Altis coloca em marcha 'crédito como serviço' para financiamento de veículos

Fintech recém-lançada por ex-Mercado Livre, Creditas e Kavak planeja atuar em outros segmentos e está concluindo uma nova captação de dívida

Pedro De Paula, Luiz Bettega e Eduardo Renda/Altis
Da esq. para a dir., Pedro De Paula, Luiz Bettega e Eduardo Renda/Altis | Imagem: divulgação

A Altis identificou no mercado de concessionárias e revendedoras de veículos uma oportunidade para dar a largada em sua plataforma de crédito embarcado como serviço (embedded lending). Fundada em 2024 por um trio de ex-executivos de Mercado Livre, Creditas e Kavak, a fintech planeja avançar em novos segmentos, como motos e máquinas agrícolas, e está fechando uma nova captação via dívida.

Desde novembro de 2024, a fintech originou R$ 6 milhões – só em abril, foram R$ 2 milhões, conta o fundador Luiz Eduardo Bettega, responsável por Produtos e Tecnologia. A expectativa é multiplicar esse volume por dez até o fim do ano. “Estamos fazendo mais uma rodada de dívida para emprestar”, diz ele, sem abrir mais detalhes. A operação complementará os R$ 15 milhões recebidos pela Altis até agora, entre aportes de equity e debt. A fintech tem entre os investidores fundos deVenture Capital como Latitud e Magma Partners, além de anjos e family offices.

De acordo com Luiz, um dos principais diferenciais da Altis é que a fintech não entrega apenas a tecnologia, mas opera as soluções de crédito em parceria ou sociedade com as empresas. “Nossa maior remuneração é no sucesso da operação. Vender só o software não ajuda a escalar”, afirma o empreendedor. A Altis também cobra uma taxa de serviço, que varia conforme o volume e o perfil da operação de crédito.

Verticalização

O mercado de concessionárias e revendedoras de veículos é o foco da Altis nesta jornada inicial. A fintech já tem como clientes três grupos do setor que, juntos, reúnem mais de 80 lojas. “Hoje, para financiar um automóvel, as lojas usam três ou quatro bancos como parceiros, que acabam tendo uma boa margem nisso. A nossa diferença é que cuidamos de todas as etapas do financiamento, e as concessionárias podem ter uma receita a mais verticalizando essa operação”, explica Luiz.

Como atua em parceria com seus clientes, a Altis também ajuda na estruturação do capital necessário para as operações de crédito, conectando recursos das próprias empresas com dinheiro de investidores institucionais. A fintech em si, no entanto, não participa diretamente do funding. “Imagine [a dificuldade de] uma concessionária de veículo para captar dinheiro na Faria Lima. Somos nós quem fazemos essa ponte e tomamos conta do dinheiro dos clientes”, diz Eduardo Renda, co-fundador e responsável por Operações (Chief Operating Officer, COO).

Motos e ‘linha amarela’

Entre os planos da Altis estão avançar em novos segmentos, como o financiamento de motos e equipamentos de “linha amarela” – tratores e outras máquinas usadas, por exemplo, no agronegócio. “Temos revendas que nos procuraram porque secou a principal fonte de crédito para o setor, com recursos subsidiados pelo governo”, afirma Luiz. No caso das motos, ele diz que se trata de um mercado grande e pouco explorado.

Os empreendedores dizem que a precificação do crédito para motos é diferente. “O risco é maior e a retomada de motos é difícil, quase uma missão”, diz Eduardo. Para ter uma análise de risco de crédito mais precisa, a aposta da Altis está na integração de dados de renda e via Open Finance, por meio de soluções parceiras. “Os dados alternativos são muito importantes na análise de segmentos como o de motos, em que há mais dificuldade para precificar o crédito”, afirma Luiz.

FGTS e consignado privado

A Altis também está estudando outras modalidades que podem ser “embarcadas” pelas empresas clientes em suas jornadas. Hoje, concessionárias já permitem antecipar o FGTS para dar como entrada na compra de um veículo, exemplifica Eduardo. “Estamos vendo como colocar no portfólio o novo consignado privado“, diz Luiz.

Para colocar seu negócio de pé, a Altis atua hoje como correspondente bancário da financeira Socinal e da fintech BMP. Perguntado sobre uma eventual licença de Sociedade de Crédito Direto (SCD), Luiz diz que essa não é uma prioridade no curto prazo devido aos altos custos envolvidos para montar e manter uma instituição regulada. “Pensamos em se tornar uma SCD, sim, mas no futuro.”

Trajetória

A Altis é uma novata na praça, mas seus fundadores, nem tanto. Luiz co-fundou a Creditoo, fintech de crédito consignado comprada pela Creditas em 2019, onde ele depois atuou como vice-presidente de consignado. Eduardo, por sua vez, teve posições de liderança em startups como Kavak e Gringo. Ao lado deles está Pedro De Paula, ex-diretor do Mercado Crédito no Mercado Livre e que também liderou a criação de serviços financeiros na Kavak.