integrações

A estrutura também já está integrada ao Pix, permitindo pagamentos e transferências a partir de qualquer conta cadastrada sem sair do aplicativo escolhido. Funções como Pix por Aproximação, pagamentos em e-commerce, agendamentos e transferências automáticas entre contas de diferentes instituições também são viabilizadas pelo Open Finance. Segundo Mardilson, isso amplia a conveniência e o poder de negociação do consumidor: “O cliente passa a ter maior poder de barganha junto aos ofertantes de serviços financeiros”.

O modelo brasileiro tem escopo mais abrangente que o de países como Reino Unido e membros da União Europeia, que começaram com foco apenas em contas-correntes e cartões. No Brasil, inclui dados de investimentos, operações de crédito, câmbio e cartões de crédito, e a participação obrigatória alcança um número maior de instituições. “O nosso projeto já nasceu mais amplo. Hoje, conversamos de igual para igual com o Reino Unido sobre evolução do Open Finance”, disse Mardilson.

Portabilidade de salário

Para os próximos dois anos, o BC prevê avanços como a portabilidade digital de salário, que permitirá transferir automaticamente o pagamento recebido em uma instituição para outra de forma imediata, usando apenas o aplicativo bancário. Hoje, esse processo ainda é burocrático e fragmentado. Outro objetivo é ampliar a interoperabilidade internacional, conectando sistemas financeiros de diferentes países para que empresas possam usar o Open Finance em operações de importação e exportação. O Brasil já participa de fóruns internacionais sobre o tema, como o Financial Stability Board (FSB).

Apesar dos avanços, há obstáculos. Apenas 5% das conexões envolvem empresas, em razão da maior complexidade para autorizar o compartilhamento de dados no caso de pessoa jurídica. Há resistências naturais no mercado e diferenças tecnológicas entre grandes bancos e instituições menores, que tornam a integração mais lenta. Internamente, o BC também enfrenta falta de recursos humanos e orçamentários para manter o ritmo de expansão. “Se o Banco Central não alcançar autonomia administrativa e financeira, será difícil continuar nesse ritmo”, alertou Mardilson, citando a PEC 65, que prevê essa autonomia.

Na avaliação dele, bancos digitais têm usado o Open Finance com mais intensidade para conquistar clientes, enquanto os grandes bancos avançam de forma mais cautelosa. Essa diferença, segundo o BC, já começa a gerar benefícios concretos para o consumidor, como redução de juros em operações de crédito e maior customização de serviços. “É uma questão de tempo para que o impacto seja percebido em todo o mercado”, concluiu.