O Pix não apenas se popularizou entre os brasileiros como um meio de pagamento mais rápido, simples, fácil e barato, como também abriu caminho para o surgimento de novos modelos de negócios, utilizando a infraestrutura do sistema de pagamentos instantâneos construído pelo Banco Central (BC). A fintech Drip é um exemplo disso.
Fundada há menos de dois anos pelos ex-Nubank Patrick McDougall Sterea, Bianca Orsini e Paulo Albuquerque, a Drip oferece uma solução de Pix parcelado em 3x, sem taxas e com 2% de cashback, que funciona como uma alternativa de pagamento de compras online.
“Nossa visão é criar, em cima do Pix, um método de pagamento melhor do que o cartão”, diz Patrick, em conversa com o Finsiders. “É o futuro do cartão de crédito.”
Desde o início da operação, a fintech movimentou mais de R$ 10 milhões em transações e mais de 17 mil pessoas já compraram de roupas a cosméticos, usando a solução da Drip. De dezembro último para cá, a receita da empresa tem crescido, em média, 40% ao mês. A expectativa é fechar 2023 com uma carteira de crédito 10x maior em relação ao ano anterior.
O crescimento, contudo, está sendo feito com cautela, ressalta o empreendedor. “Nossa rentabilidade tem melhorado. Hoje ganhamos duas vezes mais por transação do que ganhávamos antes. A inadimplência melhorou 70%, com revisão de processos e modelos”, aponta o fundador, sem abrir os indicadores específicos.
Até hoje, o funding para as operações de crédito vem de equity — a Drip já captou R$ 15 milhões com investidores como GFC, Possible Ventures e Y Combinator. “Agora estamos próximos de levantar um financiamento de dívida que vai nos permitir escalar”, afirma Patrick, que não detalhou se a fintech está estruturando um veículo como fundo de investimento em direitos creditórios (FIDC) ou uma operação de venture debt, por exemplo.
No app ou check-out
Com um nome que remete a uma gíria do “trap”, muito ouvido pelas novas gerações — Drip quer dizer “ter estilo” —, a fintech tem um público jovem, na faixa dos 30 anos, que normalmente é cliente de bancos digitais. “São pessoas que buscam um meio de pagamento complementar ao cartão porque às vezes, em compras parceladas, o limite do cartão é uma questão.”
Para comprar parcelado com a Drip, o usuário pode baixar o aplicativo da fintech, cuja versão mais recente foi lançada há cerca de seis meses, e acessar uma das 200 lojas disponíveis, incluindo nomes como Nike, Shein e Shopee. A opção de pagamento também está disponível no check-out de dezenas de e-commerces parceiros.
Para os varejistas, a solução aumenta a conversão e o tíquete médio de vendas, além de reduzir os custos e melhorar o fluxo de caixa, já que o lojista recebe o pagamento D+0. “Muitos varejistas dão desconto para o pagamento com Pix porque estão eliminando um custo que teriam se a compra fosse com cartão de crédito”, exemplifica Patrick.
Pesquisas comprovam que o Pix vem tendo cada vez mais adesão pelo e-commerce brasileiro. Em dezembro de 2022, 91,5% das principais lojas online no país aceitavam o método de pagamento instantâneo — no início daquele ano, o patamar de aceitação era de 64,4%. Em março deste ano, o Pix voltou a avançar e atingiu 93,2% de aceitação nas maiores lojas online do país, de acordo com a consultoria Gmattos.
Próximos passos
Para a Drip, o desafio é continuar crescendo e atraindo mais consumidores dispostos a comprar por meio do seu Pix parcelado. “Vamos colocar mais lojas, oferecer uma experiência de compra melhor e fazer com que o cliente se engaje mais”, afirma Patrick. “Conforme vamos conhecendo o usuário, podemos oferecer as melhores recomendações para ele e tornar o app cada vez mais personalizado. E futuramente, poderá comprar em qualquer loja, até offline.”
Perguntado sobre o impacto do Pix Garantido, um dos produtos previstos pelo BC na agenda evolutiva do sistema, Patrick diz que essa modalidade pode funcionar, inclusive, como uma “potencial infraestrutura” para os pagamentos parcelados via Pix no varejo físico. “Não tem ninguém melhor do que nós para aproveitar as oportunidades de evolução do Pix.”
Competição
Com o fenômeno do ‘buy now, pay later’ (BNPL) mundo afora — que nada mais é do que a reinvenção digital do famoso crediário brasileiro —, surgiram fintechs com a proposta de popularizar essa modalidade também no Brasil. É o caso da colombiana Addi, que desembarcou no país em março de 2021 e soma mais de 750 lojas que oferecem o pagamento parcelado sem cartão, via Pix. Mais de 500 mil pessoas já compraram com a solução da Addi, segundo informações em seu site.
A Pagaleve, por sua vez, aposta no Pix parcelado, em 4x sem juros. Em um ano e meio de operação, a fintech soma aproximadamente 2 mil lojas em sua base. No captable, tem investidores como Salesforce Ventures e BB Ventures — o corporate venture capital (CVC) do Banco do Brasil (BB). A empresa também foi uma das vencedoras da segunda edição do Prêmio FIDinsiders, na categoria “Solução de crédito para e-commerce e marketplaces”.
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