Depois de conseguir levar o balanço da fintech de crédito Sim para o azul, de comprar 60% da Toro Investimentos no ano passado, lançar sua corretora digital de seguro de automóveis Auto Compara há duas semanas e de anunciar hoje a criação da Radar Empreenda, o Banco Santander quer consolidar sua presença digital no mercado financeiro brasileiro. A afirmação é de Geraldo Rodrigues, diretor de negócios digitais do Santander, em entrevista exclusiva ao portal. “Tomamos diversas iniciativas desde 2019, agora é hora de acelerar”.
A Sim, fintech de oferece crédito pessoal e com garantia de veículos para a baixa renda, é o braço de financiamentos da Superdigital que oferece conta corrente digital. Segundo o banco, a Sim fechou 2020 com 0,5% de market share no segmento, com a geração de R$ 72 milhões em novos contratos ao mês e tíquete médio de R$ 6,7 mil. Neste mesmo período, a Sim soma R$ 700 milhões de carteira e prevê atingir R$ 10 bilhões em cinco anos. A empresa, lançada há pouco mais de um ano, já conta com mais de três milhões de usuários.
O banco tem ainda a EmDia, plataforma digital de renegociação de dívidas; a WebMotors, de comércio e financiamento de veículos online; e o Lab 033, laboratório de inovação que tem atualmente dez startups incubadas.
“O mercado de crédito no Brasil é muito desafiador, grande e concentrado; mesmo assim, em um ano difícil como 2020, conseguimos uma carteira de R$ 1 bilhão, que era a meta para 24 meses”, comemora Rodrigues. O foco da Sim é crédito pessoal, (com ou sem garantia de veículos) e financiamento de compras feitas no e-commerce. O crédito digital para empresas está em discussão, porém dentro da GetNet, a plataforma de adquirência de cartões do banco. “Podemos oferecer crédito fumaça (sem garantia, só com base no histórico de vendas dos clientes por meio de cartões) e antecipação de recebíveis.
O Lab 033 se conecta ao ecossistema de startups para conhecer e entender as melhores soluções digitais em desenvolvimento para acelerar os negócios do banco. A parceria, segundo Rodrigues, não se dá obrigatoriamente investindo, mas contratando serviços. “Mesmo sem a prerrogativa do espaço físico, o Lab 033 é braço de aceleração de inovação onde fazemos experimentações de inovação aberta”, explica. Recentemente, trouxe para o Brasil uma startup de inteligência artificial de Israel para melhorar a gestão de relacionamento com clientes (CRM) e a customização da oferta. “Estamos sempre avaliando parcerias com várias fintechs”.
Portfólios complementares
A concretização do negócio com a Toro ainda aguarda a aprovação dos órgãos reguladores, lembra Rodrigues. O Santander já tem uma plataforma digital de investimentos, a Pi, focada em renda fixa – atualmente, oferece mais de 240 produtos – enquanto a Toro é especialista em renda variável. “A Toro virá complementar a construção de portfólio”, diz.
Na época do anúncio, em setembro, o Santander informou que a transação envolve compra de ações, aumento de capital e aporte de ativos operacionais da Pi. Além de somar as carteiras de clientes, a nova fintech deve se beneficiar da infraestrutura tecnológica autônoma da Toro para o varejo, ao lado do modelo desenvolvido pela Pi para atuar junto a clientes como family offices, gestores e consultores de investimentos.
Dias antes de comprar a Toro no Brasil, em 20 de setembro do ano passado, o grupo espanhol anunciou a transformação seu braço de investimentos em venture capital, o Santander Innoventures, em uma unidade independente, batizada de Mouro Capital – no seu portfolio há duas fintechs brasileiras, a a55 e a Creditas. Na época, o banco disse que a decisão era parte do plano de investimentos de 20 bilhões de euros no período de 2019 a 2022 para reforçar sua transformação digital.
Startups no radar
O Radar Empreenda, anunciado hoje, é uma junção de dois programas anteriores do banco (Empreenda, da Universidade Santander, e o Radar, do Lab 033). O objetivo é criar um polo de atração de empreendedores em diferentes estágios. O investimento do Santander e Santander Universidades é de R$ 1,3 milhão.
O novo programa foi todo pensado para rodar em ambiente virtual, e contará com o apoio de um espaço físico – o Farol Santander, onde funcionava o Banespa, no centro de São Paulo. Terá duas categorias: a primeira para universitários e empreendedores iniciais, engajados em formar equipes para criação de novas startups, alinhadas a desafios do Santander; eles vão receber bolsas de estudo de R$ 2 mil por 6 meses. A segunda é para startups e scale-ups que têm interesse em co-criar soluções com o banco. Ambas as iniciativas serão conduzidas em parceria com a The Bakery, empresa global de inovação corporativa.