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De Goiânia para o Brasil: em pouco mais de dois anos, fintech de home equity Crediblue fecha R$ 300 milhões em contratos e atinge "break even"

Nem só de cantor sertanejo famoso vive Goiânia. A fintech especializada em crédito com garantia em imóvel (modalidade conhecida como home equity) Crediblue também é de lá, e vem conquistando clientes e negócios muito além de Goiás.

Rensga!*

Brincadeiras à parte, o fato é que apesar de estar na estrada desde 2020, ter conquistado o BNDES, e a gestora paulista Genial, a Crediblue é mais conhecida fora do eixo Rio-SP. Segundo seu fundador e CEO, Marco Antônio Raimundo, a fintech atingiu o break even no quarto trimestre do ano passado. Ele afirma, ainda, que a plataforma registra cerca de R$ 350 milhões de operações por mês, mas o que virou contrato de crédito efetivamente é algo como R$ 300 milhões.

A parceria com o BNDES e a Genial foi em 2022, quando a Crediblue assumiu o papel de originadora no lugar da CashMe (fintech da Cyrela) em um fundo de investimento em recebíveis (FIDC) destinado a conceder crédito para micro, pequenas e médias empresas e empresários individuais (MPMEs e MEIs) em um programa do BNDES. O portfólio de até R$ 500 milhões é originado pelos ativos da Crediblue. “2022 foi muito importante para a gente, foi o ano de validação do negócio”.

A Crediblue tem uma rede com mais de 700 parceiros, principalmente em regiões do país sem fácil acesso ao mercado de capitais – como Balsa, no Maranhão, e Tangará da Serra, no Mato Grosso. A meta é chegar a 2.500. Esses parceiros podem ser correspondentes bancários, consultores (de crédito e de empresas), corretores de imóveis ou construtoras e incorporadoras.

Vivo no final

“Investimos dinheiro nosso, da venda de uma empresa para a Hypermarcas em 2010, onde fiquei até 2012; depois, resolvemos apostar na área de logística e em 2015, numa securitizadora; em 2019 criamos a Blue Investimentos e Participações e, no ano seguinte, a Crediblue. Nunca recebemos aportes na Crediblue, por isso a pressa do break even: não podíamos continuar queimando caixa”, diz. Segundo o empreendedor, apesar das dificuldades do primeiro semestre deste ano, a Crediblue segue crescendo e já dá lucro. “Agora, o plano é chegar vivo no final de 2023”, brinca.

Raimundo explica que a busca por funding para dar liquidez às operações é constante, não só para ampliar o acesso a capital mas também para diversificar os perfis de investidores – em termos de seus objetivos de risco e retorno. Além do BNDES, Genial e algumas outras, a Crediblue está em negociação com outras casas.

Em relação a aportes, eles não planejam nada por enquanto, pois o mercado fraco andou penalizando o valuation de quem precisou captar, lembra o CEO. “Mas não descartamos aproveitar alguma janela que se abra mais para a frente”.

O negócio da Crediblue é B2B2C, ou seja, a fintech origina operações com garantia em imóveis para seus parceiros oferecerem crédito mais barato para os tomadores finais, sejam empresas ou pessoas. “Podemos ter vários parceiros e vários investidores, por isso a importância da qualidade tecnológica da plataforma”, diz.

Os empréstimos podem ser tanto para para capital de giro quanto para ampliação de negócio, troca de crédito caro por barato, compra de um imóvel ou a realização de sonhos. “O home equity não se restringe a finalidades específicas. E com o alongamento do prazo de pagamento, é possível se planejar com maior eficácia e romper com o ciclo de dívidas curtas e caras”.

O CEO acredita que há muito espaço e potencial para crescer no home equity no Brasil. “O estoque no país é de R$ 15 bilhões, de acordo com a Abecip, a uma taxa média de 16% a 17% ao ano; enquanto isso, há R$ 78 bilhões de pessoas físicas endividadas em crédito rotativo do cartão de crédito a uma taxa média de 437% ao ano, segundo dados de julho do Banco Central. Em cheque especial, são mais R$ 33 bilhões, a uma taxa de 134% ao ano”, compara. O potencial do home equity segundo alguns especialistas do mercado seria de R$ 500 bilhões – ou seja, estamos fazendo 3% disso.

Mas Raimundo admite que é preciso “catequizar” os potenciais tomadores, pois crédito de longo prazo costuma ainda ser visto com maus olhos no Brasil. “Estamos investindo nisso”.

*Gíria goiana que significa “espanto com alguma coisa muito legal“.