Aos 10 anos e próximo de atingir 10 milhões de clientes, o Jeitto cresceu com uma proposta de microcrédito para pessoas de baixa renda fecharem as contas no mês, uma espécie de “cheque especial digital”. Com R$ 2 bilhões originados até hoje, a fintech lançou recentemente um empréstimo pessoal atrelado a um seguro prestamista e planeja entrar em novas modalidades no ano que vem, entre elas, Pix parcelado e crédito com garantia.
A missão de acelerar a expansão está nas mãos de Fabiano Camperlingo, responsável pelo crescimento da fintech (ou Chief Growth Officer – CGO), que chegou há pouco mais de dois meses oriundo da fintech de pagamentos europeia SumUp. “O plano para 2025 é colocar combustível na máquina para acelerar o crescimento”, diz o executivo, ao Finsiders Brasil. O aumento da oferta de produtos e serviços, inclusive não financeiros, virá combinado com um esforço maior de divulgação da marca, que até então vem crescendo organicamente.
De acordo com Fabiano, o objetivo do Jeitto é se estabelecer como aplicativo de crédito digital e consumo para as classes C e D. “Estamos ampliando o portfólio, mas nosso negócio é crédito e consumo. Não queremos ser um banco digital”, ressalta ele. “A oportunidade em crédito para classes C e D ainda é muito grande. Temos apenas 1% desse mercado.”
Atualmente em negociação de uma rodada Série B, o Jeitto atingiu o breakeven (equilíbrio financeiro) neste ano. Na última captação, em 2022, a empresa levantou US$ 15 milhões com a Rise Ventures. Neste ano, a fintech deve registrar um faturamento de R$ 1,1 bilhão, quase o dobro em relação a 2023.
Celetistas e autônomos
Com quase 10 milhões de clientes – a marca deve ser alcançada em dezembro -, o Jeitto contabiliza entre 2,5 milhões e 3 milhões de usuários recorrentes. A empresa classifica assim aquelas pessoas que receberam pelo menos uma oferta de crédito todo mês no aplicativo. Além dos CLTs, outro grupo domina a base de clientes: os autônomos são 35% do total. O Jeitto atende pessoas negativadas, mas Fabiano ressalta que não há um foco nesse público. Cerca de 35% dos clientes tiveram acesso ao primeiro crédito com o Jeitto.
Em relação à inadimplência, o executivo diz que está “controlada”. Para ele, um dos trunfos da fintech é o histórico e conhecimento do público que atende. Na avaliação de risco de crédito, os algoritmos de Inteligência Artificial (IA) utilizam dados alternativos, como informações do celular da pessoa. “Sabemos precificar risco para esse perfil de cliente”, afirma Fabiano. Segundo ele, o NPS do Jeitto é próximo a 80, patamar considerado muito bom. Sigla para Net Promoter Score, o indicador mede a satisfação dos consumidores com a marca.
Hoje, o Jeitto oferece crédito sem garantia de pequeno valor – a partir de R$ 50. Conforme o cliente vai pagando em dia, o limite aumenta e pode chegar a R$ 500. O bom histórico de pagamento pode ‘destravar’ também uma linha de empréstimo pessoal. Nesse caso, os tíquetes vão até R$ 3 mil, com prazo máximo de 24 meses. Em setembro, a fintech passou a disponibilizar esse crédito pessoal numa versão com seguro prestamista – que cobre o pagamento das parcelas em situações como desemprego, invalidez por acidente ou morte.
Crédito com e sem garantia
No crédito clean (sem garantia), o Jeitto prevê lançar uma modalidade de crediário digital – ou Buy Now, Pay Later (BNPL) -, assim como uma linha de Pix parcelado. A fintech também tem planos de oferecer empréstimos com colateral. Segundo Fabiano, o consignado privado é a prioridade, dada a quantidade relevante de profissionais CLT que estão na base – metade dos clientes do Jeitto trabalha nessa modalidade.
A fintech também estuda crédito com garantia de imóvel (home equity) e veículo (car equity), para avançar em tíquetes mais altos, algo como até R$ 15 mil. “Nos três tipos de crédito com garantia, estamos avaliando se faremos dentro de casa, vai parcerias ou até mesmo aquisições”, diz o executivo.
No consignado, o foco serão as micro e pequenas empresas, com até 150 funcionários. Segundo Fabiano, apesar do aumento do apetite das fintechs por essa modalidade, as companhias de menor porte ainda não são bem atendidas. “Existe uma oportunidade”, afirma ele. A chegada do ‘novo consignado privado‘, um promessa do Governo Federal que ainda não saiu do papel, pode impulsionar ainda mais esse mercado.
Novos passos
Na frente de produtos não financeiros, por exemplo, a empresa acaba de repaginar seu marketplace, o Mercado Jeitto, de olho no boom de vendas em novembro por ocasião da Black Friday. A novidade é que, a partir de agora, o shopping virtual passará a trazer ofertas que tenham mais fit com o que os clientes procuram. “Itens de construção, por exemplo, estão entre os mais procurados”, cita Fabiano.
Nesta nova versão, o marketplace terá novas opções de pagamento com Pix. Em breve, a ideia é que a plataforma funcione de um jeito (com o perdão do trocadilho) que o cliente não saia do aplicativo da fintech e, assim, pague suas compras com o limite de crédito. O Jeitto também está estudando a entrada no mercado de saúde, por meio de parcerias. E deve criar novos seguros, além do prestamista. “Nosso cliente fala muito sobre seguro funeral. Outro que estamos avaliando é seguro para celular.”
No médio ou longo prazo, o Jeitto prevê iniciar uma expansão internacional, começando pela América Latina, revela Fabiano. Entre os países na mira da fintech estão México, Colômbia e Peru. O executivo conhece a realidade desses mercados devido a sua trajetória na SumUp, onde liderou a expansão da empresa em alguns mercados latinoamericanos.
No Brasil, o Jeitto opera como correspondente bancário de algumas instituições, como Socinal e banco BV. Como funding (fonte de financiamento) para as operações de crédito, a fintech opera um Fundo de Investimento em Direitos Creditórios (FIDC) de R$ 580 milhões. Perguntado sobre a intenção de evoluir o modelo de negócio para uma Sociedade de Crédito Direto (SCD), Fabiano diz que esse plano não existe hoje, mas também não descarta que ocorra no futuro.