CEO da Remessa Online desde janeiro de 2021, José Dias – ou Zé, como prefere – foi o responsável pela profissionalização da gestão que fez o Ebanx se interessar por comprar a fintech no final daquele ano, por R$ 1,2 bilhão. A operação não poderia ter vindo em hora mais oportuna: com a retração dos investidores, a Remessa Online teria mais dificuldades em se financiar dali para a frente, assim como tantas startups. “Funding não é mais uma questão”, diz nesta entrevista exclusiva à Fintechs Brasil.
Estar debaixo do guarda-chuva da empresa de pagamentos brasileira que tem negócios em diversos países da América Latina não evitou que a fintech também precisasse demitir, como tantas startups: 70 foram dispensados. Dias, porém, garante que o remédio amargo já foi tomado e não há mais cortes pela frente.
O executivo reconhece que este ano será de crescimento menos espetacular – e que o foco na geração de receitas vai aumentar. Para isso, o CEO conta com sua entrada na oferta de produtos de comércio exterior para pequenas empresas e na expansão do negócio de “câmbio as a service” que iniciou oficialmente há um ano, após o bem-sucedido piloto com o Nubank em 2021. “Mas principalmente vamos continuar investindo em inovação e tecnologia. Com a ajuda do novo Marco Legal, as transações vão ter custos cada vez mais irrisórios e serem fechadas de modo cada vez mais instantâneo”.
Dias se considera um neófito em tecnologia – área que descobriu e pela qual se apaixonou durante seu ano sabático, em 2019. Antes, o executivo transitava por indústrias convencionais, no ramo de alimentos e bebidas, dentro e fora do Brasil.
Leia a seguir os principais trechos desse bate papo:
FINTECHS BRASIL: O ano passado interrompeu a toada de crescimentos galopantes, para todas as startups – até para os unicórnios. O que a Remessa Online espera para este ano?
ZÉ DIAS: Crescer em volume, receita e principalmente em rentabilidade. O capital está mais arisco e não aceita desaforos. Temos espaço para esse crescimento, e apostamos em três vetores: tornar as transações cada vez mais instantâneas, seguras e baratas; atender pequenas e médias empresas exportadoras; e avançar no “câmbio as a service”. O novo Marco Legal do câmbio veio para ajudar. Contudo, sabemos que em 2023 o crescimento não será em múltiplos e sim em percentual (em vez de crescer 10 vezes, poderemos crescer 50%, por exemplo). Para 2024, porém, já enxergamos a oportunidade de retomar o ritmo de galopada.
FINTECHS BRASIL: Como é o serviço de câmbio para PMEs?
ZÉ DIAS: As operações de comércio exterior ainda são dominadas pelos grandes bancos, e a maioria ocorre off line; as pequenas empresas não conseguem ter um gerente dedicado para atendê-las, e vimos no mercado de pequenas importações e exportações um excelente negócio para nós. Os bancos não oferecem um serviço que permitam que elas façam as transações sozinhas, então o comércio exterior para vendas online é um excelente mercado para desbravar, começar a digitalizar e criar produtos com essa mesma lógica: preço muito baixo, instantâneo com uma experiência simples e segura.
FINTECHS BRASIL: O “câmbio as a service” já está rodando há mais de um ano. Como tem sido os resultados?
ZÉ DIAS: O conceito de API (Application Programming Interface (Interface de Programação de Aplicação) é a base dos marketplaces. Está todo mundo buscando formas de inovar, ofertar mais serviços, completar sua cesta mas sem ter que fazer tudo sozinho – até para diminuir o risco de fazer tudo dentro de casa. Seja para marketplaces seja para criação de um produto, é sempre preciso ter algum parceiro – banco ou empresas de tecnologia – para fazer essa história acontecer. E quando você chega com a Remessa Online, parte do grupo Ebanx, parceira do Banco Topázio, facilita a conversa. A gente acredita que tem uma série de operadores de investimentos em criptomoedas e outras diversas indústrias que precisam do câmbio como parte do seu produto final, e para fazer isso de forma rápida de forma habilitar mais gente as APIs são a solução, pois permitem “embarcar” a minha tecnologia em outros provedores; por isso é algo que a gente está trabalhando muito forte a gente já tem produtos sendo comercializados nessa linha – o piloto foi com o Nubank, no final de 2021.
FINTECHS BRASIL: Falta muito para tornar as operações 100% instantâneas?
ZÉ DIAS: Nos próximos meses vamos implantar uma sequência de inovações que levará o percentual de transações instantâneas próximo de 100%. A gente ainda tem uma jornada importante de inovações para fazer na Remessa Online, para levar o mercado para o lugar que a gente acredita, um lugar onde os custos são irrisórios, onde as mensagens são instantâneas e uma experiência muito confiável; então se a gente atacar as dores de preço, instantaneidade e segurança da experiência temos um produto de câmbio muito bacana; tem uma série de inovações que a gente está fazendo nessa linha, para fazer o produto cada vez mais competitivo nessas três frentes.
FINTECHS BRASIL: O novo marco cambial ajuda ou atrapalha?
ZÉ DIAS: Ajuda, claro. A desregulamentação – ou melhor, a inovação regulatória – é uma tendência positiva. A lei veio fazer exatamente o que a Remessa Online se propõe desde o começo: diminuir os preços, fazer a operação ser mais instantânea e melhorar a segurança. A gente já sabia que isso estava por vir e, sabendo, já fez uma série de mudanças dentro de casa. Colocamos novos produtos no ar à luz da nova regulamentação. Um produto de câmbio às vezes é complexo para o cliente, pela quantidade de informações que tem que prestar; agora ficou muito mais fácil. Nosso negócio já estava à frente dessa corrida, no dia 1 que estava valendo, já estávamos lá com produtos novos e adaptados a essa legislação. Até dezembro, uma operação de câmbio, dependendo da natureza, exigia não apenas CPF mas Imposto de Renda e uma série de outras informações; hoje uma quantidade importante dessas operações é feita apenas com o nome e CPF. Hoje, com o enriquecimento de dados, que é parte da nossa tecnologia, e o novo entendimento legal do Banco Central, vamos ampliando o entendimento do cliente ao longo do tempo e fazendo um do histórico progressivo, ampliando os limites de operação e possibilidade de ofertar mais produtos. Mas é bom lembrar que ao facilitar, a regulação também deixa o mercado mais aberto a competidores. De qualquer maneira, é o cliente que sai ganhando.
FINTECHS BRASIL: Além da tranquilidade do funding, no que mais você diria que a venda para o Ebanx contribui para os negócios?
ZÉ DIAS: O Ebanx não é mais uma startup, já é uma empresa grande, e sendo parte de um grupo maior do mesmo segmento fica mais fácil falar com alguns parceiros. A Remessa Onlline nasceu em 2016 atendendo pessoas físicas, para envio de dinheiro ao exterior; a partir de 2020, entrou também no negócio de recebimentos, e ampliou o atendimento para pessoas jurídicas. O Ebanx viu na fintech a chance de complementar o serviço que prestava, acrescentar ao portfolio algo que não fazia, mas que tem tudo a ver com o core business dele. Em seis anos de vida independente, a fintech já transacionou mais de R$ 31 bilhões e atendeu mais de 400 mil clientes em mais de 100 países.