Crédito digital  | Imagem: Adobe Photoshop
Crédito digital | Imagem: Adobe Photoshop

O mercado de crédito digital deve atravessar 2026 sob forte influência de mudanças regulatórias e inovações tecnológicas, segundo projeção da Associação Brasileira de Crédito Digital (ABCD). A entidade, que representa as fintechs do setor, aponta cinco fatores que devem moldar o segmento no próximo ano.

Entre os principais destaques está a regulamentação do Banking as a Service (BaaS), anunciada pelo Banco Central (BC) e pelo Conselho Monetário Nacional (CMN) em 28/11. A medida estabelece regras para empresas de outros setores oferecerem produtos financeiros por meio da infraestrutura de instituições autorizadas pelo BC. O foco está em governança, segurança e gestão de riscos. “Aprimorando a transparência e a segurança jurídica, a regulamentação tende a fortalecer o uso do BaaS e a ampliar a concorrência”, apontou a associação. 

Outra frente importante, na visão da ABCD, é a reforma da Resolução CVM 88, em consulta pública até 23/1/2026. A proposta com mudanças nas regras do crowfunding de investimento, abre caminho para tokenização de ativos e securitização digital. “A ampliação do escopo, combinada à modernização, deve impactar não somente as fintechs, mas também as instituições financeiras tradicionais e Fundos de Investimento em Direitos Creditórios (FIDCs), na esteira do avanço da digitalização das dívidas”, disse a ABCD.

A duplicata escritural, prevista para entrar em vigor em 2026, também está no radar. O modelo promete trazer mais segurança jurídica e transparência para operações de crédito lastreadas em recebíveis. De acordo com a ABCD, a tendência é que a duplicata escritural impulsione o mercado de crédito, beneficiando principalmente Pequenas e Médias Empresas (PMEs). Isso porque proporcionará “maior segurança jurídica e menores riscos para emissão desses títulos pelas pessoas jurídicas”. 

A entidade cita, ainda, nova metodologia de capital mínimo para instituições financeiras e demais autorizadas, publicada pelo BC e CMN em novembro. Para a ABCD, as novas regras devem provocar uma intensa movimentação no setor, principalmente entre as fintechs. “É possível que algumas empresas entreguem suas licenças ao mesmo tempo em que outras consolidem sua posição no mercado”, apontou Daniel Gomes, vice-presidente da associação, em nota.

O cenário de juros altos, com expectativa de redução da taxa Selic ao longo de 2026, é outro tema no radar. De acordo com o último “Boletim Focus”, economistas apostam que a taxa básica de juros caia dos atuais 15% para 12,25% ao ano no final de 2026. “Ao mesmo tempo em que penaliza os tomadores, já que os recursos ficam mais caros, a Selic em alta impede também que o mercado ofereça taxas mais competitivas”, defendeu Daniel.

Pix e Open Finance

Embora não mencionado pela ABCD, o próximo ano também promete o lançamento da portabilidade de crédito no Open Finance. A inclusão dela no ecossistema aberto surge como alternativa para fomentar a competição e diminuir as taxas para o tomador de crédito, conforme especialistas.

No primeiro semestre de 2025, instituições financiaram R$ 12 bilhões com apoio dos dados do Open Finance. Desde o início do ecossistema, são R$ 31 bilhões em originação. Desse montante, as fintechs responderam por R$ 5,4 bilhões.

Além disso, o BC vislumbra o Pix como impulso para uma “revolução silenciosa” no crédito. Entre as novidades previstas para o biênio 2026/27 estão Pix em Garantia e Pix Duplicata. O primeiro, na prática, permitirá que lojistas usem recebíveis futuros do Pix como garantia em operações de crédito. A modalidade é o paralelo, no arranjo Pix, do chamado “crédito fumaça” que é atrelado a recebíveis de cartão de crédito. Já o Pix Duplicata possibilitará às empresas pagarem suas duplicatas escriturais por meio do sistema instantâneo.