O lançamento do Pix Automático está previsto para 16 de junho de 2025 pelo Banco Central (BC), mas alguns players já antecipam a novidade em pelo menos sete meses. É o caso do banco Santander e da fintech Ebanx, que recentemente anunciaram movimentos em relação à funcionalidade. O Banco do Brasil (BB) também já vem convidando clientes para testes.
Com potencial de substituir o débito automático, a nova modalidade possibilitará cobranças recorrentes mediante autorização prévia do usuário pagador. As instruções de pagamento são sempre fornecidas pelo usuário recebedor, que deverá ser necessariamente uma pessoa jurídica. Assim, a solução deve ser adotada por concessionárias de serviços públicos, escolas, academias, condomínios, planos de saúde, serviços de streamings, entre outros negócios com modelo de recorrência.
O Pix Automático deve reduzir os custos em relação às operações de débito em conta, defende o BC, pois não depende de convênios bilaterais e utiliza a infraestrutura do arranjo Pix. O repasse do pagamento do cliente à companhia será em D+0, enquanto atualmente é em D+1.
Largando na frente
“Nós acreditamos que o Pix Automático vai provocar um aumento significativo nas transações recorrentes P2B (de pessoas para empresas) no Brasil, além de impactar também as transações B2B (empresas para empresas)”, diz Eduardo de Abreu, vice-presidente de Produto do Ebanx, ao Finsiders Brasil.
Em outubro, a fintech de pagamentos começou a oferecer aos seus clientes acesso à documentação técnica da sua API da ferramenta. Isso deve fazer com que o desenvolvimento dos sistemas de integração comecem imediatamente. API é a sigla em inglês para interfaces de programação de aplicações.
De acordo com Eduardo, a API vale especialmente para grandes empresas digitais globais, “para que possam iniciar a integração com essa nova funcionalidade e disponibilizar o Pix Automático para os clientes a partir do primeiro dia de funcionamento da nova modalidade do Pix”. O Ebanx atua como uma plataforma que processa pagamentos locais para gigantes como Uber, Airbnb, Spotify, AliExpress, entre outras.
A partir de novembro, o Santander vai permitir que empresas ofereçam o Pix Automático aos seus consumidores como forma de pagamento sem custos adicionais. Nesta etapa inicial, o banco atuará apenas com clientes de sua própria base. “Tanto empresas quanto pessoas físicas poderão usufruir dessa inovação, enquanto trabalhamos para garantir uma transição tranquila e simples”, escreveu Paulo Duailibi, diretor de Produtos para PJ do Santander, em seu LinkedIn.
Segundo disse o executivo em entrevista recente à agência Reuters, as empresas estão demonstrando interesse em aderir ao novo serviço. Entre os benefícios estão a “simplificação operacional” e o repasse do pagamento do cliente às companhias em D+0. Procurado pelo Finsiders Brasil, o Santander não quis dar entrevista ou fornecer mais detalhes sobre o serviço.
Aculturação dos clientes
Na visão de Gastão Mattos, CEO da consultoria GMattos, a antecipação do Pix Automático permite que as instituições testem o mercado antes da demarcação da obrigatoriedade, de forma a ajustar o produto e sair na frente dos concorrentes. De quebra, também saem ganhando os próprios clientes dessas instituições.
“É a aculturação do cliente. Quando essa modalidade surgir lá na frente, não haverá nenhum degrau ou barreira de aprendizado. Ou seja, o cliente já vai saber usar a nova função e estará acostumado a isso. Vira um diferencial”, avalia Gastão. Em estudo recente, o consultor estimou que o Pix Automático tem potencial para substituir R$ 4 trilhões ao ano do volume de débitos em conta.
Para Gastão, a grande aceitação do consumidor final brasileiro gerou uma convergência de interesses nunca antes vista em uma plataforma de pagamentos.
“Dada essa convergência, o interesse dos agentes em relação à evolução dessa forma de pagamento é muito concreto, a ponto dessa antecipação [ao BC] acontecer. Não há uma quebra, acredito que o BC veja com bons olhos o que está acontecendo” – Gastão Mattos
Com o prazo final do BC, pode ser que ajustes nos sistemas sejam necessários — mas isso já deve estar na conta de quem queima a largada.
Esta é a segunda de uma série de reportagens que o Finsiders Brasil publicará ao longo das próximas semanas sobre a evolução do Pix. Acompanhe!
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