Ao embarcar empréstimos em plataformas digitais, como a Strada – especializada em transportes no agronegócio -, Izidoro Polari Neto, fundador do marketplace de crédito IZi.com.vc, enxergou uma oportunidade de expandir o negócio nesse segmento. Com a ValeJá, que ganhou vida própria em abril deste ano, a proposta é oferecer crédito vinculado ao saldo de frete de caminhoneiros.
O crédito oferecido varia entre R$ 1,5 mil e R$ 3 mil, cobrindo necessidades emergenciais como manutenção do caminhão e despesas pessoais. Até agora, a fintech já atendeu 65 mil caminhoneiros, principalmente na região Centro-Oeste do País. “São pessoas invisíveis, que não têm cartão de crédito, não possuem holerite, nem contrato assinado com transportadoras. Acabam recorrendo a postos de gasolina, borracharias ou até agiotas locais”, diz Izidoro.
Segundo o fundador, um dos diferenciais da ValeJá é que a fintech antecipa os recursos durante a viagem. “Atuamos no crédito que está performando. O caminhoneiro recebeu a nota fiscal, teve autorização para carregar a carga e engatou a primeira marcha, já pode pegar o crédito”, explica Izidoro. “Usando a ValeJá, o custo de antecipação é cerca de 75% menor”, diz o fundador.
A ValeJá utiliza modelagens avançadas de análise de risco, cruzando dados históricos e em tempo real sobre cargas, trajetos e motoristas, com informações de mercado e previsão do tempo. Essa abordagem assegura maior precisão na oferta de crédito e gerenciamento de riscos, diz Izidoro, citando que a empresa assume 100% do risco de crédito.
Novas plataformas
A fintech não tem um aplicativo próprio, e sim atua integrada em contas digitais de Instituições de Pagamento Eletrônico de Frete (IPEF), empresas homologadas pela Agência Nacional de Transportes Terrestres (ANTT). Hoje, a ValeJá está presente apenas no Strada Bank, mas está em fase de implantação em outras duas plataformas. Uma delas, por exemplo, soma 600 mil caminhoneiros e tem presença em diversos setores, além do agro.
Além dessas, a fintech prevê colocar para rodar mais duas integrações, chegando a cinco no total até o fim de 2025. “Com as cinco plataformas, vamos cobrir mais de 80% do mercado de frete eletrônico. E também passaremos a atuar em outros segmentos, como transporte de carga seca [não perecível] e entregas last-mile“, conta Izidoro.
No primeiro semestre de 2025, o foco da ValeJá será nos transportadores autônomos, que atualmente totalizam cerca de 1 milhão de profissionais registrados na ANTT, segundo Izidoro. Já na segunda metade do próximo ano, o plano é incluir motoristas vinculados a empresas transportadoras de carga, aumentando, assim, o público-alvo para mais de 3,5 milhões de profissionais.
Captação
Para avançar nos planos de expansão, a ValeJá concluiu no início de dezembro uma rodada pré-seed liderada pela Kadmotek Ventures. A captação, de valor não revelado, teve a participação de outros dois fundos e investidores-anjos. Foi o primeiro aporte recebido pela fintech, que até então vinha sendo financiada com recursos dos fundadores.
Além de Izidoro (ex-executivo de bancos como Sudameris, BMC e Daycoval), a empresa tem como sócios sua esposa Walkiria Detemann (com experiência em serviços de atendimento a cliente de bancos e financeiras) e João Rabello (ex-presidente do Banco Fibra e do Tribanco).
Em 2025, a ValeJá também prevê levantar recursos para funding (fonte de financiamento) das operações de crédito. A expectativa é captar um Fundo de Investimento em Direitos Creditórios (FIDC). “Já estamos em negociação com um banco”, revela Izidoro, sem abrir detalhes.
Outro plano para o ano que vem é o lançamento de um cartão pré-pago. Com ele, o valor do crédito antecipado será carregado diretamente no cartão, permitindo maior controle das despesas domésticas e flexibilidade no uso dos recursos, diz o fundador.