Desde outubro de 2020, quando assumiu as operações no Brasil da norte-americana WEX — que, por sua vez, tinha comprado a brasileira Unik anos antes —, a fintech de crédito Bullla tomou a decisão de ampliar o negócio com soluções financeiras para funcionários de empresas. Mais do que uma diversificação de receitas, a estratégia se transformou em uma mudança de foco da empresa, que iniciara sua atuação ofertando empréstimo peer-to-peer (P2P).
Com a entrada em crédito para assalariados, a Bullla colocou o crédito em ‘mar aberto’ em segundo plano. Isso não significa, no entanto, que o negócio tenha sido descontinuado. De acordo com Daniel Bergman, vice-presidente da fintech, o P2P ainda tem uma demanda “pequena”, basicamente orgânica. “Mas não é onde estamos investindo nosso tempo principal”, diz o executivo. Ele, porém, não descarta a venda dessa operação. “É uma questão de preço.”
Dando um passo atrás, a Bullla foi uma das primeiras Sociedades de Empréstimos entre Pessoas (SEPs) autorizadas a operar no Brasil pelo Banco Central (BC), ao lado de players como Nexoos e Mova, ambos vendidos — para Americanas e Serasa Experian, respectivamente. Hoje, há apenas 12 SEPs com autorização do BC. Seja pelo cenário macroeconômico instável, seja por uma questão cultural, os empréstimos P2P nunca decolaram, de fato, no país. Mas há quem se anime com os rumos do segmento.
Ambição
A ambição da Bullla é ser a maior fintech de crédito para as classes C e D do país. “Esse é o nosso foco. Antes trabalhávamos com o público não CLT, só migramos para o público celetista. Não foi uma mudança de norte, mas a estratégia de como chegar lá”, destaca o executivo.
Segundo Daniel, o objetivo é continuar crescendo a carteira de crédito e a base de clientes. Ele não abre projeções para o ano, mas diz que tem potencial para dobrar os números “rapidamente”. Em cerca de quatro anos, a Bullla emitiu mais de 1 milhão de cartões e concedeu R$ 1,5 bilhão em crédito.
A companhia aposta em um cartão de crédito bandeira Mastercard, batizado de BullaEne. Com ele, os funcionários das mais de 1 mil empresas clientes podem antecipar até 30% do salário, tomar crédito parcelado, assim como receber benefícios flexíveis e premiações. “Fazemos crédito inclusivo, ou seja, para 100% dos funcionários.”
Novas licenças
Para 2024, revela Daniel, a fintech aguarda aprovação de novas licenças junto ao BC, como instituição de pagamento (IP) emissor de moeda eletrônica (que permite gerenciar contas pré-pagas) e Sociedade de Crédito Direto (SCD) — modalidade de fintech que pode dar crédito com recursos próprios.
“Temos uma IP não regulada que está em fase avançada para receber autorização do Banco Central. E também pedimos [licença] de SCD. Devem sair este ano”, conta o executivo. De acordo com ele, a ideia é que se forme um conglomerado reunindo todas as instituições — IP, SEP e SCD.
Nova captação
Para as operações de empréstimos, a Bullla utiliza FIDCs próprios. Em janeiro deste ano, a empresa concluiu sua captação, no valor de R$ 75 milhões. Em setembro de 2022, já havia levantado R$ 106,5 milhões. Nesta segunda-feira (10), anunciou uma nova operação, de R$ 240 milhões, estruturada pela gestora Vila Rica Capital.
Em nota, a fintech diz que o recurso irá para o crescimento da carteira de crédito. “Esse aporte financeiro não apenas sustenta o nosso atual ritmo de crescimento, mas também fortalece a nossa capacidade de investimento em novas tecnologias e mercados”, afirmou Daniel.
Já em relação à necessidade de capital para o negócio, o executivo lembra que a Bullla opera até hoje com recursos dos acionistas, sem precisar acessar investidores externos. “Uma das nossas pedras é fazer dinheiro ‘dia sim, dia também’. Nosso estilo é crescer com responsabilidade e ‘self-funding’.”
Fundada em 2019 por Marcelo Villela (ex-presidente da Losango), Marcelo Balan (ex-VP do Safra) e Vanda Barros (também ex-Losango), a Bullla atualmente é liderada por Daniel (ex-MovilePay e iZettle), João Matta (ex-Itaú e Visa) e Mauro Gomide (ex-Cielo). “O Bullla não tem mais CEO. Nós três tocamos a empresa respondendo para o conselho”, afirma Daniel.