A partir de 1º de agosto, os usuários do Pix poderão acionar o Mecanismo Especial de Devolução (MED) diretamente pelo aplicativo do seu banco. A medida faz parte da versão 7.1 do guia de experiência do usuário (UX) do Banco Central (BC) e visa facilitar a recuperação de recursos em casos de golpe ou fraude.
“Estamos otimizando o processo de notificações e aumentando a eficiência na devolução”, afirmou Marcia Vicari, chefe da área de Gestão do Pix do BC. Marcia abriu a manhã de debates sobre o Pix promovido pela empresa de tecnologia Matera nesta quinta-feira (6/2).
A novidade integra um conjunto de aprimoramentos do BC para o lançamento do Pix Automático, previsto para 16 de junho de 2025. O sistema de pagamentos recorrentes permitirá a liquidação de contas e assinaturas sem a necessidade de comando manual a cada transação.
Segundo Marcia, ele não é apenas um substituto do débito automático, mas uma solução mais ampla, interoperável e acessível. “Quando eu digo que estou colocando quase 900 instituições participantes do Pix Automático para falar entre si, é algo sem comparação com o débito automático tradicional”.
“O mecanismo dispensa convênios entre empresas recebedoras e bancos necessários para o débito automático. É muito mais democrático. Qualquer novo entrante poderá processar os pagamentos recorrentes do cliente”, disse Carlos Netto, o TK, fundador e CEO da Matera.
Vantagens
Outra vantagem do Pix Automático apontada pelos participantes do debate é a possibilidade de usar o campo de mensagem para especificar a que o pagamento se refere. “Hoje quando um restaurante recebe do iFood uma compra feita com cartão de crédito, não dá para saber à qual venda se refere. Isso dá um trabalho enorme de conciliação”, lembrou TK. Para o pagador, usar o Pix Automático em vez do cartão de crédito libera limite para outras compras. E, claro, é uma opção para quem não tem cartão de crédito. “
O Pix Automático vai permitir programar mais do que pagamentos de contas de luz, água e mensalidades da Netflix, por exemplo. Marcia citou seguros e empréstimos – mesmo feitos em outra instituição financeira que não a da conta do cliente. “Um tratamento dentário caro ou até mesmo as prestações da compra de um automóvel poderão ser feitas por Pix Automático”, completou TK.
Para o CEO da Matera, o Pix Automático vai ser um verdadeiro divisor de águas. “Não será uma mudança incremental. Vamos incluir mais pessoas ainda, gente que não tem acesso a cartão de crédito. Não sei qual será o tamanho do salto, mas será um degrau significativo”.
Desafios de segurança
A segurança do Pix Automático é uma das principais preocupações do Banco Central. “Temos uma agenda de segurança extensa, que envolve prevenção a fraudes e mecanismos de controle para o pagador”, explicou Marcia. “O usuário precisa ter a certeza de que está no controle. Ele pode cancelar autorizações a qualquer momento e definir limites para os pagamentos”. O MED 2.0, que protege consumidores contra golpes, cobrirá também o Pix Automático.
Outra medida de proteção será a possibilidade de denunciar solicitações indevidas de autorização. “O cliente vai poder dizer ‘não reconheço essa cobrança’ e isso será monitorado pelo BC”, afirmou Marcia. A integração desses mecanismos de segurança busca aumentar a confiança dos usuários no novo serviço.
Marcia revelou também que o Pix Automático vai correr em paralelo. “O trilho secundário de processamento de transações surgiuem 2023 justamente para atender aquelas transações que não têm expectativa de liquidação imediata, como é o caso do Pix Automático e transações agendadas de uma forma geral”. Esta também é uma medida de segurança. No Pix Automático, o pagador que comprova débito indevido na sua conta recebe os valores em até 24 horas. Hoje, o Pix instantâneo é processado em média em 6 segundos. No Automático, será em até seis horas.
Inclusão automática
Desde seu lançamento em 2020, o Pix transformou o mercado de pagamentos no Brasil. Atualmente, são cerca de 6 bilhões de transações por mês. Em 2024, movimentou R$ 26,5 trilhões – 54% acima dos R$ 17,2 trilhões registrados em 2023.
Marcia ressaltou a importância do Pix Automático nesse cenário: “O impacto vai além da comodidade. Estamos falando de um meio de pagamento acessível e eficiente que pode substituir não só boletos, mas também cartões de crédito para diversos tipos de transação recorrente”.
A expectativa é que o novo modelo de pagamentos automáticos amplie ainda mais a digitalização financeira no País, reduzindo custos e promovendo a concorrência entre instituições. “Ainda não estamos prontos, mas estaremos no lançamento – contamos com a adesão do mercado”, disse Márcia.
Tanto Marcia quanto TK mostraram não apenas profundo conhecimento como grande empolgação pelo Pix. TK participou do primeiro grupo de trabalho organizado pelo BC, em 2018. “O GT de pagamentos instantâneos foi, digamos, o embrião do Fórum Pix. Esse GT contou com a participação de mais de 130 participantes de todos os setores, não só instituições financeiras. E sua primeira missão foi definir quais deveriam ser os requisitos de um sistema de pagamentos instantâneos”, lembrou Marcia.
Marco Tazitu, head de Pagamentos Digitais e Open Finance na Cielo e Conselheiro do Open Finance Brasil; Leandro Coelho, diretor de fintechs na Vivo; Glauber Mota, CEO do Revolut no Brasil; e William Sousa, head de Produtos e Negócios Cash Management PF e PJ e Produtos Atacado e Corporate do C6 Bank também participaram do debate. “Nós no Revolut somos muito apaixonados pelo Pix. Nosso head de Tecnologia tem um cachorrinho muito fofo, o nome dele é Pix. Ele foi adestrado e virou Pix Automático”, brincou Glauber.
Quatro jornadas automáticas
Para que os pagamentos sejam realizados, o pagador precisa autorizar previamente a cobrança por meio do aplicativo da sua instituição financeira. O modelo permite definições de segurança, como valores máximos e cancelamento a qualquer momento.
O Banco Central estruturou quatro jornadas de autorização:
- Contato direto: o pagador solicita a adesão ao Pix Automático junto ao prestador de serviço.
- QR Code de autorização: o cliente escaneia um QR Code para aprovar pagamentos recorrentes.
- QR Code combinado: um único QR Code serve para um pagamento imediato e para autorizar transações futuras.
- QR Code pós-pagamento: após um pagamento manual, o usuário recebe a opção de aderir ao Pix Automático.
Vale lembrar que a oferta do Pix Automático será obrigatória para todas as instituições participantes do Pix que atendem clientes pessoas físicas. No caso de usuários empresariais, a adesão será facultativa.