NEGÓCIOS

Accredito muda estratégia para atrair investidores, dar lucro e virar banco

Fintech troca MEI por operações com tickets mais altos e garantias. E entra no mercado de Banking as a Service (BaaS) com a Delend

Imagem: Pixabay
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A Sociedade de Crédito Direto (SCD) Accredito, criada e controlada desde 2021 pela Associação Comercial de São Paulo (ACSP), decidiu mudar de estratégia. Desde o ano passado, está em negociação com investidores para se capitalizar e, principalmente, cumprir o último requisito necessário para virar banco. Vale lembrar que o Banco Central não concede a licença sem que o controlador seja uma entidade com fins lucrativos – e a ACSP não é.

Segundo o CEO da SCD, Milton Luiz de Melo Santos, a ACSP continuará a ser investidora, mas não controladora. O negócio com o investidor que vai assumir o controle está em fase final e será anunciado em breve, diz o executivo.

Para atrair investidores, a fintech trocou o foco no microempreendedor individual (MEI), que se revelou bem problemático do ponto de vista da inadimplência, por operações com tickets mais altos. Decidiu, ainda, ampliar o raio de atuação para além do estado de São Paulo. Abandonou a prática do crédito sem garantia para focar em antecipação de recebíveis. E vai atuar como fornecedora de serviços bancários a terceiros.

Milton Luiz de Melo Santos/Accredito – Imagem: divulgação

De olho no BaaS

Ou seja, vai entrar no disputado e lucrativo mercado de Banking as a Service (BaaS). O objetivo final é começar a dar lucro. A primeira parceria de BaaS é com a Delend, que por sua vez acaba de anunciar a parceria com a Rede Ok para oferecer antecipação de recebíveis para os varejistas associados (leia mais sobre a Delend no quadro abaixo). A Accredito vai fornecer o funding e, aos poucos, oferecer o mesmo serviço white label para outras fintechs. “Temos potencial para realizar antecipação de R$ 6 bilhões em duplicatas e boletos pré-datados por ano. E ainda podemos oferecer outros produtos para os clientes da Rede OK, como os repasses de linhas do BNDES”, diz Milton.

O CEO explica que como a PME já opera com a Rede OK, o risco de fraude é menor. E risco menor é sinal verde para cobrar juros menores também. Por isso, a Accredito já planeja e oferecer crédito consignado e linhas do BNDES para os clientes.

“A Delend aplica Inteligência Artificial para aperfeiçoar a análise de crédito dos clientes da Rede OK, e também agiliza a contratação por meio da integração de APIs no aplicativo. A Accredito entra com o funding, correndo o risco de crédito; e com Open Finance”, diz Milton.

Segundo o CEO da Accredito, 97% dos clientes da Rede OK já demonstraram interesse na oferta. O mercado de duplicatas eletrônicas para PMEs já movimenta cerca de R$ 1,5 trilhão ao ano.

Repasses do BNDES

A Accredito é a única SCD credenciada pelo BNDES para fazer repasse das suas linhas. O contrato foi assinado em outubro, mês em que a fintech também lançou duas linhas de empréstimo, para financiar a instalação de equipamentos de energia limpa e para modernização das estâncias turísticas paulistas. “Agora, as linhas foram repaginadas para contar com os benefícios do BNDES – prazos maiores e juros mais baixos. Mas, não é para todos os clientes, só para as que tiverem relacionamento forte com a Accredito”, explica.

Em ambas as linhas, o limite é de R$ 500 mil para PMEs com faturamento de até R$ 4,8 milhões/ano. O empréstimo atinge até 80% do valor do projeto, com garantia real até 130% do valor emprestado; o prazo vai até 48 meses, no caso da energia limpa, e até 36 meses para o turismo. A taxa de juros final gira em torno de 1,95% ao mês.

Recebíveis eletrônicos

A Delend, fintech focada no uso de inteligência artificial e Open Finance no mercado de crédito para pequenas e médias empresas, levantou R$ 100 milhões junto a investidores e comprou parte da Rede OK por R$ 80 milhões. A Rede OK atende 40 mil PMEs na jornada de crédito. Com a compra, a organização, que teve receita recorrente de R$ 56 milhões em 2023, projeta alcançar R$ 120 milhões de ARR (Receita Recorrente Anual) até o final de 2024.

O objetivo é unir a expertise das duas companhias para simplificar a jornada de crédito das PMEs, oferecendo soluções que melhoram a decisão, o monitoramento e a emissão de pagamentos e cobranças, resultando na antecipação de duplicatas, em acordo com a recente resolução do BCB n° 339 de 24/8/2023.

“A aquisição é parte de nossa estratégia de crescimento acelerado e integração de inovações tecnológicas com as recentes mudanças regulatórias do mercado financeiro. Assim, mais de 40 mil empresas da nossa base, que cobrem 98% dos municípios do Brasil, terão acesso a serviços digitais para uma melhor jornada de crédito. Queremos destravar o mercado de recebíveis de duplicatas eletrônicas usando ferramentas de IA, aproveitando os recursos dos dados abertos e da facilidade que a iniciação de pagamentos oferece para os usuários”, disse em nota Fernando Wosniak Steler, cofundador e CEO da Delend.