Depois de fechar parceria com a construtora Trisul, a fintech LendMe, especializada em crédito com garantia em imóvel, vai anunciar em breve mais dois clientes do seu “Home Equity as a Service”: um banco e uma seguradora. A informação é do CEO da LendMe, Elyseu Mardegan – que no entanto ainda não pode revelar os nomes dos novos parceiros. A LendMe fará todo o trabalho de back office antes de o crédito ser concedido, e será responsável pela tecnologia bancária.
“A alta dos juros vem incentivando a troca de crédito pessoal por home equity – que tem taxas mais baratas e prazos mais longos”, diz o CEO. “A alta da taxa básica demora mais para chegar aos empréstimos imobiliários, e nessa modalidade, o home equity digital, que a LendMe oferece, é o mais simples de contratar”. Segundo Mardegan, a troca de um crédito pessoal pelo home equity permite ao tomador reduzir de 60% para 30% o comprometimento da renda mensal com as parcelas.
A LendMe atua nesse mercado desde 2020, e somente em março a plataforma registrou mais de R$ 500 milhões em solicitação de crédito. Em fevereiro, o número de solicitações de empréstimo na LendMe quase dobrou, quando comparado com fevereiro de 2021, ficando acima da média de crescimento do mercado. Entre os clientes que buscaram o crédito, 60% são empreendedores e empresários, dos quais 64% são homens e 78% tem mais de 45 anos.
Além de substituir dívidas mais caras, os empréstimos via home equity vem sendo usados para dar fôlego ao negócio no pós-pandemia, para pagamento da folha, ampliação e/ou reforma do estabelecimento (setor de serviços). “Quase 50% dos clientes já conheciam a modalidade, indicando que culturalmente o produto vem rompendo barreiras e ganhando espaço no mercado”, diz o CEO.
Apesar dos bons ventos soprando para o seu nicho de negócio, a LendMe vai ter que esperar mais do que o previsto para fechar sua rodada série A, que começou em janeiro. Até agora, a fintech já recebeu aportes de R$ 6 milhões de investidores anjo.
Hipoteca reversa
No ano passado, a LendMe foi aceita para testar o modelo de hipoteca reversa pelo SandBox do Banco Central. O produto, voltado para pessoas físicas, utiliza como garantia imóveis já quitados, e possibilitam o recebimento de uma renda vitalícia complementar a aposentadoria ou um montante de recurso à vista, que pode ser empregado da forma que o tomador julgar mais conveniente. Quem aderir a essa modalidade continua morando normalmente no imóvel até o final de sua vida, sem precisar se desfazer do patrimônio. Segundo Mordegan, os testes vem sendo realizados com base na liberação de crédito equivalente a 30% do valor do imóvel.
Segundo a Associação Brasileira das Entidades de Crédito Imobiliário e Poupança (Abecip), em fevereiro deste ano, 2.022 contratos foram fechados – número 44% maior ao mesmo período do ano passado. Isso representou R$ 407 milhões em créditos concedidos, valor 31% superior quando comparado ao mesmo período de 2021.
Desde que surgiu no Brasil, em 2007 – por iniciativa da Brazilian Mortgages, onde Mardegan atuou – o home equity acumulou R$ 13,7 bilhões em carteira e 99 mil contratos. No ano passado, foram fechados cerca de 25 mil contratos por pessoas físicas e jurídicas, gerando uma carteira de R$ 5 bilhões. Se as reformas para modernizar toda a cadeia de empréstimo for adiante, a expectativa do Banco Central (BC) é que o home equity possa injetar R$ 500 bilhões na economia, quase triplicando sua participação no PIB nacional, que hoje é de 3%.
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