Aos dois anos, a 180º Seguros se prepara para acelerar o crescimento em 2023. A insurtech, que opera no modelo B2B2C, atende 11 clientes e está prestes a lançar operações com mais seis empresas nos próximos meses, incluindo companhia listada na bolsa e um banco digital com mais de 1,5 milhão de usuários ativos/mês — o acordo com esse último deve ser anunciado ainda em novembro.
“São parceiros grandes que estão para entrar. Tudo o que estamos trabalhando agora é para crescer 10x no ano que vem”, comenta Mauro Levi D’Ancona, CEO e fundador da insurtech, em conversa com o Finsiders. “Este ano focamos em criar essa infraestrutura para conseguir escalar. Daqui pra frente, o que vamos conseguir entregar será muito maior.”
Ao contrário da maioria das startups que surgiram nos últimos anos no mercado segurador, a 180º aposta em um negócio que não se comunica diretamente com o usuário final. A empresa construiu uma plataforma que conecta seguradoras e empresas de assistência aos consumidores. A solução é oferecida como serviço (‘insurance as a service’) para empresas como neobanks, wallets, empresas do setor imobiliário e outras companhias do universo digital.
“É um mix de tamanho e relevância. Estamos falando muito com fintechs de crédito e modelos não tão óbvios, como super apps. São, basicamente, empresas que acreditam que o seguro vai trazer diferencial de relacionamento com seus clientes, além de aumento de receita”, explica Mauro.
Na lista de clientes divulgados pela insurtech estão nomes como Buser, Caju, iClinic, Loft, Nomah, Pipo Saúde, Solfácil e Zul Digital. Entre os tipos de seguros já desenvolvidos pela insurtech no seu processo de “cocriação” com seus parceiros estão modalidades como vida, residencial, prestamista e outros. “Temos uma área chamada ‘labs’, para testar novos produtos, seguros que vão ajudar o brasileiro a consumir de maneira rápida e simples”, conta o fundador.
A 180º atua desde o “discovery” do produto até o desenho final, ficando responsável também por cobrança, atendimento e outros momentos da jornada de contratação do seguro. “Fazemos a cadeia inteira da venda de seguros”, diz o empreendedor. Atualmente, a insurtech se pluga com 30 seguradoras, que têm presença em diferentes ramos.
Hoje a 180º opera como corretora, mas Mauro não descarta a evolução do negócio para o modelo de seguradora — uma trajetória adotada por algumas insurtechs B2C que participaram do sandbox da Susep, por exemplo, Pier e IZA. “Nosso caminho vai ser eventualmente virar seguradora. Existem alguns produtos que queremos lançar, mas as seguradoras não têm apetite, foco ou know-how, ou mesmo capacidade técnica”, argumenta o fundador.
Crescimento
A insurtech também está fechando alguns acordos com canais de distribuição, inclusive com aporte de capital. “Temos alguns em negociação avançada para ter exclusividade nesses canais”, diz Mauro, sem abrir detalhes por questões contratuais. A exploração de novos modelos de negócios por meio de joint-ventures (JVs) e parcerias estratégicas é parte do ‘use of proceeds’ da última captação de investimentos feita pela 180º.
Em fevereiro, a startup anunciou uma rodada Série A de US$ 31,4 milhões (equivalente a R$ 177 milhões, no câmbio da época) num aporte liderado pelo fundo norte-americano 8VC, de Jon Lonsdale, cofundador da Palantir. Participaram do round, ainda, a Monashees e o Atlantico, além de Dragoneer, Quartz (de José Galló, ex-CEO da Renner) e Norte, que já estavam no captable.
Os recursos também vêm sendo usados para a ampliação da equipe. Na ocasião do anúncio do cheque, a 180º tinha cerca de 50 funcionários — hoje, são 85, dos quais quase metade estão em tecnologia. “Ano que vem começaremos a mostrar um crescimento mais relevante. Em relação ao time, a expectativa é chegar a 100 pessoas no primeiro trimestre”, diz Mauro.
Mercado
Certamente os ventos estão mais favoráveis para as insurtechs, com o avanço da tecnologia na indústria de seguros e a expectativa pela implementação do Open Insurance. “Tem uma boa safra de fundadores também. Mas é muito inicial o que temos visto perante o potencial do setor”, afirma Mauro (ex-Nubank e Patria) — que tem ao seu lado como fundadores Alex Körner (ex-Santander e Mapfre) e Franco Lamping (ex-Nubank).
O cenário de baixa penetração de seguros tem ajudado também na evolução das startups no setor. A insurtech argentina Klimber, por exemplo, chegou recentemente ao Brasil e fechou uma parceria com o Mercado Pago para oferta de seguro de vida. Fundada em 2016 em Buenos Aires, a empresa construiu uma plataforma tecnológica para seguros digitais, que atraiu investidores como a seguradora Prudential e a resseguradora Swiss Re.
A Youse — plataforma digital da Caixa Seguradora que vende seguro de vida, auto e residencial — também vem dando maior foco para o modelo de negócio B2B2C, conforme contou Taiolor Morais, CTO da empresa, em entrevista ao Finsiders, no fim de junho. A insurtech tem acordos com nomes como 99, OLX, Minuto Seguros e MeuID, entre outros.
“A penetração de seguros é muito baixa, diferentemente de serviços financeiros. No modelo ‘direct to consumer’, a conta é difícil de fechar e o produto tem um CAC [custo de aquisição de cliente] alto para uma baixa recorrência”, aponta Mauro, da 180º. “A oportunidade está em vender seguros quando e onde a pessoa precisar, porque ela não vai espontaneamente atrás de seguros.”
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