Fundada em 2017 pelos irmãos Erick e Anderson Moutinho, a Eskolare nasceu com a proposta de transformar as escolas privadas em uma espécie de Mercado Livre, permitindo que as instituições de ensino vendam seus próprios produtos ou de terceiros, como material escolar, uniformes e cursos extracurriculares. Com a evolução do negócio, foi preciso incrementar a tecnologia de pagamentos para suportar as movimentações crescentes na plataforma. Desde o ano passado, a startup também passou a oferecer conta digital e antecipação de recebíveis. Em 2025, o plano é escalar nessa frente de soluções financeiras.
“Precisamos criar uma estrutura de pagamentos muito parruda porque as escolas aceitam diferentes métodos de pagamento e os vendedores têm vários canais. No final das contas, nos tornamos um orquestrador de pagamentos com split [divisão das transações]”, conta Erick Moutinho, co-fundador e CEO da Eskolare, em entrevista exclusiva ao Finsiders Brasil. Para colocar isso de pé, a empresa possui conexão com diferentes plataformas e adquirentes (credenciadoras), como Adyen, PagSeguro e iugu.
O empreendedor conta que o negócio começou com 23 escolas e vendedores, que movimentaram R$ 1 milhão. Desde o início das operações, a Eskolare já transacionou R$ 1,2 bilhão. Atualmente, atende mais de 2,9 mil escolas, 300 vendedores e 1 milhão de famílias em todos os Estados do Brasil. Nas lojas virtuais das instituições de ensino, há mais de 20 categorias de produtos e serviços, como matrícula e rematrícula, uniformes, cursos extracurriculares, saídas pedagógicas, entre outros.
Birô de dados
“Começamos a ter uma inteligência de dados. Viramos uma espécie de birô de dados para o setor educacional“, afirma Erick. “O mercado de crédito hoje tem uma esteira padrão. E quando um banco dá crédito para uma empresa, ele olha só o CNPJ. Nós conseguimos olhar a composição do ecossistema, da rede, que inclui as escolas, os vendedores e as famílias”, completa o co-fundador Anderson Moutinho.
No crédito, a Eskolare deu os primeiros passos em 2024 com uma linha de antecipação de recebíveis. Em quatro meses, a modalidade totalizou R$ 6 milhões em operações, com recursos próprios. “Agora estamos negociando um FIDC [Fundo de Investimento em Direitos Creditórios] para escalar esse produto”, revela Anderson. Além disso, ele diz que a jornada de contratação também ficará mais fluida e simples.
Segundo a dupla de empreendedores, a receita com antecipação de recebíveis permite à Eskolare dobrar seu take rate, ou seja, a taxa que a startup ganha a cada transação. “Nosso tíquete médio é de R$ 70 mil, com um prazo de 54 dias. O nível de inadimplência e fraude é muito baixo”, destaca Anderson. “O crédito para escolas tem de ser consciente, sustentável e pontual”, complementa Erick.
Para famílias
Também para avançar em serviços financeiros, a Eskolare lançou no fim do ano passado uma conta digital para escolas e vendedores, utilizando a solução de um player de Banking as a Service (BaaS). “Hoje todo cliente (escola ou vendedor) do ecossistema tem uma conta digital, e isso permite construir uma relação de banking“, diz Anderson.
De acordo com ele, um dos planos para este ano é começar a oferecer soluções para as famílias. “Vamos lançar um aplicativo para centralizar os pagamentos das famílias”, conta. Nessa plataforma, a ideia é que os pais também possam ter condições melhores, como mais prazo, para pagar pelos produtos e serviços. “Hoje quem escolhe os métodos de pagamento são os vendedores e as escolas. Mas às vezes os pais querem pagar em mais parcelas.”
As investidas da Eskolare em produtos e serviços financeiros pode ser considerada quase que um retorno às origens para os irmãos. Tanto Anderson quanto Erick trabalharam no setor financeiro antes de partir para a área de educação. Erick foi gerente sênior de inovação no Itaú. Já Anderson foi analista de Investment Banking, também no Itaú. A dupla atuou na Zoom, empresa de soluções de aprendizagem, antes de montar a Eskolare.
Concorrência
O setor de educação é um dos que vêm seguindo a tendência do embedded finance (serviços financeiros embarcados). Nesse sentido, grandes grupos educacionais buscam criar seus braços financeiros, assim como investem em startups na área.
A Arco Educação, por exemplo, comprou em 2022 a Isaac, plataforma de soluções financeiras para instituições privadas de ensino básico. O Educbank, que também atende escolas de educação básica, tem como investidora a Vasta Educação, do grupo Cogna.