O agro não parou na pandemia e continua pop, tech e… fintech. Quem sabe disso é a TerraMagna, que prevê R$ 500 milhões em antecipação de recebíveis em 2021, quase dez vezes mais que o montante (R$ 53,5 milhões) registrado em 2020.
Para suportar a escalada das operações, a agfintech está se preparando para ampliar seu FIDC, que serve de funding para o crédito feito hoje pela empresa. A expectativa é que o fundo dobre de tamanho neste ano. “Para a safrinha, vamos captar mais R$ 50 milhões”, conta Bernardo Fabiani, CEO da TerraMagna.
Além de elevar a capacidade de funding, a startup está desenvolvendo dois novos produtos. Um deles, previsto para a metade do ano, é um produto de crédito pulverizado, sem garantia, usando duplicatas digitais — ao contrário da modalidade hoje usada pela startup, que se baseia numa operação de barter, com emissão de cédula de produto rural (CPR) como garantia.
“Vamos pegar uma fração da safra, e não o colateral. É o outro extremo, não concentrado e sem garantia, do crédito que fazemos hoje”, explica Fabiani. A criação do novo produto se encaixa na estratégia de diversificação do funding, caminho que a agfintech começa a trilhar este ano. Além do crédito pulverizado sem garantia, a empresa prevê fazer neste semestre sua primeira operação no modelo Capex.
Capitalizada a startup está. Em dezembro, captou um aporte seed de US$ 2 milhões liderado pela ONEVC, em rodada acompanhada por Maya Capital, Accion Venture Lab, além dos investidores-anjos Fernando Gadotti (DogHero), Lincoln Ando (idWall), Patrick Sigrist (iFood e Nomad) e Allan Kajimoto, CEO do Delivery Direto.
Fundada em 2017 por Fabiani e os também engenheiros formados no Instituto Tecnológico de Aeronáutica (ITA), João Paulo Torres e Rodrigo Marques, a TerraMagna usa monitoramento via satélite, fontes de dados alternativas e análise por IA para conectar o campo ao mercado de capitais. A empresa não acessa diretamente o produtor rural, e sim atende 50 agroindústrias, revendas e distribuidoras de insumos.
No ano passado, a TerraMagna monitorou via satélite 8,3 milhões de hectares, um aumento de 340% comparado a 2019. Contratou 35 funcionários, fechando o ano com 58 empregados, e abriu dois escritórios (Piracicaba e Cuiabá), além de uma nova sede, em São José dos Campos (SP).
Para 2021, o monitoramento de garantias via satélite deve bater 33,2 milhões de hectares, quatro novos escritórios serão abertos no primeiro trimestre e o número de funcionários deve chegar a 203. Sua carteira de penhores agrícolas soma R$ 15 bilhões e 22 mil fazendas monitoradas. Desde o início do negócio, foram apenas 38 arrestos.
“Muitos produtores agora no final da safra tentaram desviar a produção, e foi uma prova de fogo interessante para nossa tecnologia. Apesar disso, conseguimos receber deles sem judicializar. Conseguimos receber deles sem fazer arrestos.”
A tese de agfintech é uma tendência no Brasil dada a oportunidade de melhorar a oferta de crédito, seguros e gestão de riscos no setor que responde por um quarto do PIB. Francisco Jardim, sócio da SP Ventures, acompanha de perto o mercado e diz que o potencial é imenso.
Entre os nomes que apostam nessa intersecção entre agro e fintech, estão Aegro, Agronow (investida do BTG Pactual e liderada por Rafael Coelho, ex-Monkey Exchange), DuAgro (fundada pela XP e pela securitizadora Vert), Traive e Bart Digital.