JUROS

"Redução do custo do crédito é desafio central", diz presidente do BC

Galípolo defendeu juros básicos restritivos e atribuiu o elevado custo do crédito ao "descolamento" dessa taxa em relação às cobradas no mercado

Gabriel Galípolo/BC
Gabriel Galípolo/BC | Imagem: print de tela

O presidente do Banco Central, Gabriel Galípolo, defendeu nesta sexta-feira (14/2) em evento realizado na Fiesp que é preciso manter a taxa de juros em um nível restritivo para garantir a convergência da inflação para a meta. Ao mesmo tempo, disse que a redução do custo do crédito é um desafio central para a economia brasileira, destacando que os juros cobrados no mercado estão “descolados” da taxa básica da economia.

“Há uma agenda que inicia lá atrás com a discussão sobre spread bancário. Mas eu tenho tentado colocar nos termos de como é que a gente consegue fazer com que o crédito de menor custo ganhe importância”, disse Galípolo.

Também no evento, o presidente da Federação Brasileira de Bancos (Febraban), Isaac Sidney, concordou que é preciso enfrentar a agenda do spread bancário. “Nós estamos convivendo ainda no Brasil com altas taxas de juros. E não estou me referindo à Selic, eu estou me referindo, de fato, às taxas bancárias. Não interessa aos bancos terem e manterem, praticarem taxas de juros altos. O que nós queremos é um ambiente financeiro saudável e para isso é importante atacarmos as causas estruturais”, afirmou.

Para Galípolo, a solução passa pelo fortalecimento de garantias e colateralização do crédito. Ele defende medidas de ordem legal e tecnológica para reduzir a percepção de risco dos bancos e facilitar o acesso a financiamentos mais baratos. “Isso, para mim, parece estar muito associado com a possibilidade de colateralização de crédito, de melhores garantias, de uma redução de percepção de risco”, explicou. “Mas também envolve uma série de medidas. Tanto de ordem legal, quanto de ordem infralegal, seja de tecnologia, infraestrutura, experiência do consumidor, [de educação financeira] do cliente, quando ele vai buscar crédito.

Uníssono

O custo do crédito no Brasil foi citado por Guilherme Gerdau, presidente do Conselho do Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial (IED). “Segundo os cálculos que nós fizemos lá no IED, para cada um ponto percentual do aumento da taxa Selic, estimamos aproximadamente em torno de R$ 50 bilhões de aumento na dívida bruta. Embora o patamar da Selic esteja no centro do debate do Banco Central, devemos lembrar a todos que as empresas e famílias tomam crédito a uma taxa de juros que vão muito além da taxa básica.”

Luiza Trajano, presidente do Conselho do Magazine Luiza, apresentou um número ainda maior para endossar a tese. “Cada vez que aumenta um ponto no juro, não é R$ 40 bilhões que aumenta no déficit, é R$ 80 bilhões. O varejo é aquele primeiro que sofre e é o primeiro que demanda, é dele que sai tudo”. E emendou: “A pequena e média empresa não aguenta mais sobreviver com isso, não tem condição isso, e é ela que gera o emprego. Só queria pedir para ele [Galípolo], por favor, encontrar uma outra forma [de combater a inflação], tem que pensar fora da caixa.”

Reformas estruturais

Além do crédito, Galípolo apontou desafios estruturais que dificultam a transmissão da política monetária no Brasil e comprometem o crescimento econômico sustentável. Ele argumenta que o país convive há décadas com mecanismos que reduzem a eficácia da taxa de juros na economia real. “Ao longo de décadas, diversos setores da sociedade desenvolveram, às vezes, mecanismos, vacinas que reduzem esse canal de transmissão, demandando que a gente tenha que conviver com doses do remédio mais elevadas para que aquele remédio possa fazer efeito.”

Ele também mencionou a importância de acompanhar os impactos da política monetária ao longo do tempo, evitando decisões precipitadas. “Queremos ter certeza e tomar tempo para ter certeza que dados de alta frequência não estejam produzindo ou transmitindo apenas uma volatilidade que não se revele em uma tendência.”

Galípolo citou a experiência internacional para reforçar a necessidade de manter uma postura técnica diante das pressões por cortes de juros. “Não existem ateus numa trincheira de guerra nem ideólogos no BC”, afirmou, citando uma frase do ex-presidente do Federal Reserve, Ben Bernanke.