INOVAÇÃO

Avra aposta em modelo próprio de IA para "ler" melhor as PMEs

Com quase dez clientes, startup criada por ex-OpenAI e ex-Itaú BBA está rodando testes com grandes bancos no Brasil e mira internacionalização

Viviane Meister/Avra
Viviane Meister/Avra | Imagem: divulgação

Num momento em que a Inteligência Artificial (IA) ganha cada vez mais protagonismo nas estratégias de bancos e fintechs, a Avra aposta em um caminho menos óbvio. A empresa decidiu construir do zero seu próprio modelo fundacional de IA. Em vez de generalista, o modelo é especializado em entender o comportamento e o risco de Pequenas e Médias Empresas (PMEs). O objetivo é permitir que companhias que vendem para esse perfil de público possam dar um crédito mais assertivo. Ou, ainda, construir jornadas e soluções hiperpersonalizadas.

A maioria dos modelos fundacionais de IA é generalista por natureza – como o ChatGPT (da OpenAI), que responde desde a probabilidade de um time ganhar o Brasileirão até a temperatura em Seattle. No caso da Avra, é um modelo fundacional que lê PMEs, explica Viviane Meister, cofundadora e CEO, em conversa com o Finsiders Brasil.

Atualmente, a Avra tem quase dez clientes ativos, que incluem empresas em setores como financeiro, telecomunicações, marketplaces e saúde. Neste momento, a startup está em testes com alguns bancos. Por contrato, ela não pode abrir os nomes das instituições, mas diz que são dos segmentos S1 e S2 – que compreendem os maiores grupos financeiros do País. O foco está no Brasil, mas a Avra já vislumbra a internacionalização por meio de demanda de clientes que operam em outros mercados.

Diferenciais

Um dos principais diferenciais do modelo da Avra é que ele opera com base em Graph Neural Networks (GNNs), ou Redes Neurais de Grafos. as GNNs são capazes de capturar conexões e padrões em sistemas com interdependências. No contexto das PMEs, por exemplo, é possível analisar o risco da empresa com base no “entorno” dela. “Em que bairro que ela está, quantos sócios tem, quanto tempo está fazendo aquela atividade, tem processo ou não, como é o telhado [da unidade física], como é a movimentação naquela rua. É um modelo muito complexo, completo e uma corrente muito nova em IA”, diz Viviane.

O uso de IA preditiva é, segundo a CEO, outro importante diferencial da tecnologia da Avra. “Enquanto muitos modelos de crédito olham para atrás, a gente olha para a frente”, diz a empreendedora. Além disso, a startup combina os dados tradicionais utilizados amplamente por instituições financeiras para dar crédito a PMEs com os chamados dados alternativos e também os relacionais. “A PME não vai ter um balanço auditado na maioria das vezes”, cita. São muitas variáveis analisadas que incluem, por exemplo, região onde a empresa opera e vínculos com fornecedores estratégicos.

Trajetória

Fundada no fim de 2023, a Avra testou seu modelo em março de 2024 com uma empresa do setor de energia. E conseguiu reduzir em 22% a inadimplência dos clientes dessa organização, conta Viviane. Quatro meses depois, a startup anunciou a captação de uma primeira rodada de investimentos, de US$ 2 milhões, liderada pelo fundo de Venture Capital Maya Capital. O aporte teve a participação de Norte Ventures e Sequoia Scout, além de investidores-anjos como Dorival Dourado (ex-Boa Vista e Serasa), Doug Scherrer (primeiro CFO do Nubank) e Daniel Cassiano (diretor de IA e dados na AB Inbev e ex-idwall).

À frente da Avra estão Viviane e seu sócio Bruno Alano. Natural de Cuiabá (MT), Viviane fez carreira no mercado de crédito, com passagens por Moody’s, IFC (do Banco Mundial), Itaú BBA, Santander Brasil e HSBC. Nos últimos anos trabalhou na startup de identidade digital idwall. Já Bruno, de Curitiba (PR), programa desde os oito anos de idade e foi um dos primeiros pesquisadores da OpenAI muito antes do buzz do ChatGPT. O prodígio de tecnologia também montou um laboratório de machine learning para o SoftBank no Brasil e construiu o modelo de previsão de inadimplência da isaac, fintech com foco em escolas.

Perguntada sobre a discussão em relação à regulamentação iminente no Brasil sobre o uso de IA, Viviane considera positiva a criação de regras. “IA é magnífica, mas tem que ser bem usada”, diz. Seu sócio, inclusive, foi um dos fundadores da Associação Brasileira de Inteligência Artificial (Abria), em 2017.