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Por Fernando Barbosa*, para o Finsiders
As inúmeras dificuldades de acesso a crédito enfrentadas pelas pequenas e médias empresas (PMEs) não são lá uma novidade. São adversidades de anos atrás e que comprometem o crescimento do país. Na pandemia, porém, a interrupção das atividades e os entraves nas cadeias globais agravaram o problema.
Segundo dados da Fundação Getúlio Vargas (FGV), ao lado dos microempreendedores, as PMEs demandam, anualmente, financiamentos na casa dos R$ 514 bilhões. Como resposta, as fintechs que chegaram ao mercado nos últimos dois anos passaram a dar uma atenção especial para resolver tais dores.
E, como muitos desses players estão focados na própria sobrevivência, políticas de governanças bem estruturadas não são exatamente o forte do setor. Agora, a arara.io, plataforma norte-americana de financiamento sustentável que acaba de desembarcar na América Latina pelo Brasil, quer mudar esse panorama.
“Entendemos que o Brasil tem um posicionamento relevante na América Latina, é uma economia forte e com potencial de crescimento, mas com diversos desafios em ESG”, afirma o CEO e cofundador da arara.io, Felipe Gutterres, ao Finsiders.
Essa história começou a ser desenhada há mais ou menos 25 anos. À época, Ram Mahidhara trabalhava em projetos de financiamento para o setor portuário no Banco Mundial e executava serviços para um terminal em Salvador (BA) quando passou a ter Gutterres como cliente.
Depois, Mahidhara foi trabalhar na África e Ásia, sem perder o contato com o brasileiro. Durante a jornada, conheceu Sudhi Mukherjee, profissional de finanças com experiência global na implementação de estruturas de sustentabilidade. Há cerca de 18 meses, o trio resolveu se juntar para criar uma solução inovadora voltada às questões climáticas e de sustentabilidade em mercados emergentes.
Com as áreas de marketing e propriedade intelectual em solo americano, e profissionais de tecnologia divididos entre Panamá e Índia, além dos Estados Unidos, a arara.io funciona como a ponte entre financiadores, as grandes empresas e seus milhares de fornecedores.
Na prática, a operação começa com a contratação da plataforma pela enterprise (os chamados clientes âncora). A partir daí, a arara.io desenha toda a estratégia de financiamento para os fornecedores dessa grande companhia.
No escopo de serviço, avalia, por exemplo, quem são e como atuam esses provedores de insumos e faz uma avaliação de riscos e oportunidades. Por último, classifica e ranqueia tais PMEs com o ‘óculos’ ESG e metas climáticas.
Os financiadores são grandes bancos, instituições financeiras e FIDCs (Fundos de Investimentos em Direitos Creditórios) especializados. Eles atendem clientes da indústria, agronegócio, infraestrutura, varejo e energia. O objetivo final é justamente oferecer recursos como crédito ou a antecipação de recebíveis com taxas mais acessíveis.
“O fornecedor consegue enxergar como está posicionado e como pode melhorar. Assim, quem está buscando crédito tem um incentivo para evoluir. Dependendo das metas desse cliente âncora, ele também pode ajudar seus fornecedores”, diz Gutterres. A fintech não revela quais as condições de pagamentos ou prazos.
A plataforma monetiza a operação a partir da taxa paga pelos financiadores, que é oferecida também como desconto aos fornecedores, e por meio do monitoramento da cadeia de suprimentos para os grandes players.
No primeiro ano, a meta da arara.io é alcançar cino clientes âncora e 1 mil fornecedores, e, assim, movimentar algo em torno de R$ 3 bilhões — pouco para o tamanho do mercado endereçável, avaliado na casa dos R$ 400 bilhões.
Já entre o terceiro e o quarto ano, a arara.io tem um ambicioso objetivo de atingir volumes de R$ 30 bilhões no seu ecossistema. Para chegar lá, estima uma estrutura com 40 grandes empresas clientes e 8 mil fornecedores.
Para Gutterres, o cenário adverso atual vivenciado pelas PMEs pode ser traduzido em oportunidades. “As empresas precisam buscar formas para que as cadeias sejam saudáveis, os fornecedores precisam de liquidez, e, tanto as empresas, quanto os fornecedores, estão pressionados. Queremos democratizar a abordagem ESG e ligar a liquidez às metas de descarbonização.”
PMEs
Com aportes cada vez maiores em startups do setor financeiro, uma quantidade enorme desses players vem despontando com o objetivo de dar assistência às PMEs. Como você leu no Finsiders, a também norte-americana Tribal desembarcou no país na última semana após uma rodada de US$ 60 milhões liderada pelo SoftBank.
A mexicana Clara, de gerenciamento de gastos e cartão de crédito corporativo, foi outra a pintar por aqui recentemente. Para isso, teve um ‘empurrãozinho’ no caixa de mais de US$ 70 milhões, o que elevou o valuation para mais de US$ 1 bilhão.
Outro passo dado em dezembro foi quando a Justa e a Genial acertaram uma parceria para atender comerciantes com faturamento de até R$ 24 milhões.
*Fernando Barbosa é jornalista formado pela Universidade Anhembi Morumbi. Passou por jornais como Diário de São Paulo e DCI e pelas revistas Dinheiro Rural e Globo Rural. Também já contribuiu com os sites NeoFeed e PEGN. Atualmente, escreve para UOL e Finsiders. É apaixonado por futebol e corintiano fanático (assim como o editor-chefe do Finsiders, Danylo Martins).
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Danylo Martins é jornalista com dez anos de cobertura de finanças, empreendedorismo e inovação no setor financeiro. Com MBA em mercado de capitais, é vencedor de quatro prêmios de jornalismo econômico e colabora com o jornal Valor Econômico há oito anos. Teve passagens por Folha de S.Paulo e revista Você S/A.
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