Rogério Lucca/Banco Central | Imagem: print de tela
Rogério Lucca/Banco Central | Imagem: print de tela

O Banco Central (BC) apresentou nesta sexta-feira (19/12) seu planejamento estratégico para o período de 2026 a 2029, primeiro ciclo sob o comando de Gabriel Galípolo. Durante “LiveBC” para apresentar as diretrizes dos próximos quatro anos, o secretário-executivo da autarquia, Rogério Lucca, destacou a crescente complexidade do sistema financeiro. Frente a esse cenário, o regulador precisa evoluir constantemente, disse ele.

“Temos um sistema financeiro cada vez mais complexo. De um lado, isso traz uma eficiência muito grande para o cidadão e maior competição. Por outro, o regulador e supervisor precisa ir evoluindo para garantir que essas eficiências se reflitam para o usuário final, assim como garantir a estabilidade do sistema como um todo”, afirmou Lucca.

Em meio à onda de fraudes, golpes e ataques hackers no setor financeiro em 2025, que exigiram medidas rápidas do regulador, o BC seguirá com uma agenda de segurança e solidez no sistema financeiro, reforçou Lucca. “A agenda de solidez do sistema financeiro é uma agenda permanente. Mas a gente tem que ter o velho cuidado de não jogar o bebê fora com a água suja. Ao mesmo tempo que temos que adotar medidas de proteção do sistema, de aumento da segurança, a gente não pode abrir mão dos ganhos já obtidos em termos de eficiência e de segurança nos últimos anos”, afirmou.

O secretário-executivo fez questão de esclarecer que os sistemas do BC não foram invadidos nos episódios envolvendo hackers e fraudadores. “Nenhuma infraestrutura do Banco Central foi atacada ou hackeada. Não teve nenhum ataque bem sucedido a sistemas do Banco Central e isso também não gerou nenhum prejuízo a nenhum cliente. Foram instituições financeiras que foram atacadas”, disse.

Respostas

Em resposta à ofensiva do crime organizado ao longo do ano, o BC adotou uma série de novas regras e iniciativas. O secretário-executivo mencionou, por exemplo, inspeções extraordinárias em instituições autorizadas, assim como a suspensão e exclusão de participantes do Pix. Ainda no arranjo, o BC aprimorou o Mecanismo Especial de Devolução, criando o MED 2.0. “Você tem agora uma capacidade de ter um aprofundamento, uma facilidade maior de reaver os seus recursos no caso de fraude”, disse Lucca.

A autarquia também impôs limite de R$ 15 mil para transações via Pix por Instituições de Pagamento (IPs) não autorizadas ou que usam Prestadores de Serviços de Tecnologia da Informação (PSTIs), citou Lucca. Outra novidade é a exigência de toda IP ser autorizada, com calendário antecipado de 2029 para 2026. “Nenhuma instituição pode entrar mais no mercado sem uma prévia autorização do Banco Central.”

Além disso, mencionou Lucca, o BC aumentou os requisitos de capital mínimo de instituições financeiras e demais autorizadas, assim como passou a regular players com atuação em ativos virtuais. A autarquia também criou uma regulação específica para instituições que operam com o modelo de Banking as a Service (BaaS).

Solidez do sistema financeiro

De acordo com o porta-voz do BC, a agenda de solidez do sistema financeiro seguirá forte nos próximos anos, mas com um olhar ampliado. “A gente continua com esse objetivo para o próximo período, focado não só na estabilidade financeira, do ponto de vista de montantes, de recursos que a gente tem no sistema financeiro como um todo, mas também com foco muito grande no usuário”, afirmou.

O secretário-executivo destacou uma mudança no perfil das instituições que justifica essa nova abordagem. “Hoje em dia, o que é muito normal também, você acaba tendo algumas instituições que não são tão grandes do ponto de vista dos recursos financeiros que elas detêm, mas são grandes do ponto de vista de clientes que elas servem”, disse. “Então, a gente precisa ter também esse olhar para os próximos anos. Não é só a questão financeira que importa, o provimento de serviço para o cidadão, a relação com o consumidor também ganha uma importância muito grande.”

Pix, Open Finance e tokenização

Lucca disse, ainda, que o BC continuará desenvolvendo as infraestruturas digitais públicas, como Pix, Open Finance e Drex – esse último, com foco maior em tokenização de ativos. “Vamos continuar no desenvolvimento dessas infraestruturas, principalmente no provimento de serviços mais adequados para usuários finais. Produtos financeiros de um lado mais baratos e por outro, mais seguros para sistema”, disse.

Os novos produtos como parte da evolução do Pix incluem, por exemplo, o uso de recebíveis via Pix como garantia de operações de crédito. O recurso, com previsão para o biênio 2026/2027, recebeu o nome de Pix em Garantia. Já no âmbito do Open Finance, Lucca destacou a implementação da portabilidade de crédito, com lançamento previsto para fevereiro de 2026.

O porta-voz do BC informou também que no próximo ciclo a hoje conhecida como AgendaBC# (antiga Agenda BC+) passará a se chamar simplesmente Agenda BC. Lucca comentou que ela está em construção e será divulgada nos próximos meses, com entregas concretas para os quatro anos.

Objetivos estratégicos

Segundo Lucca, os objetivos definidos para os próximos quatro anos são:

  • Fortalecer a efetividade da transmissão da política monetária para assegurar a estabilidade de preços;
  • Aprimorar a regulação e reforçar a supervisão para promover solidez, segurança, resiliência, disciplina e sustentabilidade do sistema financeiro;
  • Aumentar a eficiência do sistema financeiro e das infraestruturas digitais públicas para promover bem-estar econômico e acesso a serviços financeiros adequados;
  • Aperfeiçoar a comunicação para fortalecer os relacionamentos, o reconhecimento e a inserção internacional da instituição;
  • Promover o fortalecimento institucional, com inovação, excelência, diversidade e sustentabilidade, para assegurar a capacidade de entregar resultados relevantes à sociedade.

A missão do BC também foi simplificada e passou a ser: garantir a estabilidade de preços, zelar por um sistema financeiro sólido e eficiente e fomentar o bem-estar econômico da sociedade. Já nos valores institucionais, o BC incluiu “empatia” e reformulou responsabilidade socioambiental para “sustentabilidade e diversidade”. Os outros cinco valores mantidos do ciclo anterior são: integridade, excelência, foco em resultados, cooperação e abertura para mudança.

De acordo com Lucca, o novo planejamento estratégico foi construído de forma participativa, ouvindo pela primeira vez todos os servidores da instituição, além de entrevistas individuais com os diretores e presidente do BC. “Compromisso com a estabilidade. Este é o slogan para esse próximo planejamento”, disse.