Cooperação é a palavra da vez no setor financeiro, avaliam especialistas no FID21

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A aparente briga entre Davi (fintechs) e Golias (bancos) parece realmente ter sido deixada de lado. Em um cenário de constantes transformações no setor financeiro, um ponto comum a todas elas é o mesmo: cooperação. “É a palavra da vez no mercado financeiro”, disse Bruno Diniz, diretor para América do Sul da FDATA e sócio da Spiralem, durante o FID 21, evento com líderes de bancos, fintechs e empresas de tecnologia, realizado nesta semana. E, claro, o Open Banking é o pano de fundo disso tudo.

Durante muito tempo, a indústria financeira operou de forma verticalizada até a chegada de novos players. “Isso foi ajustando as regulamentações, tecnologias. A gente falava de um lado banco, de outro fintech. Esse assunto ficou um pouco de lado. Nós entendemos uma realidade muito mais plural. Tudo isso só é possível por conta dos avanços como também pelas parcerias que permitem que esse ‘go to market’ seja acelerado”, comentou Diniz.

Fred Amaral, general manager da Dock, enxerga este movimento acontecendo desde 2018: enquanto alguns bancos tomaram uma postura de serem mais protetivos com seus clientes, outros se abriram de forma mais expressiva. De acordo com ele, instituições que tiveram essa postura acabaram se tornando cooperadores do ecossistema. “É um desejo do Banco Central. Eles estão pegando uma estrutura de gerenciamento de negócio de anos, aproveita e dá a possibilidade de as fintechs surgirem.”

O fato é que ter uma infraestrutura de tecnologia bancária pode ser um diferencial competitivo para os novos entrantes, o que leva a crer que todo player pode ser uma fintech se seguir alguns requisitos básicos. Não à toa, o mercado vem ganhando novas plataformas de banking as a service (BaaS) — a exemplo da Dock –, assim como players que atuam em registro de recebíveis, back-office de fundos de investimento, além de sistemas de clearing (leia mais sobre isso aqui).

“O papel daquele que provê a infraestrutura não tem que exercer papel de predominância, não tem que ter a sua marca na frente do consumidor final. Além disso, este player tem que ter na cabeça que ele é responsável por alavancar o setor do ponto de vista de preço. Com isso, qualquer empresa pode ser uma fintech”, acrescentou Amaral. 

‘Embedded finance’

O avanço do ‘embedded finance’, ou finanças embarcadas, é uma tendência mundial, e no Brasil não é diferente. O contexto é claro: a chegada de players de setores como varejo, telecom, entre outros, que buscam capturar novas linhas de receita com oferta de serviços e produtos financeiros à base de clientes. 

O que está mudando é a capacidade de empresas, cujo ‘core business’ não tem nada a ver com finanças, entrar na vida dos usuários e entendê-lo do ponto de vista de finanças. “Mais inteligente ainda é unir o desejo de finanças com o core business. É conseguir encaixar finanças na vida de pessoas que antes a viam como algo exógeno”, argumentou Amaral, da Dock.

No caso do Bitz, carteira digital lançada pelo Bradesco em setembro do ano passado, ocorre o movimento contrário: a solução começou como carteira digital e foi agregando serviços não financeiros. Para Curt Zimmermann, CEO da fintech, o que move a pessoa a querer ter uma solução de carteira envolve muitos outros objetivos. “No fundo, o que a gente percebe é a necessidade de que a transação financeira tem que ser segura, mas quase que invisível. As finanças fazem parte da jornada das pessoas, veio para ficar. A tecnologia acelerou essa questão.”

Em outubro do ano passado, um mês após fazer sua estreia, o Bitz anunciou a compra da fintech DinDin, que atua no segmento desde 2016. A startup foi fundada pela administradora de empresas Stéphanie Fleury, primeira mulher a vender uma fintech ao Bradesco. Em dezembro, o Bitz fechou a segunda aquisição: 4ward, que opera no mesmo segmento desde 2013. Com investimento de R$ 100 milhões em seu primeiro ano de operação, o Bitz espera abocanhar 25% do mercado de wallets em três anos, conforme contou Zimmermann, em reportagem de Danylo Martins, para o Valor, em setembro de 2020.

Investimentos em fintechs

“O mercado está aquecido”, resume Bruno Diniz, da FDATA. Mais do que o volume e o interesse crescente de aportes de fundos de Venture Capital em fintechs, houve uma diversificação maior na predileção dos investidores. Até pouco tempo atrás, as startups de pagamentos e crédito eram as preferidas de VCs, mas hoje não são unanimidade. “A gente está vendo muita fintech ligada à infraestrutura, seja por conta do Open Banking, Pix, as transformações que estão acontecendo”, analisou o especialista.

Diniz lembrou que o Brasil ficou em terceiro lugar em número de mega deals, que são as operações acima de US$ 100 milhões, atrás de China e Estados Unidos. De janeiro a abril deste ano, as fintechs brasileiras captaram pouco mais de R$ 730 milhões em 45 aportes. Só em abril, foram US$ 123 milhões em 12 deals, segundo o Inside Fintech Report, do Distrito Dataminer — braço de inteligência de dados da empresa de inovação Distrito.

Em M&A, foram registradas 14 operações até o fim de abril —  mais da metade do total em 2020. Os compradores são em sua maioria diferentes, com apenas a Boa Vista e a Locaweb adquirindo duas fintechs até o momento. Em outro material divulgado recentemente, o Distrito estimou que os M&As devem crescer mais de 50% este ano em relação a 2020.


>> Acompanhe nos próximos dias outras reportagens sobre as principais discussões do FID21! 

 

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Danylo Martins é jornalista com dez anos de cobertura de finanças, empreendedorismo e inovação no setor financeiro. Com MBA em mercado de capitais, é vencedor de quatro prêmios de jornalismo econômico e colabora com o jornal Valor Econômico há oito anos. Teve passagens por Folha de S.Paulo e revista Você S/A.

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