APOSTAS ONLINE

Quem aposta em ‘bets’ tem maior risco de crédito, diz Galípolo em CPI no Senado

Segundo análises do Banco Central, o fluxo de recursos movimentado por mês em sites de apostas fica entre R$ 20 bi e R$ 30 bi

Gabriel Galípolo, presidente do BC, na CPI das Bets no Senado | Imagem: print de tela
Gabriel Galípolo, presidente do BC, na CPI das Bets no Senado | Imagem: print de tela

O presidente do Banco Central (BC), Gabriel Galípolo, afirmou nesta terça-feira (8/4) que as instituições financeiras e de pagamento estão considerando o hábito de apostas online (as chamadas bets) na análise de crédito e já classificam esses perfil de cliente como de maior risco.

“Os estudos que fizemos já revelam que os apostadores costumam ter avaliação de crédito pior. Esse hábito passou a entrar na análise de risco de crédito, no score dos bancos”, disse Galípolo, em depoimento à CPI das Bets, no Senado. “Hoje, a maior parte das instituições, ao identificarem um risco maior de inadimplência de quem aposta, acabam cobrando um custo mais elevado para dar crédito a esses clientes.”

O presidente do BC destacou que o regulador tem trabalhado, ainda, para compreender melhor como o comportamento de apostas afeta a renda das famílias e o sistema financeiro como um todo. “Estamos tentando reunir mais dados para entender como esse comportamento está migrando. Esse saldo entre o que é gasto e o que é recuperado como prêmio é essencial para compreender o impacto na renda”, disse.

Movimentações chegam a R$ 30 bi/mês

De acordo com as análises mais recentes feitas pelo BC, o fluxo de recursos movimentados em sites de apostas fica entre R$ 20 bilhões e R$ 30 bilhões por mês. Em agosto de 2024, o BC publicou uma nota técnica que estimava um gasto mensal, em média, de R$ 20,8 bilhões em bets. O estudo trazia, então, dados anteriores à regulamentação do setor, que entrou em vigor em janeiro de 2025. 

“Na época que fizemos aquele primeiro estudo, chegamos a conversar com algumas instituições. As estimativas delas variavam muito”, citou Rogério Lucca, secretário-executivo do BC, também presente na CPI das Bets. “Com a entrada em vigor da regulamentação, de janeiro a março deste ano, chegamos a algo em torno de R$ 20 bilhões a R$ 30 bilhões por mês”, afirmou. “Conforme temos conversado com a SPA [Secretaria de Prêmios e Apostas, ligado ao Ministério da Fazenda], a estimativa é que mais de 90% desse valor volte ao apostador, como prêmio.”

O presidente do BC reforçou que a autoridade monetária não tem competência legal para regular, fiscalizar e sancionar os sites de apostas. “Não há competência atribuída ao BC na Lei 14.790. Nosso papel é supervisionar instituições autorizadas, como bancos e Instituições de Pagamento (IPs), em relação a medidas de prevenção à lavagem de dinheiro e combate ao financiamento do terrorismo”, explicou.

Conforme Galípolo, o BC e a SPA mantêm uma relação de cooperação e diálogo. Ou seja, quando a SPA identifica operações irregulares envolvendo instituições autorizadas pelo BC, ela comunica ao regulador do setor financeiro. “Com base nas informações que recebemos da SPA, atuamos junto às instituições para que elas tenham os processos adequados de prevenção e combate à lavagem de dinheiro, mecanismos de compliance, ‘conheça seu cliente’ (KYC) e ‘conheça seu parceiro’ (KYP)”, disse.

De acordo com o presidente do BC, o regulador do setor financeiro recebeu a primeira remessa de informações da SPA em 13 de março último. “Acho que o incômodo dos senhores [senadores] decorre por estarmos há cinco anos sem uma regulamentação [para bets]. Essa regulamentação começou agora, e não é do Banco Central. E nós, uma vez informados pela SPA, vamos dizer para as instituições autorizadas analisarem as empresas que estão operando apostas e não têm autorização. E a sanção é feita pela própria SPA, não pelo BC. Ela está prevista na lei das bets, que não cita o Banco Central”, disse. 

Educação financeira

Um dos pontos mais preocupantes, segundo Galípolo, é que muitos brasileiros tratam apostas como forma de investimento. Ele apontou, por exemplo, um estudo da Associação Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiro e de Capitais (Anbima), que mostrou que apostas vêm sendo consideradas uma das principais opções de investimento. “Temos um processo contínuo de educação financeira, em conjunto com as instituições financeiras, para orientar a população.”

De acordo com Juliana Mozachi Sandri, chefe-adjunta do Departamento de Supervisão de Conduta do BC, o regulador vem reforçando as campanhas de educação financeira. O BC, disse ela, leva esse tema para milhares de escolas no Brasil. E atua com o tripé “planejamento, poupança e uso consciente do crédito”, disse Juliana. 

O Senado instalou a CPI das Bets em 12 de novembro de 2024 para investigar o impacto das apostas online no orçamento dos brasileiros e a possível associação com organizações criminosas. A relatora da comissão é a senadora Soraya Thronicke (Podemos-MS) e o presidente é o senador Dr. Hiran (PP-RR).