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Ewally demite quatro executivos e busca R$ 60 milhões junto a investidores; Carrefour pode sair do negócio

A Ewally, instituição de pagamentos (IP) especializada em Banking as a Service (BaaS) e contas digitais, está fazendo uma “higienização” no negócio. O objetivo é atrair mais capital – a princípio, R$ 60 milhões.

A fintech acaba de demitir quatro executivos, o que faz parte do planejamento para conseguir entregar em agosto o earn out combinado com o Carrefour – o maior investidor depois do sócio fundador, o engenheiro André Cunha. Além dos desligamentos, a Ewally vem cortando custos com ferramentas de gestão e com fornecedores, para focar todos os esforços na conquista de novos clientes.

As informações foram colhidas pelo portal Fintechs Brasil junto a fontes qualificadas, que preferiram não se identificar.

Procurados, tanto Cunha quanto o Carrefour não atenderam aos pedidos de entrevista. O Carrefour divulga balanço trimestral no próximo dia 25/7 e alega estar em “período de silêncio”.

O Carrefour comprou 49% da Ewally em outubro de 2019 para alavancar seu ecossistema de pagamentos, distribuição de produtos e serviços digitais no Brasil. O valor não foi divulgado na época, mas segundo o site Pitch Book, o negócio girou em torno de US$ 20 milhões, o que hoje equivaleria a R$ 96 milhões. O varejista condicionou os pagamentos, e a eventual compra do controle do capital em três anos, ao cumprimento de determinadas metas (earn out). O prazo final para a decisão seria outubro do ano passado, mas segundo as fontes ouvidas pelo portal, a Ewally teria conseguido uma prorrogação para agosto deste ano.

Em xeque

“Apesar de anunciada com grande antecedência, a entrada em vigor da Resolução 246 do Banco Central, no último dia 1º. de abril, colocou em xeque o futuro das startups de BaaS que oferecem conta digital acoplada a cartões pré-pagos”, diz um alto executivo do mercado de fintechs a par do negócio.

A Resolução limitou as Taxas de Intercâmbio (TIC) dos cartões pré pagos a 0,7%. Antes, não havia limite e no mercado em geral as TICs variavam de 1,5% a 2%. A TIC é a principal fonte de receita de fintechs como a Ewally. No ano passado, os pré-pagos transacionaram R$ 228 milhões, quase o dobro de 2021.

Ainda segundo esse executivo, desde o ano passado a Ewally convocou todo seu alto escalão para ajudar na busca por investidores, “mas não está fácil”. Para ele, o mais provável é que a filial brasileira do varejista francês venda sua parte na Ewally.

Segundo outra fonte, que também não quis se identificar, o Midas Medici Group Holdingscontrolador da brasileira Qintess – , foi um dos sondados para o aporte. Mas teria declinado da oferta uma vez que só investe em empresas das quais vira o controlador.

Perdas e ganhos

A Ewally informa em seu site que realizou mais de seis milhões de transações no valor de mais de R$ 7 bilhões em 2022 – crescimento de 378% no último triênio. Carrefour e Atacadão, claro, são os principais clientes da startup.

Apesar de ter mais do que dobrado as receitas com BaaS no ano passado para R$ 6,9 milhões, em relação aos R$ 3,1 milhões de 2021, o lucro de R$ 1,1 milhão apurado em 2022 serviu apenas para abater parte dos prejuízos acumulados de R$ 6,2 milhões nos anos anteriores.

A Ewally também apresentou no final do exercício um Patrimônio Líquido Ajustado inferior ao limite mínimo estabelecido pelo BC (Carta Circular no. 3.681/13) em R$ 1.070.845. Mas a Mazars Auditores Independentes, responsável por atestar o balanço, não fez a ressalva por que a Ewally já estaria “avaliando junto ao regulador as ações necessárias para o reenquadramento ao limite mínimo estabelecido.”

Trajetória

Criada em 2012, a Ewally chegou ao mercado em 2014 como uma das primeiras carteiras digitais do País focada em “contribuir para a inclusão financeira dos brasileiros”. A startup aderiu aos programas de aceleração da Artemisia, Oracle Global Cloud Acelerator, BTG Pactual Boost Lab, Scale-up da Endeavor e InovaBra, do Bradesco.

Com a concorrência, acabou pivotando o negócio em 2018 e ficando mais conhecida pelos serviços de BaaS “white label” – uma plataforma para grandes companhias que “querem bancarizar sua base de clientes”.

A licença para atuar como IP veio em outubro do ano passado.

Hoje, a Ewally afirma que oferece mais de 120 APIs flexíveis, como PIX, pagamentos via boleto, recargas de celular e transporte público, dentro de uma estrutura modular personalizável. API é a sigla em inglês para Interface de Programação de Aplicação.

Em entrevista ao site Mergermarkets em 2019, quando negociava os US$ 20 milhões com o Carrefour, o CEO André Cunha revelou que a fintech havia sido inicialmente apoiada pelo conglomerado de serviços financeiros Banco Ourinvest e pela empresa de private equity Rio Bravo Investimentos, que forneceram à Ewally um total de R$ 4,7 milhões por meio de dois contratos de notas conversíveis, um em maio de 2017 (de R$ 1,5 milhão) e outro em julho de 2018 (R$ 3,2 milhões). A Ewally também recebeu um investimento de R$ 700 mil de um investidor anjo não revelado em 2016.