O mercado de energia solar no Brasil vem crescendo a taxas chinesas. Em 2020, o setor atraiu R$ 13 bilhões em investimentos, sendo que 80% foram destinados para pequenos sistemas de geração solar, segundo a Associação Brasileira de Energia Solar Fotovoltaica (Absolar). Ainda assim, esse tipo de fonte representa um percentual baixo (1,7%) da matriz energética brasileira. Quem está de olho nesse potencial é a Solfácil, uma fintech de financiamento de energia solar que tem no captable o Valor Capital Group, que já investiu em Guiabolso, Stone e Loft.
Em operação desde 2019, a fintech montou uma plataforma B2B2C, que conecta mais de 4 mil integradores parceiros. A linha de financiamento é para a compra de um sistema de energia solar, com limite de R$ 200 mil por projeto para pessoas físicas, prazo de pagamento de 24 a 120 meses, opções de carência de 1 a 6 meses para pagar a primeira parcela, e custo efetivo total (CET) entre 1,32% e 1,57% ao mês.
“A gente propõe trocar uma despesa com conta de luz por um investimento parcelado num sistema de energia solar”, diz o fundador e CEO Fabio Carrara. Segundo ele, a economia com a conta de luz pode chegar a algo entre 90% e 95%.
Com crescimento médio mensal de 30%, a Solfácil vem originando cerca de R$ 40 milhões ao mês. Em 2021, prevê financiar R$ 1 bilhão. Para isso, está em fase de captação de um fundo de direitos creditórios (FIDC) com certificação da Sitawi, consultoria especializada em finanças sustentáveis.
Hoje, para operacionalizar a linha de financiamento, a empresa atua como correspondente bancário da Socinal, mas já tem planos de dar entrada no Banco Central (BC) para se tornar Sociedade de Crédito Direto (SCD).
Como funding para as operações, a fintech emitiu uma debênture como oferta privada em 2019. No ano passado, levantou R$ 116 milhões por meio de debêntures com esforços restritos de colocação, via Instrução 476, da Comissão de Valores Mobiliários (CVM), por meio de sua própria securitizadora. Foram três tranches, com coordenação da Terra Investimentos e com a Vórtx DTVM como instituição mandatária.
Em julho do ano passado, a Solfácil captou uma rodada Série A de R$ 21 milhões, liderada pela Valor Capital, acompanhada por investidores que já haviam participado do primeiro round, de R$ 4 milhões. Apesar de consumir pouco caixa, a startup prevê uma nova rodada de captação para os próximos meses com o objetivo de colocar de pé novos projetos e investir mais em tecnologia, diz Carrara.
No fim do ano passado, a fintech lançou uma linha para pessoa jurídica, com foco em empresas de pequeno porte, como comércios de bairro, em que os lojistas são também proprietários do imóvel. Para 2021, a startup deve colocar no mercado uma modalidade de financiamento para pequenas propriedades rurais e também trabalha no desenvolvimento de uma modalidade de antecipação de recebíveis para ser oferecida aos integradores parceiros.
“A ideia é ter todas as soluções financeiras para o setor de energia solar.”
Num mercado que gira algo como R$ 10 bilhões por ano e hoje é atendido principalmente por bancos como Santander, BV e cooperativas, a Solfácil espera ajudar a ampliar a penetração de energia solar em casas e comércios, atualmente de 0,5%, enquanto países como Estados Unidos e Alemanha têm penetração acima de 3% e 5%, respectivamente.
“O grande problema do setor ainda não resolvido é financiamento porque 93% das pessoas querem colocar energia solar. Fala-se de maneira errada que energia solar é cara no Brasil — quem investe tem retorno superior a 25% ao ano sobre capital investido”, aponta Carrara, um engenheiro formado pela Escola Politécnica da Universidade de São Paulo (Poli-USP), com MBA pela Wharton Business School.
Depois de atuar por mais de sete anos na consultoria Boston Consulting Group (BCG), Carrara passou pelo fundo de venture capital alemão Project A, de onde saiu em 2015, quando começou a se interessar pelo setor de geração de energia distribuída. “Qualquer pessoa pode produzir a própria energia, com placas fotovoltaicas”, explica. Naquele ano, fundou uma empresa integradora chamada Solstar e em 2018 decidiu criar a Solfácil, primeira fintech de energia solar no país. O negócio foi efetivamente para o mercado em 2019.
Segundo ele, esse setor tem crescido 167% ao ano e atualmente existem 400 mil casas com placas fotovoltaicas no Brasil e mais de 20 mil empresas integradoras. Um marco regulatório para o setor de energia solar deve ser colocado em votação na Câmara dos Deputados. A expectativa é que o projeto de lei (PL), de autoria do deputado federal Lafayette de Andrada (Republicanos/MG), seja votado nas primeiras semanas de março.
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