À espera da licença de SCD, CondoConta vai acelerar oferta de crédito

Depois de validar a tese de banking em 2021, o CondoConta agora vai acelerar o playbook de crédito. A fintech – que se posiciona como o primeiro banco para condomínios – está captando um FIDC (Fundo de Investimento em Direitos Creditórios) de R$ 50 milhões, revela o cofundador e CEO Rodrigo Della Rocca, ao Finsiders, sem abrir o nome das instituições por trás da estruturação do fundo.

Em setembro do ano passado, a fintech atingiu a marca de R$ 100 milhões em solicitações de crédito, mas não abre quanto desse volume efetivamente foi originado em empréstimos. Há dois meses, o CondoConta fez sua primeira emissão de dívida no mercado para servir de funding para as operações – a empresa levantou R$ 20 milhões em parceria com a gestora Empírica e a securitizadora Vert.

“A demanda está grande. Temos R$ 20 milhões para liquidar nesses primeiros meses do ano”, conta o empreendedor. Ele explica que a procura por crédito tem três principais finalidades: financiamento de portarias remotas; instalação de placas solares; e obras e reformas em geral.

Segundo Rodrigo, a inadimplência da carteira está em 2,8%, um índice considerado baixo para o setor. “No mercado de condomínios como um todo, a inadimplência costuma ser de 15%”, diz. “Temos uma esteira de cobrança automática. Estamos fazendo o arroz com feijão bem feito.”

Em operação atualmente como um arranjo de pagamentos, a fintech utiliza a infraestrutura do FitBank. “Estamos num processo para virar instituição financeira”, revela Rodrigo.

A empresa já entrou com o pedido no Banco Central (BC) para ter uma SCD (Sociedade de Crédito Direto), o que lhe permitiria operar crédito com recursos próprios.

A dor do crédito no mercado condominial foi, inclusive, o que deu origem ao CondoConta, fundado em 2019.

“O banco nunca entendeu condomínio, que tem CNPJ, mas não é considerado uma empresa”, explica Rodrigo. “Condomínio não tem contrato social, e sim tem convenção. Para os bancos, sempre foi uma zona cinzenta.”

A fintech nasceu oferecendo empréstimos com capital dos próprios fundadores, em 2019. “Chegamos a atender uns 18 condomínios. Foi aí que deu o estalo de fazer o primeiro banco para condomínios”, conta.

A solução foi desenvolvida durante aquele ano até entrar em operação efetivamente em março de 2020. “Começamos em Santa Catarina, fomos para o Rio Grande do Sul. E em dezembro [de 2020] atingimos 100 condomínios”, relembra.

Em março do ano passado, a startup levantou uma rodada seed de R$ 6,6 milhões liderada pelo fundo de Venture Capital Redpoint eventures, com participação da aceleradora Darwin Startups.

Em setembro, a Redpoint dobrou a aposta e assinou um cheque de R$ 6 milhões para a fintech. Dois meses depois, a empresa captou mais R$ 10 milhões com a Igah Ventures – que tem no portfólio fintechs como Avenue Securities, Finpass e Liber Capital

Planos

Presente em 26 Estados, com maior concentração no Sul e no Sudeste, o CondoConta vem ganhando espaço em outras regiões do país. Hoje, soma mais de 1 mil condomínios como clientes, uma meta que estava prevista para o fim de 2022, mas foi atingida no ano passado. Questionado sobre o crescimento da base e o número atual, Rodrigo diz não abrir esses dados.

Sobre planos para o ano, o empreendedor é também enigmático. Novos produtos financeiros estão sendo desenvolvidos e irão atender não apenas os condomínios, mas também os moradores e funcionários em condomínios. “Fora isso, temos outras produções não financeiras, e aí estamos plugando parceiros”, diz Rodrigo, também sem contar detalhes.

“Queremos ser a Netflix dos condomínios.”

Além de conta digital e crédito, a CondoConta oferece atualmente outros produtos financeiros: aplicações de fundos de reserva; contratação de seguros obrigatórios (contra raios, explosão e incêndios); e um produto chamado “receita garantida”, em que a empresa assume as dívidas de condôminos inadimplentes. “Quando a administradora abre a conta, já ganha um SaaS para automação das taxas de condomínio, com conciliação automática”, conta Rodrigo.

Com uma equipe de mais de 150 pessoas, parte moradores de Florianópolis (SC) e parte de outras regiões do país, o CondoConta quer se tornar no futuro a primeira startup criada na capital catarinense a valer mais de US$ 1 bilhão. “Temos um grande sonho de ser o primeiro unicórnio de Floripa. É uma ambição saudável”, diz Rodrigo. Para chegar lá, são vários andares – resta ver se o percurso será feito de escada ou elevador.

Mercado

O tamanho da oportunidade na mira do CondoConta pode ser medido pelos números do mercado condominial, que movimenta anualmente R$ 250 bilhões, conforme projeções de entidades do setor. Atualmente, o país tem cerca de 500 mil condomínios e aproximadamente 95 milhões de pessoas morando ou trabalhando neles.

Na cidade de São Paulo, por exemplo, as residências em prédios já são maioria em relação a quem vive em casas, de acordo com um estudo recente do Centro de Estudos da Metrópole (CEM), da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp).

Na oferta de soluções financeiras para o setor, o CondoConta não está sozinho. A Superlógica, plataforma de gestão financeira e tecnológica para condomínios e imobiliárias, recebeu em julho de 2021 a autorização do Banco Central (BC) para operar como uma Sociedade de Crédito Direto (SCD). Na prática, o aval dado pelo regulador permite que a empresa opere empréstimos com recursos próprios.

Com 20 anos de história e mais de 100 mil condomínios sob gestão, a Superlógica tem debaixo da sua estrutura o PJBank. Nos últimos anos, a empresa também vem fazendo aquisições para reforçar a plataforma e acessar novos mercados. Comprou a empresa carioca Base Software em 2019 e, em julho do ano passado, a Ahreas.

A lista de startups com soluções financeiras para o mercado de condomínios inclui, ainda, nomes como CondoBlue, Condopay e CondoLivre, entre outros. Essa última, por exemplo, recebeu R$ 12,7 milhões da TAG Investimentos e da Vila Velha Corretora. Ainda neste semestre, a fintech prevê levantar uma Série A de até R$ 50 milhões, conforme noticiou o portal Startups.

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